100nada

E fui

para mais um dia de férias, este em Lisboa, de voltas e algumas coisas que fazer antes de me pôr a mexer daqui para fora outra vez. Lisboa cheia de gente, de carros, de pó das obras, passei por ela à chegada, nem este meu vago campo à beira da cidade me consola agora. Já estou farta de luzes reflectidas no céu, nunca é escuro-escuro, nunca é silêncio-silêncio, nunca é sossego-sossego. Basta uma semana de árvores para me fazer odiar tudo o que representa uma cidade, estou cada vez mais selvagem, mais afastada, mais longe. E percebo que a criatura volátil em quase tudo (talvez para compensar a fidelidade canina em algumas, poucas, coisas e pessoas) que eu sou, me atira para fora de uma parte daquilo que também fez parte do meu mundo. Não sejas tonta, dizem-me, agora vais escrever um post de fim de blog? Não, não é o fim do blog, mas é o desinteresse total, aquele que reconheci ontem quando cheguei, eu sempre tão ansiosa nos regressos, desta vez nada. Nada, nada me bateu, encolhendo os ombros, picando um ponto de escrita de hábito, enquanto no outro lado, sim, vontade de escrever, imensa, as minhas coisas de vida de mãe, essa vontade sempre, essas coisas sempre; aquilo que sustenta o meu tasco é apenas ter aquele babyblog, onde tudo o que escrevo conta realmente para mim (toda a gente que me conhece sabe disso).
Enfim, é só um desabafo. Está tudo a acabar, de qualquer forma. Su doku killed the blog e não foi só isso. Acho que é a vida ou coisa parecida. Não é que não me apeteça escrever, apetece sempre. Mas há mais coisas, e para escrever também. Vou voltar para as minhas férias, depois hei-de regressar, para as luzes no céu e o pó das obras, para as pessoas de rosto triste das cidades. E para os meus blogs também (encolho os ombros a este, vício vício, desinteresse, coisa sem nada de mim agora ou com muito, post honesto este, encolhendo os ombros, escrevendo na ponta dos dedos, desandando em bicos dos pés).

0 thoughts on “E fui

  1. KooKa

    Confesso que já tinha saudades (e muitas) de te ler.
    Volta para as tuas férias, bem mereces. Especialmente nesse teu lugar especial que tantas vezes aqui falas.
    Quanto ao blog. . .logo se vê =)

    Beijinhos.

  2. Moura

    Hummm… não imaginas o quanto me senti acompanhada ao ler este post, sabendo de onde vens tu para escrevê-lo…

  3. Ana R.

    Catarina, que post lindo! É por este e por outros que tanto me desvanece pensar que vou deitar mãos à (nossa) obra, aquela ;)…
    Bom recomeço de férias. Que a vida te aguarde com muitos sorrisos para usares nestes dias ensolarados :)
    Um abraço (ou mesmo dois, que isto da conjugalidade dá direito a dispor com segurança do amplexo alheio)

  4. vanus

    Todas as coisas que somos, somos nós. Mudam-se as prioridades, e isso é bom, estás feliz, viva, e isso é ainda melhor, mas o escuro tem sempre mais sentido quando comparado com a luz, tal como a felicidade dos sorrisos permanentes perde o valor se não for confrontada com uma lágrima e vice-versa; o equilíbrio, quanto a mim, encontra-se sempre no excesso dos opostos e só à postriori.
    É caso para se ter tudo, tudo o que se possa ter, e tu tens, por isso…é apenas um encolher de ombros (faz parte).
    Bom resto de férias :)

  5. Eu

    raramente comento os teus posts. Consciente das minhas limitações na expressão escrita delicio-me com as tuas palavras, mas desta vez tinha mesmo que te dar os parabéns por mais um momento de coragem pública.

  6. ziza

    miúda.. ;))
    interessada ou desinteressada, consegues ser sempre interessante. por isso, dá um xô no choradinho e continua mas é a escrever
    bjinhos, boas férias

  7. Luna

    Mais um belissimo post, assim como o Eu, te dou os parabéns pela coragem, pela força com que escreves

  8. Nilson

    Às vezes damos connosco a repensar as coisas.
    E isso é necessário. Para as continuar, para as eliminar ou para as mudar para um ponto intermédio qualquer.
    Boas férias. Beijinhos.

  9. eduardo

    O que mais se poderá dizer, rapariga? A maior verdade que se conhece actualmente é que a liberdade de se poder acabar com um blog e não ter que dar satisfações a ninguém faz de nós pessoas mais livres.
    E a tua vontade é soberana.

  10. L.G.

    É mesmo… Não tenho nada contra as férias :) mas umas mensagenzinhas não era má ideia. Nem um cibercafé, nem nada?? Para onde raio foste?

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