Há imenso tempo que vou roendo ideias sobre várias coisas relacionadas com os blogs, em especial com os babyblogs (e já escrevi sobre isso).
Hoje, como tenho mais tempo, vou ver se consigo organizar as ideias e referir algumas mesmo desagradáveis. Não é um post que me dê gosto escrever, mas às vezes acontece e tem mesmo de ser.
A net é um sítio muito perigoso. Que não existam ilusões sobre este facto. Não é paranóia, é a verdade absolutamente nua e crua. Neste mundo virtual há a mesma dose de gente má e doida que existe no mundo real: talvez um tudo nada mais informada, mais técnica, mais abonada, mas nem por isso menos mal formada. Mais: o anonimato oferece às pessoas um alargar de limites naquilo que escrevem e que fazem – no mundo real muitas dessas coisas (as menos graves) seriam resolvidas com um par de estalos. Aqui não é possível. Nem sabemos quem são as pessoas. Mas isso é matéria para outro dia: o que está em causa neste post não são os perigos do anonimato, são os perigos da inocência.
No meio deste mundo selvagem cheio de monstros que é a net, existe esta pequena ilha de quase paz e sossego civilizado que é a blogsfera. Há umas discussões, umas pegas, umas flames, mas nada de grave comparado ao resto.
Há dois tipos de bloggers:
Bloggers que já têm experiência de net. Que já andaram por outros lados antes de abrirem blogs. Não falo tanto do IRC, que é também um mundo um bocado agreste, mas com muita miudagem à mistura, uma grande salganhada onde uma das maiores diversões é tentar deitar abaixo os outros pc’s e coisas parvas dessas. Refiro-me mais a grupos de discussão, os newsgroups e outros foruns, onde participam adultos que na vida real têm uma cara civilizada e ali, a coberto do anonimato, fazem as coisas piores do mundo uns aos outros. Sei que quem andou por eles percebe perfeitamente do que estou a falar. Fazem-se as piores coisas do mundo. Não é exagero. Quando a coisa descamba, vale tudo. Como o mundo virtual suscita sentimentos muito intensos e a velocidade relativa do tempo é muito maior, os ódios, quando surgem, são viscerais e extremamente violentos. Perseguem-se as pessoas de todas as formas, incluindo na vida real, com chantagens e ameaças e um terrorismo sinistro que dá cabo das pessoas.
Os bloggers que já passaram e assistiram ou sofreram pressões destas, são bloggers cautelosos. Pelo calo que têm até podem deixar um pouco aquela forma de estar, sempre alerta, porque realmente a blogsfera, comparativamente, é um local paradisíaco de férias. Mas estão atentos e, de alguma forma, acabam por se proteger.
Depois existem os outros bloggers. Abrem um blog porque lhes apetece, debitam a vida toda para dentro do servidor, escrevem tudo e mais alguma coisa, muito inocentemente, protegem-se com um nick mas depois referem onde vivem, o que fazem, quem é a mãe, o pai, o gato, o piriquito, o papagaio, descrevem a rua, o restaurante onde almoçam, a vista da janela, o trabalho, os amigos, metem comentários noutros blogs com ips fixos, trocam emails e fotografias, conversam no msn, dão o nome, o telefone, a morada, enfim: adeus anonimato, só não sabe quem não quiser saber. Tudo e mais alguma coisa sobre a vida inteira desses bloggers.
Nesta categoria de bloggers inocentes e inexperientes, existe uma categoria complicada (e agora é que vem a parte desagradável mesmo): são os (ou mais precisamente ‘as’) babybloggers.
Eu tenho um babyblog há mais de um ano. E muitas dúvidas e indecisões quanto ao facto de o manter. Na realidade poderia escrever tudo aquilo em papel. Mas a verdade é que sou uma desorganizada do pior e nem escrevo e quando escrevo perco. A mesma coisa se aplica a um documento word. Tudo o que escrevi para lá do que está nos meus blogs, à conta de uma formatação ou outra, acabei por perder. Tenho um bocado de pena, claro: perdi as coisas maiores, contos, histórias, coisas que não queria escrever para o ‘público’, ardeu tudo ao longo dos anos, não sou dada a backups. Resta-me a solução de guardar as coisas online e claro, acabam por ser lidas. No caso dos babyblogs é impossível mantê-los em segredo: ou é um site com password, como fizeram os pais da Eva (leiam o post que lá está, que explica tudo muito bem), coisa que não domino, ou então, nem que seja através de pesquisas em googles e afins (que é como vão ter ao meu babyblog mais de metade dos leitores), fica tudo à vista. Daí aos links é um passo e pronto, ali está a nossa vidinha a nu. Do lado do flanco mais frágil, ainda por cima.
Só há uma forma de dar a volta a isto: é não debitar muita informação sobre coisas concretas. É o que eu tento fazer. É evidente que não sou exactamente a blogger mais anónima deste bidé blogsférico português, mas também não é toda a gente que sabe que aquele blog é meu, e lá vou tentando proteger o meu filho dos olhares mais cuscos e indiscretos, cada vez com mais dúvidas e indecisões sobre a minha vontade em manter aquilo (neste momento, mais de metade dos posts estão em draft, só ali guardados à espera do que eu decidir). Não é que a blogsfera seja um sítio de ‘maus’: não é. Mas continua a ser só uma ilha na selva-net. É preciso manter esse facto em perspectiva.
Tudo isto para chegar a uma coisa muito concreta e muito séria (este post vai longo e ainda não almocei): a questão das fotografias dos filhos nos babyblogs. Como se depreenderá do que escrevi para trás, sou absolutamente contra. Eu sei que há pessoas (mães e pais) de quem eu gosto mesmo muito (alguns até conheço pessoalmente e considero-os meus amigos), que não vão gostar de ler isto. Não é nada contra eles e peço desculpa de os incomodar ou magoar, mas isto é a minha opinião. Sou totalmente contra as pics dos miúdos nos blogs. Acho uma atitude irresponsável. Sei que as crianças são um bocado todas iguais, principalmente em bebés e para quem não as conhece pessoalmente, mas com que cara ficariam os pais se vissem essas fotografias em montagens porno, por exemplo? E isso é o mínimo que pode acontecer!
Ontem, a Papoila escreveu um post brutal sobre este assunto. Hoje foi apagado um blog. Não estou nada contente com isto. Mesmo nada. Estou tristíssima, para ser franca.
Mas não posso deixar de lhe dar razão na parte relativa à protecção das crianças e da sua privacidade.