Do outro lado da minha mesa estaciona uma fonte de sabedoria e dizeres para quase todas as coisas da vida; e também muito vernáculo de Trás das Fragas – palavras dele – que um gajo, assim nesta espécie de osmose das horas e dos dias, vai apanhando e colando também ao seu discurso. Calha.
Esta fonte de sabedoria contribui muito para que o tempo e as coisas sérias que nos ralam passem melhor com umas gargalhadas, uns épá tem lá calma com essa merda, a solidariedade nos maus momentos, a partilha de umas parvoeiras nas alturas de maior stress.
Discordamos em montes de coisas mas acabamos por concordar em algumas essenciais: nos cigarros que nos permitiram ganhar este espaço, nas atitudes ao menos dorme-se de consciência tranquila, nos berros contra as ineficiências (no mínimo) do sistema. De uma certa forma somos amigos.
Hoje não consigo deixar de pensar numa frase que ouvi muitas vezes em vários contextos e com a qual, discordando, não sou capaz de lhe apontar erros, nesta realidade real:
“cônjuge não é família.”
Por muito que queiramos e nos deixemos levar pelos sentimentos, todos os fios que nos unem não passam de linhas muito frágeis, passíveis de serem cortadas a qualquer momento, bastando para isso exercer o livre arbítrio; ou até meramente por fatalidades externas à nossa vontade:
– na verdade, nada nos une às pessoas senão o sangue e a propriedade.