100nada

Siga (pela Pimenteira abaixo)

E lá sigo eu, pela Pimenteira abaixo, coisa que nem faço; mas lembro-me que a Radial de Benfica ontem esteve fechada e sigo, pela Pimenteira abaixo e não me lembro na altura mas lembro-me agora, antigamente seguia pela Pimenteira baixo (ok, vamos supor que a Pimenteira é aquela estrada que desce na fila da direita para a ponte e, na da esquerda, para Monsanto, Serafina, Av. Ceuta ou Praça de Espanha/Eixo Norte Sul; porque se não for, esta Pimenteira que estou a referir é essa) em fila, na faixa da esquerda e via sempre aquela casa naquela ilha lá em baixo, rodeada de vias rápidas e quase que acreditava que teria cabras, vacas e uma horta: e, se calhar, tem. Ou se calhar já nem está lá, como digo, é coisa que não faço muito, descer a Pimenteira.

(um dia desci a Pimenteira vinda do after-hours do coiso que fica abaixo do Plateau, como é que se chama aquela porra? E não me perguntem como raio é que desci a Pimenteira se já estava em Alcântara, que não era eu que ia a guiar. Eram, quê? oito da manhã de sábado? E aquela merda em fila para a Caparica, eu bem digo, inacreditável, um gajo sem dormir e com vodka demais no sangue ou vice versa e a alucinar com uma fila de pára-arranca de famílias ao sábado de manhã para a Caparica. Chegámos ao Meco, mas comprámos antes um guarda sol naquela curva onde se vendiam guarda-sóis e havia um sofá para as putas descansarem entre clientes, estacionámos o guarda-sol a meio da praia vazia e ferrámos a dormir, cheios de casacos que estava um cabrão de um frio de morte). Quando acordámos, às 2 da tarde, cheios de calor e sede e areia, tínhamos uma clareira à volta que ninguém se tinha querido chegar àquelas criaturas esquisitóides: levantámos a cabeça e ouvimos um coro de “são vocês???” e já não me lembro bem do resto que só devo ter ligado os neurónios depois de uns quantos guronzans e uma saladinha de polvo ou assim. Mas não me lembrei disso de manhã, hoje, só agora e adiante que já estou na curva lá mais abaixo e)

a curva estava cheia de terra nas bermas, já varrida ou limpa ou o que tenha sido, que o monte veio por ali abaixo e esta cidade está colada com cuspo, fui eu a pensar por ali fora, basta chover um bocado e vai tudo abaixo, isto realmente é um país do outro mundo mas entretanto cheguei a semáforo e estava vermelho.

E foi nessa altura que vi o homem. Ok, não me digam nada que provavelmente a Serafina é tudo gente civilizadíssima, do melhor que há, gente boa e honesta e tudo o mais e também deve haver desses (mas como temos uma tia que foi freira lá – agora não é lá, nem é freira, reformou-se das duas coisas e dizia sempre “quando cá vieres trazer coisas, mete o carro cá dentro senão ficas sem pneus”, mas vá, já foi há uns anos, as coisas mudam, eu sei; mas como sou uma criatura cheia de defeitos sociais, digo que a gente que por ali se vê a pé, não é aquela a quem apeteceria muito pedir ajuda se o carro pifasse, adiante, o homem era um desses. Com bastante mau aspecto digamos. Ia pela rua fora, a atravessar no verde para os peões e foi nessa altura que vi

o violino na mão dele.

Não me digam que ele o tinha roubado que me apetece pensar que, ali para os lados da Serafina, há um tipo que tem mau ar, mas que tem um violino. Talvez toque. talvez alguém que ele conheça toque. Talvez o tenha, de facto, roubado, mas um violino não é uma aparelhagem, um telemóvel, um cartão mutibanco, não dá nada de imediato senão música. Não sei, dispõe de bem com o mundo (o que é uma perfeita estupidez, mas que se lixe), pensar que os bandidos apreciam uma Chaconne.

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