100nada

O tempo é uma merda, mas relativa

Tempo é energia, como tudo o resto. Há uma teoria, ou mais que uma, mas agora não me lembro e sigo para bingo com a minha
[descascando batatas* em modo troll]
[nao tenho que explicar nada e há sempre quem perceba ou não, temos pena]
a minha teoria, ou nem isso, uma pessoa é uma bateria, gostávamos que fosse recarregável e vamos fazer de conta que sim, mas nem vem ao caso, o tempo é um bem escasso. Não é o tempo que se tem, sempre imenso ou nenhum, conforme o uso que se lhe dá, é o tempo que resta.
Pois.
Quando se está a gastar em merdas, não se dá conta, passa. Esvai-se, flutua para outro plano e um gajo tem a ideia cretina que ainda ali está. Faz-se de conta que basta por ao sol, um painel fotovoltaico e fica tudo na mesma, como se ficar tudo na mesma fosse uma coisa boa na generalidade e a energia só servisse para ligar mais do mesmo, é a diferença entre o candeeiro do sofá e a lanterna que ilumina os poucos metros do chão à frente dos pés no meio de uma noite de lua nova e essa até talvez gaste menos
[é por isso que eu gosto da minha cabeça quando escrevo; chego a lados que não chegaria se não fossem escritos]
gasta menos porque não é precisa tanta energia, ou tempo, porque também não é preciso estar tudo iluminado, ou ser tudo temporal.
Há mais coisas.

* se calhar devia ter escrito cenouras, mais apropriado a este tempo


Caos(zinho)

Toda a gente sabe que eu aprecio o caos. Dá chatices, admito, mas há qualquer coisa que me põe aos pulos e a bater palmas quando o circo está prestes a pegar fogo. Quando chega ao ponto do “isto vai dar tanta merda” já estou com um sorriso dos grandes, a esfregar as mãos, a afiar as facas e a puxar das pipocas. Há uma certa glória no caos, tudo a desfazer-se, há ali um potencial dos diabos, uma energia brutal que até pode ser criativa e se não for, é fixe à mesma, muita adrenalina e tudo a passar-se na onda do que se foda e o depois logo se verá. Há abandono no caos, uma loucura bestial, um intervalo nas máscaras e convenções. Toda a gente devia experimentar, pelo menos uma vez na vida.

O caos(zinho) é exactamente o oposto. É um caoszeco manhoso, protagonizado por baratas tontas, feito de palermice que nunca sequer aquece quando mais pegar fogo, porque é sempre sobre qualquer tema menor que não daria merda nem que se esforçasse muito, uma qualquer medicaca sem importância a que os medíocres se agarram. Esse sim, chateia-me e irrita-me e tira-me do sério. É um desperdício total de energia e tempo (“tempo é energia”, eu sei), extravasa para as pessoas que preferiam estar partir a loiça toda e não serve para rigorosamente nada.

É também por isso que cada vez vejo menos notícias.


Elefantes reloaded

Diz-se que nunca se deve voltar aos sítios onde fomos felizes, o que é uma grande cretinice ou saudosismo estúpido, como se fosse mais saudável voltar aos sítios onde fomos infelizes ou indiferentes. Claro que devemos voltar aos sítios onde fomos felizes, desde que existam sempre novos sítios onde também somos e isso tudo. Esta porra até parece um capítulo do Manual de Auto Ajuda e Vida Saudável, entre o capítulo do “o que vestir numa corrida pela marginal ao sábado de manhã” e o das receitas de batidos verdes, de banana, atum, couves e sementes de uma merda qualquer. Mas não, é apenas um prólogo sobre elefantes sob o formato psicocoiso que, trocado em coisas simples quer dizer que até posso escrever mais sobre elefantes (é regressar a um “sítio” feliz) mas não vou reler, porque quero escrever outra coisa que só vou saber o que é quando acabar o texto: por agora, só formigueiro nos dedos e umas vagas ideias ali apanhadas com as toalhas e as cascas de cenoura.

Havia elefantes. E voavam. Este é – sempre – o princípio de tudo. É uma lei imutável do meu universo, mesmo que estejam pregados ao chão. Isso do pregado ao chão é tão relativo, como se um prego ou uma corrente alguma vez tenha prendido o que quer que seja que tenha asas por opção. Só depende disso, da opção, da vontade, de impulsos eléctricos entre células e do uso que se lhes dá. Pode é ser simples ou não, isso é outra coisa sobre a qual não me debruço, embora oiça ao longe (isto do politicamente correcto é uma lavagem ao tal cérebro que acaba por deixar uma nódoa ou duas) as vozes do ah pois tá bem, a liberdade é a do pensamento mas há quem não possa e o caneco, pois há, mas esta tasca é um sítio de exercícios de escrita e não diz ONG em lado nenhum. Adiante.

Deixei lá mais atrás (não reli mas lembro-me) um elefante numa ilha a explicar, sabiamente (ou assim me pareceu na altura) que se estava a transformar em areia, mas era tolo. Podia ser fixe para efeitos literários e apelar à tal melancolia do não-regresso aos lugares onde fomos felizes, mas era tolo à mesma. A auto-mutilação de qualquer pedaço (ainda mais as asas!) é uma estupidez sem limites, um sacrifício em nome de nada senão da peninha que se tem de si mesmo, é patético e merdoso. Este meu elefante ficou ali preso porque quis, ninguém o obrigou. Mais nada. E agora voa, à biqueirada nem que seja, que nesta tasca não se deixa ninguém para trás, como nos filmes de piratas um bocado brutos mas, no fundo, até decentes. Ou há-de voar (ainda está meio coxo de ter ficado com as patas na areia e tal).


Autofocus

(David Bowie rules)

Não tenho grande pica para pegar nos elefantes (são muito pesados, mesmo voadores). E na minha balança de palavras (toda a gente tem, não me fodam) só tenho medidas leves, das que traduzem tudo em algodão das árvores, sim, o que causa alergia, paciência, podia escolher penas mas a verdade é que não são.
Voltei a ouvir os anões dos cabos eléctricos, isso é que é a verdade ou, pelo menos, esta que tem turbanões. Muito ao longe, se calhar hibernam e acordam com o calor, um pouco à laia das formigas de asas, mas sem a crisálida ou de lá de onde as formigas saem. Não interessa, a vida com guerras nos cabos eléctricos é muito mais interessante e acredito que tudo o resto depois apareça, as luzes no céu de verão e, se não criaturas aladas, pelo menos coisas sopradas pelo vento. Um gajo arrancar os pregos com que se pregou ao chão da realidade sem grande escrita e ainda mais pesar letrinha por letrinha não é pêra doce. Então para que insistes? Diz-me a alter voz (essa sempre cá, boa noite senhores ouvintes) porque sou teimosa, é mais ou menos isso e focada (não se riam, ainda não acabei a frase) quando decido que quero alguma coisa. Focada, enfim (lá vem o disclaimer, tinha que ser) na onda também me distraio mas quando me lembro, vá, não é quando, é mais deixo-me ou obrigo-me (conforme) e insisto. Só lá vai assim, um bocado arrancado.
E entretanto queria escrever sobre ter um satélite apontado para mim, pareceu-me uma boa ideia na senda das luzes no céu e agora perdi-me. Deixo para os dias de 30 graus que estão cada vez mais perto.


Objectos ou outras grandezas incorpóreas

Quase aposto que há uma teoria em física ou outra ciência que equilibre velocidades. Uma data de letrinhas que dizem que duas velocidades opostas têm que encontrar um ponto onde estão exactamente na mesma. Não, não são comboios que saem de Lisboa e do Porto e se encontram no quilômetro igual a [inserir fórmula], são velocidades opostas ou vá, diversas, no mesmo objecto. Temos o objecto A que, simultaneamente, vai a uma velocidade X e a uma velocidade Y, sendo que X é, por exemplo, igual a 1.000.000.000 Y. Ou mais. Como um objecto, digo eu, leiga, não costuma (“costuma” aqui usado por prudência) ter duas velocidades, haverá um ponto, Z, que é o ponto possível de equilíbrio para que o objecto aparente normalidade.
O que eu defendo aqui é que Z é um ponto estático e, para se conseguir manter, X e Y, as variáveis, têm que ser inversamente proporcionais.
Uma merda, portanto.


No semáforo vermelho – verde – amarelo – vermelho – verde …

Estão uns palhaços, com coletes fluorescentes e umas letras atrás que eu nem vejo de fúria e outros tantos fardados, tudo ali pelo meio do cruzamento que não é pequeno. À hora de ponta, a pintar quadrados amarelos no chão, ao som das buzinas. Mais de meia hora uma avenida que se faz em dois minutos. Esta cidade é uma anedota. Andamos pelas redes sociais a apelar a votos para a melhor cidade do planeta, o melhor país da galáxia, vinde turistas, isto é tudo bestial, tão bonito, o rio e a luz e o caneco, os restaurantes, o vinho, as pessoas tão simpáticas para quem vem de fora, andamos a exportar o país e o seu maravilhoso sol e pintam riscos amarelos no chão dos cruzamentos à hora de quem tem que ali passar para ir trabalhar.

É, isto é mesmo fixe para quem vem de férias e anda fora das horas onde andam as pessoas que cá vivem. E andam uns atrasados mentais a planear estas merdas, pintar riscos a horas mal escolhidas, organizar novas formas para o trânsito que até andava bem passar a ser um caos, enfim, as famosas ideias para o país. Só faltam mesmo mais rotundas.


No semáforo vermelho

Estão uns tipos de uma instituição a pedir (para uma ambulância), com uns papéis nas mãos, depreendo que sejam rifas. Vários, pelo meio das filas paradas. Vá lá, uma ajudinha, é para uma ambulância e acho horrível fechar-lhes a janela na cara, se uma pessoa não quer dar, pelo menos merecem uma resposta, lamento, não tenho, vá lá toda a gente tem qualquer coisinha e eu mas não tenho agora aqui (no meu egoísmo e depois pode abrir o semáforo enquanto vasculho a carteira e tenho o chato atrás a apitar). O semáforo quase a mudar e eu a pensar ninguém deu, ninguém deu! Coitados e já estou fazer um filme e a escrever um post mental: um deles tira o boné e baixa a cabeça, ninguém deu, derrotados, um esforço inglório para uma boa causa, uma ambulância, eu já com o peso na consciência eles de cara fechada e de repente
Uma cara simpática à janela e uma mão a apontar para o meu espelho retrovisor e a senhora tem aí teias de aranha, já viu? E vai pela rua abaixo a rir e o trânsito recomeça e penso ninguém deu, eu também não mas ainda assim têm disponibilidade para fazer graças.


Velocidade tablet

Tem sido velocidade tablet, teclado virtual, mais lento.
É por isso que um teclado normal faz toda a diferença. (como o blog de outra cor, também faz diferença, só quem escreve é que entende; que uma escrita em branco não é a mesma que em fundo escuro, é outro tom)
Lento, às vezes um bocado lerdo até. Para contrapor a adrenalina ou para meter para dentro.

Parada num semáforo, não sei de que cor é.


Um risco aqui

(Sou uma básica nos meus gostos) e gosto daquelas portas que estão por todo o lado, da banda desenhada à torre do King. De um lado é porta plantada no meio de qualquer coisa que continua do lado de lá de fora da porta. Do outro lado é a mesma qualquer coisa. É uma imagem firme, uma porta sem mais nada, está ali e chega. Sim, claro que toda a gente sabe que abrindo a porta (e cumprindo uma data de requisitos e pagando preços em riscos de vida e/ou alma, obviamente, que isso nunca são favas contadas) o que está do lado de lá da porta aberta é outra qualquer coisa completamente diferente (que mete sempre monstros e, com sorte, armas fixes). Adiante, essa parte da porta aberta é já muito descrita na literatura e aqui só se tratam temas menores, no caso, a porta fechada.
É a porta estar fechada que me interessa, por poder abrir-se e depois haver outra história. Parece pouco e até é, vá, mas eu avisei “temas menores”, não calha ir matar monstros com armas fixes já depois da parte complicada e difícil da passagem, não calha porque posso não ter feitio, ou ser um dia apropriado ou posso, simplesmente, ter a sopa ao lume e não dar. Mas haver a possibilidade chega e é firme. Ter possibilidades é o que causa haver chão, de outra forma seria cair num vazio da mesma qualquer coisa onde não haveriam, não saídas, isso de usar portas como saídas não cumpre os requisitos, não haveriam
mundos paralelos?
universos paralelos?
Nada disso, “temas menores” aqui.
Não haveriam inícios.


Choupos e agapantos, é quase verão

Tenho duzentas mil fotografias do choupal tiradas de baixo para cima. Parecem todas iguais mas talvez só se fosse possível ver as duzentas mil ao mesmo tempo conseguisse apanhar os choupos como os vejo no segundo em que paro e olho para cima. Mesmo assim, duvido. Fica a faltar tudo, todos os silêncios que se ouvem à volta, o silêncio das folhas a voar, o silêncio dos cães parados à minha espera, o silêncio dos agapantos a crescer até ao fim do verão, quando se ouvirá a minha tesoura de podar ao sol do fim da tarde.
Quando olho para cima vejo esse eterno verão e as minhas horas de “vou aos agapantos”, essas horas de reflexão, de balanços, de guardar memórias e deitar lixo fora para os montes que vou fazendo. De me contar histórias.

Há paisagens. E depois há sítios que trazemos sempre porque lá deixámos pedaços de nós.