(nota prévia: aqueles asteriscos ali em cima não são causados por qualquer alteração à linha editorial deste blog: continua a ser um tasco, respeitando a linguagem mais apropriada aqui à malta que se encosta ao balcão, enquanto sirvo copos de três e bicas com cheirinhos, cervejolas e bifanas no pão; no entanto, a porra – acho que já fica por baixo do more esta parte, portanto posso espairecer agora – do título aparece ali na primeira página da TE, ora convenhamos que a restante e mais respeitável rapaziada não tem que levar com o meu vernáculo logo assim à cabeça.)
o António Dias celebrou ontem um ano de Marketing de Busca, um blog dos respeitáveis, quer na pessoa do António, quer no tema e na seriedade com que o António vai abordando todos aqueles assuntos. E celebrou-o sob uma forma muito curiosa: respondendo ao Meme Eureka – ideias para as entradas: onde se encontra inspiração para os posts?
Tudo isto estaria muito bem se lá para o fim, na parte do passa-o-meme, não estivesse uma surpreendente pergunta aqui à minha humilde pessoa: como caneco (ele não escreveu caneco, escrevo eu agora) arranjo eu inspiração para os meus posts? Boa pergunta, mas tramada como tudo! Há quase cinco anos a escrever nesta coisa e estou pra saber eu mesma.
Onde é que um gajo arranja inspiração para escrever? Pááááá…acho que, em parte é no disco de memória que temos. E em parte é deixar que uma parte nossa (eu digo nossa, mas isto sou eu, é a minha forma) esteja à solta a fazer associações. Que não tenham nada a ver, de preferência, porque isso dá post. Aliás: *tudo* (num formato 100nada) dá post.Tudo. É a perspectiva com que se olha para as coisas que depois faz com que o post seja lido e tenha (cof cof) algum sucesso, vá.
Dou uns exemplos práticos disto: quando escrevi em cima que isto era um tasco que servia bifanas, imediatamente a parte à solta da minha memória se lembrou ali de um tipo que servia bifanas com imenso sucesso: aquilo era sempre a aviar bifanas, uma alegria. Mas a rapaziada que se juntava naquele quiosque de rua não ia lá para a bifana: ia lá para a cerveja do fim de tarde e dois dedos de conversa. Pois o gajo, espertíssimo, ia servindo as cervejas e, de vez em quando, passava o molho das bifanas pelo grelhador. Assim como quem não quer a coisa, volta e meia despejava um bocado de molho naquela superfície quente. O cheiro (e o efeito) era absolutamente devastador. Nem um minuto passava, alguém de repente percebia que estava com uma vontade doida de comer uma bifana (eu sei muito bem que me aconteceu a mim e, só depois de comentar aquela fome súbita, é que me explicaram o truque).
Isto foi um post (neste caso sub-post) sobre bifanas e técnicas de venda. Seguinte.
Quando escrevi “à cabeça” ocorreu-me escrever “bullet”. Ora uma comissão bullet é uma comissão paga à cabeça. Imagine-se um tipo que pede 1 milhão de euros de empréstimo. Se tiver que pagar uma comissão à cabeça, nem sequer recebe o milhão (mas vai ter que o pagar, claro, em suaves prestações de capital mais juros e mais umas quantas alcavalas que aparecem lá pelo meio): recebe o milhão menos a comissão. Bullet. À cabeça. Como quem diz, levas já um tiro nos cornos que é para veres que não estamos a brincar e isto não é a santa casa.
Isto foi um sub-post de análise semântico-financeira.
Toda esta conversa para explicar que, num blog generalista (mas também já sei que em temáticos acaba por ser a mesma coisa), tudo pode dar um post. Tudo serve de fonte de inspiração. O semáforo. A conversa da mesa ao lado. O email estúpido que se recebeu. O cocó do cão. A amiga que telefona lavada em lágrimas. As amêndoas de Páscoa da Confeitaria da Ajuda. O tipo bronco que não percebe o que se lhe diz. Todas as coisas que vemos. E todas as coisas que sentimos, desde o cheiro do molho das bifanas até à música que se ouviu no rádio do carro e que lembra um dia em que iadaiadaiada. Claro, ser uma matraca, não parar de falar, também ajuda. E, quando falta tudo isto, inventa-se uma merda qualquer, mesmo que seja a mais absurda do mundo.
Como tudo na vida, a prática vai fazendo o blogger, claro. Há uns dias, no SL, numa situação “social” uma amiga disse-me “Bolas mas tu só pensas no blog!?”, isto depois de ter ouvido duzentas mil vezes “Boa! Isso dá post, tira notas!” É um bocado assim: uma pessoa olhar para o mundo (seja ele qual for) sob a forma escrita. Agora não sei se é só prática, que eu sempre o vi muito sob essa forma e sempre escrevi – com muito edit e delete – as minhas histórias na minha cabeça. Desde o tempo em que imaginava coisas como “eu sou a princesa e tenho um vestido cor de rosa, não espera, azul com umas rendas brancas, não! fica melhor verde, se calhar e agora vem aí o monstro com três patas e que cospe fogo, não, tem cinco patas e atira raios, hum, talvez dois monstros para o príncipe ter mais trabalho, afinal eu não sou uma princesa qualquer” 😉
Normal? Se serei normal. Posso escrever uma coisa muito séria? Não sei. Acho que tenho imaginação a mais. E, por vezes, porque a imaginação não é só sobre coisas positivas, tenho os piores pesadelos acordados que existem. Os piores mesmo. E nessas alturas, sinceramente, preferia ser um bocadinho mais normal. Mas em vez disso, tenho um blog. Ou dois ou três. Provavelmente poupei rios de (eu não acredito que ia escrever lindens agora! Não acredito!) euros em terapias. Mas como eu acho que arrumo a minha cabeça sozinha, também não me preocupa muito. E, se estiver um bocado desarrumada, melhor! Dá (mais) posts!
Bolas. Será que respondi alguma coisa? Mas o meme, passo-o a quem eu tenho curiosidade de saber de onde vai buscar o que escreve (quer dizer, não tenho nenhuma que eu sei de onde, conheço as pessoas, ou mais ou menos imagino, mas se tenho que o passar a cinco pessoas, passo, isto por ser para o António, aviso já, que eu nunca passo nada destas correntes!):
À Vieira, à Clara, à Cristina, à aNa e à Mlee. Vá, confessem lá, minhas queridas, de onde é que aparecem todas essas coisas que escrevem. E façam como eu: se não querem divulgar mesmo o segredo, inventem uma merda qualquer. 😀