100nada

Inquérito: é uma boa dona de casa?

ou, por outra, vocelência, caríssimo(a) leitor(a), teria sucesso como empregada doméstica?

1. Ao encontrar uma cómoda como uma carrada de tralha em cima (por tralha leia-se duzentos e setenta cremes, batons, perfumes, copos com lápis dos olhos e riméis, caixas de lenços de papel, escovas e pentes, colares, anéis e relógios, embalagens de tudo isto que podem ainda servir para alguma coisa, toneladas de amostras de mais cremes e afins e parafernália similar, em tendo que levantar tudo para limpar o pó, vocelência caríssimo(a) leitor(a), arrumaria depois tudo isto:
a) exactamente no lugar oposto
b) tudo encostadinho ao fundo da cómoda
c) no lugar onde estava (ou parecido, caso fosse a primeira vez)
d) exactamente no lugar oposto e encostadinho ao fundo da cómoda

2. Se vocelência, caríssimo(a) leitor(a), estivesse no seu primeiro dia de trabalho como empregada doméstica e lhe dissessem que ali estava uma bacia de roupa para estender e lhe indicassem o estendal, sendo que o estendal estava meio aberto, meio fechado, e a parte fechada, se fosse aberta, ficasse à frente de uma porta, estenderia a roupa:

a) no lado aberto do estendal
b) nos dois lados do estendal
c) enfiava a roupa toda no secador e dobrava depois, sabia lá ela, a empregadora, onde é que teria sido estendida a roupa
d) deixava o lado aberto do estendal vazio, abria o outro e alinhava a roupa toda à frente da anteriormente referida porta

3. Se vocelência carissímo(a) leitor(a), no final das limpezas todas, se encontrasse a mãos com uma data de panos sujos colocava-os:

a) no sítio de onde os tirou
b) no cesto da roupa suja
c) lavava-os e colocava-os a secar (talvez no estendal ou assim)
d) dentro da máquina de lavar e depois fechava a porta da máquina e com sorte, como entretanto a roupa tinha sido toda lavada, talvez fossem encontrados molhados e sujos daqui por uma semana

tenho que interromper o inquérito que ainda me falta encontrar a esfregona, o balde, o aspirador, meia dúzia de pratos, dois tapetes, algumas toalhas e…

espero que a Isaltina (ahahahahahahahahahah! Obrigada por todas as sugestões e ainda não fica escolhido para sempre, mas não resisto a chamar-lhe hoje a sugestão da minha vizinha) não tenha net, caneco…é tudo mentira! Tudo mentira! A casa está num brinquinho!


O regresso (e despedida) da Etelvina

Em Julho passado, tendo eu já desistido de fazer grandes limpezas em casa, não por preguiça mas pelo facto de todos os instrumentos utilizados nessa faina terem como attachement uma criança de quase cinco anos (pois é!) a berrar eu é que faço! eu é que limpo isso!, o que, sendo um bom treino e de pequenino é que se começa e tudo (pensamento que nunca terá ocorrido a certas sogras, mas adiante), não abona nada na parte da eficiência das referidas limpezas, ora como eu ia a dizer, em Julho passado, recrutei os serviços da minha Etelvina, já de pezinho na pré-reforma por invalidez (dores nas costas), durante dois dias. Justiça lhe seja feita, não comentou nada sobre o estado caótico da casa, da invasão do pó, cotão e grãos de arroz cozido já secos, talvez porque todas as superfícies passíveis de serem lavadas com lexívia estivessem impecáveis, que a linha da porcaria tem a sua fronteira nas portas da cozinha e casas de banho.

No primeiro dia, a Etelvina gastou uma hora a beijar e abraçar efusivamente o seu menino, coisa que nos deixou a todos (especialmente a ele) muito felizes (que esta coisa de quem nos cria no primeiro ano deixa marcas para a vida e a Etelvina foi uma avó diária, extremosa e amorosa, cuidadosa e maravilhosa, para o meu filho e isso nem eu nem ele esquecemos).

Mas no segundo dia, tendo também gasto essa hora de beijos e abraços, gastou outra, que começou assim:
Menina Catarina, isto assim não pode ser, a menina precisa de empregada e eu já lhe arranjei uma. Já combinei que ela cá vem amanhã ou depois para se conhecerem e agora não me venha cá dizer que não pode pagar a uma mulher uma tarde por semana, que é quanto é preciso para dar uma limpeza geral na casa e ainda lhe passar a roupa a ferro.

Ó Etelvina, pensei eu: se uma tarde bastava, porque raio não troquei eu de carro em vez de lhe pagar uma fortuna e mais dez tostões para a ter cá todos os dias a fazer sabe Deus o quê; pensei eu, mas não lhe disse nada: em onze ou doze anos nunca a Etelvina tinha posto as mãos no lume por ninguém e agora estava a pôr, pareceu-me coisa para não desperdiçar e a verdade é que a esfregona com o miúdo pendurado no cabo já me andava a moer o juízo à séria.

Conheci a moça (é uma moça) nora de uma vizinha da Etelvina, moça trabalhadora, honesta, séria e baixa (nota: comprar escadote mais alto). Pareceu-me simpática. Não precisamos de organizar grande coisa que a Etelvina, que a trouxe pela mão, depois de fazer as devidas apresentações, lhe mostrou os cantos à casa e lhe explicou que a máquina da roupa tinha o puxador da porta partido (esforço conjunto do meu filho e da minha sobrinha) e o secador tinha o puxador da porta partido (esforço, embora eu esteja em crer que não foi com grande esforço, individual da Etelvina) e mais umas coisas, dizendo sempre que nada daquilo era trabalho árduo e num instante – que é como quem diz, quatro horas por semana – a moça daria conta da lida doméstica (vislumbrei mais uma vez uma, que de outra forma teria sido possível, carrinha Astra, por um canudo).

Tudo isto e mais metade da minha hora de almoço (que também está num canudo, o almoço de hoje) para explicar que a vou iniciar na tal lida daqui por meia hora. Desejem-me felicidades e podem sugerir nomes para a moça.

Resta dizer que a despedida da Etelvina foi chorosa (da parte dela e da minha) e amuada (da parte do meu filho). Ficaram promessas de visitas futuras e ficam todas as recordações que aqui fui exagerando na personagem que construí. A pessoa, essa, guardo-a no meu coração, passe a piroseira da expressão.


Esta porra de ter um blog

Tive de repente a sensação que ou escrevia um post (ou três) ou mandava esta treta às urtigas. Foi uma coisa vaga e, no fundo, o que eu precisava mesmo era de uma boa desculpa para não pendurar mais uma máquina de roupa, deixar as plantas morrerem de vez e ir trabalhar amanhã (sendo esse amanhã uma coisa mais daqui a pouco) com palitos nos olhos e à força de bicas. É sempre bom uma pessoa regressar de férias cheia de olheiras: quando se chega com boa cara, sabe-se lá porque carga de água, somos sempre recebidos com muito má cara. Assim vou com cara de cansaço e, claro, muito mau feitio: não esperem nada de mim, que não estou virada para grandes alegrias. Não é por terem acabado as férias. Não é só, digo. É a cidade a meter-se por mim adentro. Isso é que é o pior.
Tou com sono.



Smile

Smile though your heart is aching

Smile even though it’s breaking

When there are clouds in the sky, you’ll get by

If you smile through your fear and sorrow

Smile and maybe tomorrow

You’ll see the sun come shining through for you


E fui

para mais um dia de férias, este em Lisboa, de voltas e algumas coisas que fazer antes de me pôr a mexer daqui para fora outra vez. Lisboa cheia de gente, de carros, de pó das obras, passei por ela à chegada, nem este meu vago campo à beira da cidade me consola agora. Já estou farta de luzes reflectidas no céu, nunca é escuro-escuro, nunca é silêncio-silêncio, nunca é sossego-sossego. Basta uma semana de árvores para me fazer odiar tudo o que representa uma cidade, estou cada vez mais selvagem, mais afastada, mais longe. E percebo que a criatura volátil em quase tudo (talvez para compensar a fidelidade canina em algumas, poucas, coisas e pessoas) que eu sou, me atira para fora de uma parte daquilo que também fez parte do meu mundo. Não sejas tonta, dizem-me, agora vais escrever um post de fim de blog? Não, não é o fim do blog, mas é o desinteresse total, aquele que reconheci ontem quando cheguei, eu sempre tão ansiosa nos regressos, desta vez nada. Nada, nada me bateu, encolhendo os ombros, picando um ponto de escrita de hábito, enquanto no outro lado, sim, vontade de escrever, imensa, as minhas coisas de vida de mãe, essa vontade sempre, essas coisas sempre; aquilo que sustenta o meu tasco é apenas ter aquele babyblog, onde tudo o que escrevo conta realmente para mim (toda a gente que me conhece sabe disso).
Enfim, é só um desabafo. Está tudo a acabar, de qualquer forma. Su doku killed the blog e não foi só isso. Acho que é a vida ou coisa parecida. Não é que não me apeteça escrever, apetece sempre. Mas há mais coisas, e para escrever também. Vou voltar para as minhas férias, depois hei-de regressar, para as luzes no céu e o pó das obras, para as pessoas de rosto triste das cidades. E para os meus blogs também (encolho os ombros a este, vício vício, desinteresse, coisa sem nada de mim agora ou com muito, post honesto este, encolhendo os ombros, escrevendo na ponta dos dedos, desandando em bicos dos pés).




Em trânsito

Passei em casa e vim ver isto. Daqui a nada estou a levar na cabeça por ser viciada, mas na verdade isto dos blogs, meus amigos, já era: estou a passar férias em Su Doku
(e descobri também um útil site para resolver a coisa quando se complica) e, quando voltar, desconfio bem que me fico pelo mesmo (novo) vício. Adeus blogsfera, gostei muito, agora é 123 456 789, muito mai barato e prático, não é preciso computador nem net nem rede nem linhas nem electricidade, basta um papel e um lápis, umas andorinhas, umas árvores, um relvado com piscina, um cinzeiro, um copo de ice tea, enfim, coisa pouca. Por esta semana é tudo, até daqui a mais duas, que temos uns su dokus novos para resolver e ele está sempre a ganhar-me! Caneco, faz diabólicos e eu ainda nos médios/complicados, sou gaja, é isso…

– és tão tontinha…
– pois sou…


Malas feitas

quer dizer, quase feitas, faltam só umas coisas, poucas. Já não sei o que escreva mais, desligo-me daqui por três semanas; por agora mantenho-me na espera que nunca mais é fim da tarde e no calar dos berros de é hoje é hoje!

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! É hoje, é hoje, caneco! Vou de férias, ohiohai, larailarai, tchibum, férias, férias, férias! Nunca mais é fim da tarde, que coisa!