100nada

BD Oubliées

Há uns dias li uma frase e lembrei-me imediatamente de uma BD dos últimos dias da revista Tintin. Fui hoje à procura mas não encontro esses números. Tenho praticamente a colecção toda, feita por mim a partir do 4º ano, semana após semana; e os números anteriores comprados depois, naquelas encadernações da Bertrand do 1 ao 26 e do 27 ao 52 (excepto o 2º ano, que já na altura, e estamos a falar de antes do 25 de Abril, estava esgotado, mas consegui entre heranças e toma lás que fazes colecção).
Enquanto procuro na net, deixo aqui o link de cima, que é excelente.



Em memória

“One of Europe’s most acclaimed contemporary dance companies makes a long-awaited New York debut at The Joyce. Based in Lisbon, this 30-year old company has been called “sensational,” “exhilarating” and “remarkable” by critics throughout Europe. Under the direction of Iracity Cardoso, Ballet Gulbenkian’s repertoire includes works by internationally-renowned choreographers as well as emerging Portuguese artists. Best known for its explosive and dramatic performance style, The London Guardian calls Ballet Gulbenkian “young, vital and handsome.” Don’t miss this rare visit to The Joyce by Portugal’s premiere dance company. “

(Abril 1997, imagem e texto daqui)




cat and bird

Estava mesmo a fechar as portas, quando ele entrou. Nem foi bem voar, vinha aos saltinhos e deu um saltinho para o lado errado da porta. Percebeu logo mas não percebeu que bastava saltar para trás. Esvoaçou por ali e eu a olhar, entre o apalermada e o encantada. Depois escondeu-se num cantinho. Eu disse-lhe
anda cá pequenino
mas ele, claro, não veio.
Fiquei sem saber o que fazer, sem poder fechar nada, sem o poder deixar dentro, sem eu mesma poder ir embora. Ele, muito quietinho no canto, sem se mexer, a fazer-se ainda mais pequenino.

Finalmente fui buscar um espanador e guiei-o até à porta, empurrei-o lá para fora. Ele ainda ficou sem saber onde estava. Depois, abriu as asas, deu um salto para cima (era ainda pequeno) e voou, meio a cair primeiro, depois já direito. Creio que aprendeu num instante.

(mas entre o olhar e o espanador, tirei-lhe uma fotografia)

brd.jpg



Já demos!

Eu fico parva, palavra de honra. Para além de ainda me espantar com a falta de limites da cretinice de algumas pessoas, ainda me espanto pela importância que dão a coisas que são tão absolutamente relativas. Isto agora vem no seguimento de um comentário no post abaixo, de um/uma tal Nini, a falar de concorrência, de eu ter ficado arrasada pela tal concorrência que é muito melhor que eu…tenham juízo, rapaziada. Isto é um blog e eu escrevo porque gosto. Antes de ser aqui era noutros lados, mas é por gosto. Não é a minha profissão, não tenho nada a provar a ninguém, ninguém me paga para tal, não tenho problemas de afirmação para resolver, não preciso de um blog para mostrar que sou boa, porque a minha vida não é isto. Escrevo porque gosto e escrevo aquilo que me der na real gana, ponto final, quem gosta lê, quem não gosta desanda, que é o que eu faço em relação aos outros blogs.

E, pensando melhor na parte da concorrência, que até se poderia colocar em termos profissionais (e que são muito longe da escrita no meu caso), prefiro colocar a coisa em termos de espírito de equipa, colaboração, entreajuda, partilha de dados e conhecimento, enfim, parece-me mais construtivo e tem sido assim que tenho pautado a minha vida. Mas cada um faz como lhe parecer melhor.

(pelo tal comentário, bem se vê que se costuma dizer que as pessoas medem os outros pelas suas próprias bitolas)


A felicidade é um estado estúpido à brava (mas não se pense que cai do céu)

Ah pois. Isto não é vai um tipo na rua, a pensar olha, que rica vida que eu tenho, tá-se memo bem (eu já nem digo o tipo que se rói por ter uma vida de merda) e, de repente, lá dos confins do céu azul ou estrelado ou coisa que o valha, mas coisa mesmo que valha, pimba, aparece atraído pela força da gravidade, um atrelado daqueles dos camiões Tir a abarrotar de felicidade de tal forma que nem fecha, felicidade a cair do céu, primeiro em pozinhos (a parte que vai transbordando do atrelado *) e depois trau, o atrelado todo em cima de um tipo que fica sem saber de que terra é.

Não é que o efeito não seja esse. É. Mas não há comboios de camiões Tir a voarem no céu ao som do heaven, i’m in heaven, and my heart beats so that I can hardly speak and I seem to find the happiness I seek e a despejarem as cargas por terem passado com a roda por cima de um cometa mais saliente. Era bom e a literatura encarrega-se de criar essa ilusão numa data de gente incauta, mas (lamento) não há camiões Tir no firmamento.

A coisa é mais complicada que isso.

Primeiro, para um gajo sentir um atrelado de felicidade a bater-lhe nos cornos, há que querer (como eu já expliquei antes). Isso do querer não é ai quem me dera agora que me caisse em cima um contentor, uma mala de porão, até podia ser um porta-moedas de felicidade, quem me dera, quem me dera, que isso é a mesma coisa que um gajo andar todas as semanas a dizer aos amigos eu se me saísse o euromilhões fazia e acontecia mas por acaso já não meto o boletim desde a primeira semana, porque não me saiu a mim e eu achava que merecia; um gajo para querer tem de querer mesmo. Tem de querer querer, custe o que custar. E essa porra não vai com cantigas: custa e não é pouco, até porque um gajo no fundo tá-se bem e táqueto se arrisca (tá bem abelha, vou mesmo trocar a minha rica vidinha que me corre tão bem por uma coisa qualquer que nem existe se calhar, péra lá que vou ali e já venho). Desculpa-se claro: que tudo isso é invenção, que a vida é mesmo assim, que já se chegou ali e para quê mudar e tal, que não tem vida, idade, feitio, paciência, está tudo tão bem organizado assim.
E, quando muito, de tempos a tempos, mete o boletim do euromilhões naquela, olha, lá vai disto para um filho da mãe qualquer.

E, entretanto, no céu, estão estacionados uma data de camiões Tir com uns letreiros Happiness Inc. pintados em letras fluorescentes dos lados só à espera que um gajo diga: pá, bolas, eu quero um daqueles. Quero e quero mesmo.
Quero tudo.
(e em vez de meter um boletim do euromilhões, agarra em tudo o que tem e entrega **)

(* eu sei que primeiro caía o atrelado e só depois é que caía o pozinho que sobrava, mas troco as leis da gravidade ou lá o que é isso, para efeitos da imagem)

(** ali aquela parte do ‘primeiro, para um gajo (…)‘: esta é o ‘e segundo’)


A felicidade é um estado estúpido à brava (mas sabe tão bem)

Nunca estive tão perto daquilo que não escrevo. Um blog é o oposto da realidade: um gajo nunca chora em público, mas escreve as desgraceiras todas (tá bem, tá bem, não é um gajo, é eu, que chatice, ok, os outros não, mas eu é assim, adiante); e depois, quando os dias são de sol aberto, de imensos sorrisos, um gajo (esse mesmo gajo, sim, eu, caneco!) fica caladinho (para não dar azar).

para não dar azar, uma merda: que ninguém tem nada a ver com isso, é o que é.