100nada

Quero acreditar

que seja pelo choque do horror, Paulo, e não por diferentes pesos e medidas.

Tá bem, tá bem, acabei de escrever uma grande ingenuidade. É uma tristeza, realmente.

0 thoughts on “Quero acreditar

  1. catarina

    Porque é que é uma ingenuidade? Porque realmente há pesos e medidas nas coisas que se noticiam. Há correntes e ideologias políticas. Há causas que estão na moda e outras que não estão. Há uns que são tadinhos e outros que são filhos da puta, embora se matem todos uns aos outros.

  2. duende

    Na minha modesta opinião, há cansaço. E com ele vem a apatia, a ‘indiferença’ travestida porque no fundo o horror continua em nós. Esse é para mim, o verdadeiro sucesso do terrorismo. Quantos mais atentados, melhor. As pessoas cansam-se facilmente. Habituam-se. Acomodam-se.

  3. Paulo

    Cara catarina, caro duende: não quis usar isso nos meus textos mas admito que parte da apatia generalizada face à barbárie de Beslan vêm de facto da banalização do terror. Uma parte.

    Já isso ser sinal de sucesso do terrorismo… tenho dúvidas. O terrorismo usa a morte e o horror para escandalizar a opinião pública mundial chamando assim a atenção para as suaa “causas”. Com o hábito perdemos é a capacidade de indignação.

    O pior — e para isso quis chamar a atenção — é, como sublinhou a catarina, umas causas tornarem-se moda e outras não. O sofrimento alheio não pode ser uma simples causa. Ou bem que reagimos, ou bem que não reagimos.

  4. duende

    Mas reagimos a quê, Paulo? Ao que nos dado todos os dias nos media? E o resto? O que não é mediático? E o que quando deixa de ser mediático, some-se do nosso pensamento como se nunca tivesse existido. Ou, vamos lá, lembramos de quando em quando. Costumo sempre recordar Serra Leoa nestes casos. Não foi terrorrismo, ok. Não foi? Sabemos que não foi mediático. E que metade deste mundo nem sequer sabe onde fica Serra Leoa quanto mais saber o que por lá se passou. E tantos, tantos outros.

    Berramos porquê? Porque está ali quando jantamos. Nada mais.

    Peço desculpa, mas é isso mesmo que sinto.

  5. jose carlos silva

    A indiferença localiza a psicose: mata antes de ser morto.
    A grande ilusão só agora estaciona nos limites do concebível e o horror de Kurtz e de Conrad entra pelas nossas casas incomodando o nosso superfluo bem-estar. O mandamento cristão “amai-vos uns aos outros” transforma-se no iconofráfico “matem-se uns aos outros”. É a irrupção, passados cem anos, do vatícinio do anti-cristo intuido pelo bigodes de Röcken e da gratuitidade roskalnikoviniana. Será possível. Ninguém escapa e tanatos toma o poder.