Uma pessoa arma-se de panos côr de laranja, bordados a ponto cruz nas bainhas e impressos com um desenho de uma chávena de chá a um canto, e ataca o pó sobre as superfícies. Parecendo, não é, porém, tarefa fácil limpar os pós que se acumulam. O pó tem aquela particularidade de flutuar no ar e poisar, como quem não quer a coisa, nas mesmas superfícies. Tarefa repetitiva e inglória, há sempre parte do mesmo e algum novo, esmigalhado e esmifrado em horas passivas de necessárias esperas
não, não é um post sobre domésticas
mas são tarefas domésticas, essas cujos gestos se tornam automáticos, enquanto a concentração se esforça por não deixar escapar canto maculado: o que se deseja é que todas as superfícies brilhem, que espelhem a mão que as limpa à custa de paciência e tempo, muito tempo. É tarefa nobre, a remoção de todo o pó sobre todas as superfícies, é tarefa doméstica pois que a vamos fazendo nas nossas casas, é tarefa limpa, executada com ternura pelas superfícies que queremos livres desse pó que criamos em dias em que tudo aquilo em que tocamos se transforma, sem se saber bem como ou porquê, em pó que julgavamos ter voado pela janela no passado.