100nada

As mulheres e os 40's

post dedicado à minha querida amiga Ana, porque hoje é o dia a seguir ao último dia em que a melguei o dia inteiro sobre ser o último dia dos trintas 😀

Por mais que o mundo mude, uma das placas na vida de qualquer mulher é aquela que diz, em letras garrafais, 40 ANOS. É verdadeiramente assustador, por mais que se saiba que não é. Mas até lá chegar, mesmo quando estamos no nosso melhor, felizes e contentes, a placa 40 ANOS cresce um bocadinho na nossa, vá, digamos, preocupação. Não, não é bem preocupação, é, enfim, são QUARENTA, é um número assim já a modos que menos leve.

Eu sei, que já por lá passei e até enchi este blog de contagens decrescentes, balanços e mais tralharia vária, como se no dia seguinte me faltasse alguma coisa que ali quisesse que ficasse registada. E, depois de os passar, vou vendo as minhas amigas a chegarem a esse dia e algumas delas (não é o caso da Ana), com alguma apreensão e só me da vontade de rir e de piscar o olho a todas as outras que também já lá estão.

É que 40 anos é, pura e simplesmente, bestial. Não se imagina antes, mas é absolutamente sensacional. Nós, gajas nos quarentas, não somos propriamente as nossas avós que, aos quarenta, já eram nossas avós. Nós somos as gajas que continuam a parecer as netas delas, mas com a outra parte que é a parte gira: já estamos nos quarentas.

Ser uma mulher de 40 anos neste século é excelente, confesso. Somos mais giras, inteligentes, sedutoras e cabras do que alguma vez fomos na vida. Ter 40 anos é isso, é poder ser isso tudo sem nos preocuparmos com o que quer que seja. Somos seguríssimas, estamo-nos bem nas tintas para quem não gosta porque gostamos nós e isso chega e sobra, podemos darmo-nos ao luxo de parecermos miúdas inconsequentes por sabermos que não somos, podemos vestir tudo o que nos passa pela cabeça porque temos idade suficiente para sabermos ser sempre elegantes, podemos dizer tudo o que nos apetece porque sabemos exactamente o que estamos a dizer mesmo que não pareça, enfim, somos absolutamente insuportáveis e terrivelmente devastadoras. É a maturidade, é saber que o tempo é curto e tem que ser gerido e todas as chatices de merda que pudermos meter de lado, já nem nos maçamos com elas, sabemos escolher e escolhemos não nos aborrecermos com merdices e, em vez disso, aproveitar o tempo que temos o melhor possível, o que nos transforma em pessoas muito mais equilibradas e felizes. E podemos partir a loiça toda também, que sabemos que o estrogéneo há-de durar mais uma década e é dar-lhe muito uso antes que se esgote, o que também nos transforma em pessoas muito mais equilibradas e felizes.

Aos quarenta, não temos absolutamente nada a perder. E esse facto cresce em nós. Passamos a ser criaturas que têm tudo a ganhar. Isso é (um inferno para quem está à volta, muitas vezes) fodido. Mas não exercemos esse poder brutal que leva tudo à frente, porque também somos umas queridas. 😉

Muitos parabéns, minha amiga. :)


Inventário ou Todas as desculpas são boas

À conta de uma festa de anos de arromba que está prestes a acontecer e da absoluta necessidade de comprar qualquer coisinha que nem tenho nada que vestir e sapatos muito menos, já cá cantam umas belas doses de vestidinhos e outros trapinhos e umas quantas sandalecas, olé! Já sem falar das idas e vindas e mais almoços de compras e etc e tais e conversetas entre cabines de provas e trocas de coisas, experimenta antes este agora, fica tu com este! É tão bom ser gaja entre amigas. A sério. Não há nada que se compare a uma saída de almoço e compras entre amigas para cair no realismo “ai filha, desculpa lá mas esse sinceramente ficas com umas ancas daqui até Marte” e, ao mesmo tempo, elevar o ego “sim, sim, esse! Tem um decote excelente, vais fazer parar o trânsito!” Estas são as amigas que nós queremos ter, as a quem aplicamos as opiniões mais críticas e mais honestas, e que nos fazem o mesmo a nós.

A que propósito vem isto? Vestinhos e sandálias? Não. Quer dizer, sim, também. E amigas, claro. Mas vem essencialmente a propósito da manutenção da saúde mental à conta da boa disposição que todos os dias me proporcionam as minhas amigas. É coisa de gaja, mesmo, homens nem tentem perceber este post, que só vão conseguir apanhar a parte do “gajedo nas compras”. E não é. Não é de todo. Quer dizer, sim, só um bocadinho. Assim como paisagem. Mote. Mas não é de todo o que eu estou a dizer.


Miudagem.com

Um projecto da Paula Almeida Lapa e da Margarida Ferra, duas bloggers que já andam por aqui há muitos anos. Para os miúdos e pais e mais quem se interesse por coisas sobre a miudagem.

Cada uma de nós tem duas crianças pequenas e cada uma de nós está na blogosfera há uma mão cheia de anos. A Margarida já desistiu do seu babyblogue há muito e a Paula continua mas com o seu cantinho escondido.(…)

Na rede TE, o Miudagem e eu já lá pendurada. :)


Direito de resposta

from:theflyingdutchelephant@averylostisland.com
to: miragem @gmail.com
date: Mon, Jun 23, 2008
subject: Fico na ilha, os túbaros!

Caríssima autora,

Ontem à noite, a caríssima autora, para efeitos literários e sabe-se lá que outros, decidiu deixar-me numa ilha deserta sem qualquer hipótese de saída, à hora a que os ratos já estavam praticamente com um pé em terra. Está tudo muito certo e a caríssima autora faz o que entender das suas personagens, incluindo matá-las cheia de peninha, mas isso não significa que aceitemos o facto sem protesto.

Daí que venho por esta via informá-la que, ou a caríssima autora toma outras medidas e muda imediatamente o rumo à sua história, ou quem o muda sou eu. Ou pensa o quê? Que um elefante se fica assim?! Deve estar habituadinha a que lhe façam as vontades todas, mas comigo fica já a saber que não faz farinha. Eu posso ser um elefante que se deixou ficar em terra, mas hei-de abanar as orelhas até cairem as palmeiras todas, ouviu? E depois, salto em cima dos troncos até os arrasar em tábuas e faço eu mesmo a minha jangada! Percebeu? A ver se nos entendemos: um elefante nunca se fica nem se esquece!

E veja lá se faz alguma coisa com os ratos que andam ali às voltas porque estão todos a remar para o mesmo lado.

Com os melhores cumprimentos

Alciades Loxodonta, sim que tenho nome!


Por morrer um elefante

Deixei os elefantes a pairar aqui e os ratos a chegarem à ilha ali e talvez a história tivesse prosseguido como eventualmente pensei no fim do ano com uma pista feita de tábuas de jangada e elefantes e ratos a ultrapassarem dificuldades de comunicação e conseguirem voar juntos. Mas a vida não é assim, só as histórias e acho que vai morrer um elefante hoje. Tenho muita pena e agora, ainda antes de o escrever, poder-se-ia pensar que haveria ainda esperança e que passava mais um capítulo e outro e outro, com flashbacks e rewinds e a infância dos elefantes e os antecedentes dos ratos mas, por mais que um autor queira, quando um elefante está morto, tem que se respeitar essa morte e (d)escrevê-la da melhor forma possível, para que, ao menos (ao menos!) fique na memória de alguém que leia.

Deixei um elefante sem nome e sem nome agora fica, um elefante cansado mas feliz, por ter encontrado uma ilha com água depois de um voo que começou na segunda circular e depois passou a ponta de Sagres e seguiu sobre o mar, enquanto os amigos pairam sobre a ilha em lamentos fúnebres. É evidente que este elefante não está morto. Tem árvores e água e areia e mar. Uma paisagem magnífica e dizem que o pôr-do-sol é dos melhores. Nada que um elefante não aprecie, não é mal agradecido, podia ser só um calhau. Mas, tivesse sido um calhau e o elefante não se teria entregue sem pensar, não teria picado sobre a ilha sem saber se haveria espaço para levantar de novo, não é? Talvez não quisesse saber, nunca o saberemos, pois a história que conhecemos virá dos que eventualmente terão chegado a algum lado. Quando o deixar ali, quando os outros seguirem caminho, nunca mais se saberá nada daquele elefante.

(e os ratos foram levados para longe por uma súbita maré, ainda se conseguem ouvir daqui, “então não era Ahoy? era! então o que aconteceu afinal? e os elefantes vêm atrás de nós? Ah não. Então Ahoy para outra ilha, rapazes! Sem elefantes, vejam lá se conseguem melhor desta vez!” e talvez um dia apareçam noutro lado, a queimar mais pontes, mas isso fica para depois)

O elefante sem nome reconhece que a paisagem é magnífica e diz aos amigos “escusam de estar aí nessa cantoria, até porque as vossas vozes são péssimas e parece-me que já conseguiram assustar os ratos e tudo. Eu posso ser um elefante que se dá a devaneios e se atira para as coisas sem pensar, mas não nasci ontem; já percebi que não posso levantar voo, sim, escusam de olhar para mim com essas trombas!” e pensou, mas não disse “ao menos calaram-se”. Ficou a olhar para cima e os elefantes a pairarem com as orelhas quase imóveis todos virados para baixo. “Daqui a pouco queixam-se de caimbras nas orelhas e vai chover elefantes aqui na ilha” pensou (mas não disse também). “Vá desandem, do que é que estão à espera? De ficarem sem força nas orelhas? Eu fico bem, pelo menos vou beber umas litradas de água”, e arrependeu-se um bocadinho de ter dito a última parte, mas não podia deixá-los ir sem armar em mete-nojo uma vez que fosse. Irritados, iriam mais depressa, sem grandes despedidas lacrimosas e a verdade é que a sua coragem começava a escassear e o sol quase a por-se.

Os elefantes voadores, que também não eram parvos (e realmente tinham ficado um tudo nada sentidos com aquela falta de consideração pela sua sede), voaram numa última roda. Felizmente não cantaram mais mas largaram um bramido conjunto tal que colocou a jangada dos ratos lá ao longe a andar, de repente, muito mais depressa. Depois fizeram uma fila e ficamos a vê-los a voar sobre o mar direitos ao sol que se está quase a por. Lá muito ao fundo ainda conseguimos ver uma jangada a virar subitamente para o sentido oposto ao do dos elefantes.

Depois, depois não sabemos mais. Não é uma morte rápida, será uma morte lenta. Mas de que serve a água e as árvores e a magnífica paisagem a um elefante que já não pode voar? Suspeita-se, mas só em rumores vagos, que tenha eventualmente decidido abrir um blog sob o nome de “The Flying Dutchelephant”. E que, às vezes, mas só às vezes, um brilho emane daquela ilha, nas noites mais sombrias de todas.




Da fragilidade das nossas ficções

Sempre me pareceu coisa estúpida andar descalça sobre pedaços de vidro. Uma pessoa fica um bocado farta de arrancar cacos dos pés. Prefiro, desde já, enfiar umas botas de sola grossa, pisar o resto que falta e, muito provavelmente, dar umas valentes biqueiradas em qualquer lado. Aviso que, se não querem levar com um caco à toa espetado na testa, é melhor não se meterem à minha frente nos próximos tempos.



Facturar o estrogéneo

Na verdade, o que eu queria mesmo chamar a este post era “facturar a [****]” mas (aquela parte em estrelinhas para não ofender a rapaziada que lê as primeiras linhas dos posts da TE, mas eu já traduzo assim que passarem três linhas, ou se calhar já toda a gente percebeu a ideia e, lá está, a ideia seria a ideia errada porque) depois pensei melhor e não se trata de facturar a cona (olha! como é que esta palavra apareceu aqui? já é a terceira linha? ah, é, tudo fino portanto) e sim o estrogéneo mesmo. O embrulho todo, incluindo o papel e as fitas e os cartazes pendurados “cuidado com a gaja, morde!”

Nós sermos gajas (nós, claro, sendo eu e as minhas fiéis leitoras) e ando com a sensação que nós (nós, claro, sendo eu e as minhas fiéis leitoras mais otárias) não facturamos o estrogéneo nos conformes. Nós, criaturas cerebrais, analisamos ondas e vibrações em medidores de alta contagem e voltagem, estudamos dados, consultamos estatísticas e pares e emitimos pareceres milimétricos gelados. Isto está tudo muito bem para usar a bimby, mas chego à conclusão que, para fogões a vapor, a técnica não serve.

Ele há criaturas descerebradas aos montes que mal sabem onde meter o agá no á e que, no entanto, são exímias no manuseamento e manipulação de fogões através de uma espécie de carburação a estrogéneoe as cerebrais fariam bem em estudar esse método, quanto mais não seja por razões meramente intelectuais. Do que me é dado ver, não parece complicado: consiste, basicamente, em tratar o fogão como se fosse qualquer outra coisa: alternar com umas valentes pancadas e uns vigorosos puxares de lustro, algumas ameaças de devolução (se estiver dentro do prazo) ou de substituição por (uma bimby) um modelo mais cooperante, promessas de o manter (na cave) para sempre, por ser o melhor fogão que jamais apareceu nas montras de electrodomésticos, enfim, coisa muito simples e que qualquer gaja consegue fazer sem grande estudo. E não é que os fogões funcionam mesmo bem?!

E nós a ler os livros de instruções. Tss tss.