Um postal de Natal com um título pouco original
Quando acendi as luzes da árvore, só temos ainda a árvore, uma ilha no meio do caos, tem pouca coisa este ano, mas está bonita não está, filho? Está óptima, não precisa de mais nada, mãe, quando olhei para as luzes, quando olho agora e ignoro tudo o resto, quase apanho esse tal espírito que me escapa, um segundo de serenidade, um momento breve que seja, em que me reconheça, mãos sem unhas cravadas nas palmas, pontapés nos pneus do carro, facas imaginárias espetadas em cérebros. É certo que também me reconheço na fúria e também é verdade que vai tudo à frente, não fosse politicamente incorrecto e diria que vejo tudo vermelho mas esse não é o caminho para a sabedoria e sinto que já nem sei o que é o caminho para onde quer que seja; nem vejo sequer. Mas creio que é por aqui, no silêncio das minhas tangentes, num interruptor que liga umas luzinhas, numa ilha (sempre) no meio do caos, num elefante que bate as orelhas no meio da sala, para espantar todos os (turbanões que vivem nos cabos eléctricos) sem-nome-coisos, mas nomear é dar-lhes mais peso? Escolho que não e escrevo, sem medo? a palavra medos (e encolho-me um bocadinho, desvio-me um nadinha e não me reconheço, vejo-me uma falha, só me admito medos grandes, aranhas e desgostos, esses não contam aqui, estes são de fraco – tropeço noutro calhau e agarro-me ao momento).
- O meu tempo 100nada
- Le ciel me tombe sur la tête
Um postal de Natal surrealista e ninguém liga nenhuma.
Acho que já não vou reativar o meu blogue, se nem à Cat passam cartão quanto mais a mim…