(imagem daqui)
Percebo que se tenda para o zero. Tem piada isto. Cada vez que penso nisso, penso – acho que já escrevi isto, mas a malta com a idade tende a ficar repetitiva – naquelas telas brancas (ou pretas, ou amarelas, ou verdes, reparem não escrevo vermelho, mas isso é uma questão de bola que não vem aqui agora ao caso)
eu acho que não fica lá muito bem os travessões e depois os parênteses, isto em duas linhas, mas estou cansada e quem achar que faz melhor, pois esteja à vontade, que eu vou continuar o meu post
não tenho visto nada nos semáforos senão gente a atravessar-se com eles vermelhos para os peões, acho que a pré-primavera causa uma espécie de death wish nos transeuntes
naquelas telas brancas (vou escolher o branco para ilustrar a minha imagem, gosto mais, é mais vazio, sim, ausência de cor, eu chego lá) que supostamente são o culminar da carreira de um pintor que pinte telas brancas. Estou a vê-las daqui, ainda cheias de casinhas e vacas malhadas e comboios a vapor lá ao fundo, uns chapéus de flores de pano, lá no fundo do tempo, ainda de faculdade talvez e depois, os anos a passarem e ir desaparecendo o comboio e as vacas e passarem a ser malhadas as casas e os chapéus já misturados e
decidi agora que as flores de pano são brancas e, no fundo, crescem nas pinturas ao longo do tempo. Já só há mesmo flores de pano e no fim, no último quadro, antes da fama ou já depois dela, já não existe senão pano, tela branca. Tudo o resto, as flores de pano, as vacas e os comboios e as margaridas e papoilas e a estação que nem se vê mas que se adivinha e as pessoas que olham para os relógios e as outras que atravessam ruas à frente dos carros por estarem em cima dos horários e depois o próximo só daqui a uma hora, tudo isso ainda dentro do pintor que olha para o seu quadro de pano branco esticado numas madeiras com uns agrafos.
É assim que eu olho para o que (não) escrevo. (e repare-se que o quadrinho inicial não era nenhuma coisa do além, mas eu essa parte na boa)