A anestesia do horror
Há uma espécie de indiferença. Há realmente e eu não sei porquê. Talvez por começar a ficar estabelecido que o que é agora políticamente correcto é, em vez de mostrar lágrimas, dizer, bom mas eu até tenho a lista da mercearia para tratar e tenho muita pena dos meninos mas não posso fazer nada e como não posso fazer nada, também me ficaria mal ter pena, ou coisa parecida.
E assim lá vamos indo, acusando-nos todos uns aos outros, de hipócritas a quem confessa a sua dor a indiferentes a quem olha para o outro lado.
Ora eu estou-me nas tintas para a minha análise ali de cima, embora me pareça que é o que se passa. Assim em termos largos e simples.
Eu também sofro da anestesia do horror. Isso não me impede de sentir uma coisa horrível que não tem nome, uma espécie de mistura de dor e tristeza e raiva e desânimo e de impotência e de uma data de coisas que são todas tristes e tristes é palavra pouca para uma coisa assim. E não me interessa que amanhã sejam estes os terroristas de hoje e não me interessa que amanhã eu tenha de ir à mercearia e tratar da minha vida e não me interessa se me sinto envergonhada; envergonhada por ter a minha vida tão pacata e envergonhada (mais uma palavra pouca, mas é a que se arranja) envergonhada por pertencer a um mundo que é assim. E envergonhada por não poder fazer nada para o mudar. Nem sei como é que se começa, mas eu faço o meu lado: educo o meu filho para ser civilizado. Para ser uma pessoa de bem. É pouco, não é quase nada. E todas as noites penso: tenho uma puta de uma sorte que nem sei se mereço. Também nada disto que escrevo faz sentido, mas nada do que vi fez sentido, nada.
Não se pode matar crianças. Sejam elas quais forem. Seja onde for. Valem todas o mesmo, cada uma delas é o mundo, o nosso futuro. E eu não quero um mundo onde se continuem a matar crianças. Alguém me diga onde é que se assina e o que é que se faz depois para mudar esta merda de uma vez por todas.
- Quero acreditar
- Estou cansada
Catarina,
Eu tinha prometido a mim mesma que não falaria neste assunto aqui no blog. Sabes porquê? Porque doi, doem aquelas imagens, doi imaginar o que passou, doi imaginar que podia ter sido na escola do meu filho e doi sobretudo saber que somos impotentes para resolver situações daquelas. Doi saber que só nos resta a revolta.
(Por tudo isto, continuo na anestesia do horror, não sei se é o correcto mas não consigo ir mais longe…)
Também eu, Robina. Também eu isso tudo que escreveste. Mas tinha de escrever. Não consigo pensar em mais nada.
Tens de conseguir, temos de conseguir ou estaremos a um passo da demência. Sabes rezar?
Sei. E é o que tenho feito.
É a única forma.
E agora, vá lá, quero ver um sorrizinho
olha já sei pensa nas diabruras do rebento, na última malandrice dele e vais ver que esse sorriso aparece 😉
Uma luz
Em memória de todas as vítimas de massacres, em memória de todos os que morreram no cumprimento do seu ofício servindo os outros, em memória de nós. Adenda: “A anestesia do horror Há uma espécie de indiferença. Há realmente e…
Beijo, Robina.
Beijo, vou ter agora com o Robin e com o Robinzinho, até amanhã
Contra a puta da indiferença
É a segunda vez que penduro uma imagem a abrir o blogue. Usei a ideia do Ânimo, que eu saiba o blogo-pioneiro da memória das vítimas de Beslan, Ossétia do Norte, Rússia, Europa. Contra a anestesia do terror dou as…
Catarina, todos os dias se matam crianças. Olha para as de África que conheces melhor do que eu e que nascem com sida porque… pois porque a ‘nossa’ religião assim o dita. E etc, etc, etc.
E sabemos que matam muitos mais que em atentados terroristas.
Hoje só não está na moda falar delas. Um dia algo acontecerá e serão notícia e então voltaremos ao mesmo. Para depois passar ao assunto seguinte.
Catarina, eu, a 70 dias de ser pai, nem fui capaz de colocar fosse o que fosse sobre o que se passou na Rússia, no blog…doi, mete medo, e faz-nos sentir como se o mundo estivesse louco…e não está? Na Rússia, no Iraque, no Sudão, na China…que mundo é este?
É tão triste… Não tenho palavras… Também quero um mundo desses, daqueles em que não se matam crianças. Daqueles em que não se matam pessoas em prol de interesses económicos, políticos, religiosos ou sejam eles quais forem… Só me apetece dizer uma asneira! Fica no meu pensamento este amargo de boca
Perguntava-te(me) ainda há pouco porquê.
Porquê tanto horror. Porquê tanta dor. Porquê tanta barbárie.
Não consigo perceber aquele que depois diz “Juro por Alá que não disparei. Eu gosto de crianças. Eu tambem tenho filhos.” mas o que queria mesmo perceber era porquê.
Reagimos conforme as imagens que recebemos, ainda há dias dezenas de criaças perecerem numa escola do Afeganistão, vítimas de um ataque terrorista. Como a única imagem transmitida foi a de uma casa destruída ninguém fez o menor comentário. É, efectivamente, a banalização do terror.
Eu ainda não consigo ficar anestesiada por isso nao vejo as notícias há anos, principalmente desde que o meu filho nasceu… O psicólogo diz que tenho tendência para neurotizar a ansiedade e que tenho que ser mais forte, ver e dessensiblizar, mas não consigo
Sei das notícias mas recuso-me a vê-las. Gostei da tua sinceridade como sempre, querida Cat. Ja tinha saudades tuas.
Infelizmente, Catarina, não há mesmo onde assinar…
A vida continua, não há alternativa. Bom, talvez uma pessoa se possa mudar para um abrigo nuclear e ficar para ali sossegado. O mundo é um lugar perigoso mesmo, mas não lhe podemos fugir e mudar isto infelizmente não está ao nosso alcançe. Tudo o que podemos escrever parece ridiculo e talvez seja, mas ainda é o que podemos fazer.
Olha uma coisa que me chocou imenso também foi ouvir hoje de manhã na rádio que todos os anos centenas de crianças são abandonadas nos serviços de pediatria dos hospitais portugueses (na sua maioria recém-nascidos e vítimas de maus tratos). Sempre gostava de saber o que acontece a estas pobres crianças vítimas de uma sociedade hipócrita e deslumbrada com os novos senhores da silly season… Beijinhos duma mãe chocada.
Porque se morre assim? Porque se mata assim? Porque se chacina assim? Contabilidades que a fé que não tenho dificilmente perceberá…
Serão as lágrimas a regressar sempre aquela escola…
o nosso mui estimável governo entendeu por bem alhear-se da ajuda humanitária…
Sobram-nos as bandeiras.
Caros amigos,
Vim aqui parar por mero acaso.. Através de blogs e blogs… e blogs de uns prós outros.
Gostava que prestassem (é assim que se escreve?) atenção ao seguinte filme: Trues and Lies of 9/11 de Michael Ruppert.
Saquem na net ou se quiserem peçam-me que prontamente vos enviarei uma cópia em divx.
É importante começar a perceber porque se matam pessoas. É mais importante perceber a agenda dos média e os porquês das coisas.
A pequena fracção de coisas a que vocês se interrogam, têm de facto muita razão de ser e provocam horror. Mas não são nada de novo neste mundo e nunca deixarão de ser enquanto existir entre nós (população) pouco conhecimento real do mundo da alta finança, do interesse economico e da new world order.
Caminha-se para um mundo dominado pelas empresas e em que as atrocidades de que se fala são (infelizmente) distracções e manipulação da opinião pública.
Outras leitura poderão sempre ser importantes: The Grand Chessboard – Escrito por um senhor com um nome muito complicado, mas que esteve e está ligado ao governo dos eua e que decidiu por preto no branco a geoestratégia dos EUA. Escusado será dizer que fala no “império” e de que formas poderá este ser formado e qual as melhores formas para manter a população calma, continuando a pagar os impostos e unidos com os governos na luta contra “o terrorismo” – A Causa Única.
Indispensável e escrito em 45 – mil novencentos e noventa e quatro. – Obra de expressão pólitica de uso e abuso obrigatório.
Só queria acabar por dizer, por favor… por favor não deixem de ver este video ou algumas das coisas do michael moore, embora este ultimo só toque ao de leve na realidade global e seja tudo um bocado “a brincar”.
Por outro lado, podem sempre lamentar os consecutivos e sucessivos massacres que vão dando na televisão internacional, sentados em casa e continuando sem perceber “porque é que isto se passa”
Obrigado.
Rodrigo Pitta
P.S. – Não queria de forma nenhuma ser grosseiro ao apresentar a minha opinião. Mas teria todo o gosto em que mais pessoas, talvez até mais lúcidas do que eu, consigam ter acesso à maior atrocidade que realmente se passa – A manipulação da cabeça dos cidadãos.
Muito obrigada pela sua opinião. A minha é diametralmente oposta: a manipulação da cabeça dos cidadãos é exactamente fazer crer que há uma justificação para um massacre desta natureza. Não há. Razões políticas, económicas, sociais, o que quiser, podem ser invocadas; mas não servem, não me servem. Matar uma criança é de psicopata. Mais nada. O ‘porquê’ aqui questionado é isso mesmo: não havendo nenhuma justificação para usar crianças, não cabe naquilo que faz de uma criatura um ser humano.
Quanto ao Michael Moore, é um realizador que põe a sua mestria profissional ao serviço da manipulação da cabeça dos cidadãos…mas isto é a minha opinião.
Obrigada pela visita.
Obrigado eu por me ter prontamente dado um feedback.
Em resposta ao que me respondeu:
Concerteza que sim.
É exactamente sobre isso que se trata a manipulação. A agenda é tão brutal, as verdades são tão crueis, que dificilmente qualquer um de nós acreditaria nas razões que estão por detrás destes acontecimentos, ditos lunáticos.
Obrigado.