É que eu já não tenho tempo de ler os antigos que gosto quanto mais os novos que também gosto.
A tarefa interminável
Um gajo mete-se a fazer uma certa coisa. Parece-lhe de antemão que será tarefa simples. Não é. Não demora o tempo que pensa que irá demorar, até porque só a pode executar nas horas mesmo vagas. Demora muito mais. Nos entretantos questiona-se sobre a finalidade da tarefa, se terá alguma. Sobre o mérito da tarefa, se terá algum. Quase desiste porque lhe parece não valer a pena, por ser tão pouco, por lhe parecer que não tem interesse nenhum. Recomeça. A tarefa aumenta de tamanho, tira-lhe o sono, crescem as dúvidas, o tempo vai passando. Quando está quase pronta, olha para tudo aquilo e pensa: se calhar ficava melhor de outra forma completamente diferente. Se calhar seria melhor refazer a coisa toda outra vez.
Quanto mais se olha, menos parece estar bem.
Plantas em férias
Balde de água. Fio de algodão mergulhado no balde, a outra ponta enterrada na terra do vaso.
Bom dia!
Eu depois actualizo e respondo ali em baixo. Entretanto lembrei-me de mais uma razão para os livros saídos de blogs: é que a minha avó não lê blogs (embora não me esteja a lembrar de nenhum dos livros saídos de blogs que seja apropriado para lhe oferecer). Os meus pais não lêem blogs (aí já estou a lembrar-me de um ou outro). Os meus amigos não lêem blogs. Aliás, para ser franca, 99% das pessoas que eu conheço, não lêem blogs (nem sequer sabem bem o que é). Para todas essas pessoas, um livro saído de um blog é uma novidade total. Às vezes pensamos que os nossos mundinhos pequeninos (como este) são alargados a toda a gente, mas não passam de cantinhos obscuros da net.
E estou um bocadinho farta deste tema, intervalo, time out! É segunda feira, dia de refilar com o mundo. Segue dentro de momentos.
Uff!
Isto de fazer posts com muitos links dá cá uma trabalheira! Tenho de passar a usar aquela técnica do FNV (links na coluna da direita) e tá a andar. (mas neste caso, muitos não estavam)
Livros nascidos de blogs (3)
(actualização da lista de publicados)
O Acidental (indicação de JPT)
O maior espectáculo do Mundo (blog Abram os Olhos) de Hugo Gonçalves, (indicação de Rita – Lista de Compras)
Gato Fedorento (indicação de Rita – Lista de Compras)
No Parapeito, de Rita Ferro Rodrigues (indicação de Leonel Vicente)
Sugestões:
De JPT:
– O Olho do Girino
– Rua da Judiaria
– Alentejanando
de Altino Torres:
– Afixe
De Ana Ferreira
Livros nascidos de blogs (2)
(sem tempo suficiente para actualizar isto como gostaria, os comentários no post abaixo muitíssimo bons, com imensa matéria para reflexão, um grande obrigada.)
A meio da leitura dos mesmos e de mais uma coisa aqui e ali sobre o mesmo tema (nomeadamente os excelentes comentários que o JPT deixou no post do Altino Torres) lembrei-me da pergunta do milhão de dólares:
– Mas afinal, quem é que já leu um livro saído de um blog?
Livros nascidos de blogs (1)
(logo meto os links todos, assim que tiver mais tempo)
O meu Pipi, autor anónimo
Fora do Mundo, (Dicionário do Diabo) de Pedro Mexia
Os dias de um homem banal, de Carlos Geadas
Barbabé, dos Barnabés
mil e uma pequenas histórias, de Luis Ene
Rititi, de Rita Barata Silvério
Pagar para Ver, de Ana Roque
As Ruínas Circulares, de João Pedro da Costa
Xicuembo, de Carlos Gil
Alguns dos autores dos livros acima indicados (e admito que existam mais, agradeço que me digam se assim for) reberam vários prémios literários, tinham obra publicada anteriormente e mesmo que não tivessem, qualquer um deles, pelo que conheço dos blogs ou livros, tem qualidade. Muita. Sendo para mim a qualidade medida, em grande parte, não por critérios obscuros de colagem a autores mais conhecidos ou linhas de pensamento literário, mas por uma coisa muito mais simples: para mim, tem qualidade aquilo que gosto de ler. Não sofro de qualquer preconceito sobre esse assunto. E, evidentemente, gosto mais de uns do que de outros, mas reconheço-lhes outras qualidades de escrita.
O que eu não gosto (e foi isso que tentei, de uma forma mais bruta num post abaixo) é que o juízo de valor que prevaleça seja a proveniência. Como se quem tem um blog não goste de escrever, como se quem tem um blog não possa ter qualidade.
Regressarei ao tema, porque hoje estive a fazer um exercício mental sobre os blogs que eu gostava que fossem livros. Para os poder ler na cama, para os poder oferecer a quem falo com entusiasmo dos autores e da sua escrita. Assim de repente, lembro-me logo de cinco:
– TheOldman
– Controversa Maresia
– A Memória Inventada
– A Tasca da Cultura
– Ene Problemas
Xicuembo
Através do caro JPT, descubro que amanhã é o lançamento, no Palácio das Galveias (Campo Pequeno) às 18 horas, do Xicuembo de Carlos Gil. Ora eu sou muito curiosa e tenho este hábito de ir espreitar as escritas que as escritas que eu leio recomendam. Lá vou espreitando o Xicuembo, tenho gostado muito. Agora haverá a oportunidade de o ler em papel.
O dia em que fui assaltada na praia de Ipanema
Era Dezembro e eu estava lá estendida numa toalha, a toalha não me lembro de que côr, mas eu branca da silva, o bronze do verão já desfeito (não mana, não digas nos comentários, qual bronze? tu detestas praia e nunca te queimas, ficas sempre à sombra, que isto é uma história e há que acrescentar alguns detalhes falsos mas asseguro que este é o único), a olhar para o céu e a pensar que a praia em Dezembro até se grama, enquanto o namorado da altura ia fazendo carreirinhas ou outra coisa qualquer à beira mar. Ao meu lado o guarda sol (claro, para a tal sombra acima referida) e uma mochila vermelha, onde estavam guardadas, ao lado do dinheiro-preço-do-assalto-para-não-levar-a-costumeira-facada-à-época-cinquenta-dólares e de maços de tabaco e garrafas de água, isqueiros e livros e outras coisas sem valor, as chaves do apartamento em Copacabana onde estávamos instalados. As únicas chaves num raio de milhares de quilómetros, os duplicados em casa dos donos em Lisboa. Dentro do apartamento teríamos os passaportes, dinheiro e travellers cheques, cartões de crédito e, embora um potencial ladrão não pudesse adivinhar a morada, também nós não teriamos hipóteses de aceder aos nossos bens, em caso de extravio das chaves.
Deitada de barriga para o ar, branquela da silva, eu e os meus 47 quilos de metro e sessenta de gente enfiados num biquini brasileiro, pois claro e aparece-me do lado direito um rapaz (um matulão mais precisamente), um admirador portanto, a perguntar as horas por gestos. Pensas que eu sou estrangeira mas eu tenho outro matulão ali em baixo a banhos e não te vou responder em português, penso eu e faço notar, também por sinais, que quem tem o relógio é ele. Ele desanda e eu, nesse preciso momento, vejo uma coisa vermelha passar-me pelo canto do olho do meu lado esquerdo.
Viro a cabeça e olho para o sítio onde está a mochila. Onde não está a mochila e o facto demora uns segundos a passar da parte ocular para a parte do cérebro em que se registam frases inteligentes como ‘onde está a mochila?’ e ‘onde está a mochila??’ e ‘onde está a mochila???’.
Quando os neurónios explodem e eu olho para o lado direito outra vez, para trás de mim, vejo o matulão que me perguntou as horas a correr pela praia em direcção a mais dois matulões. Na mão de um deles está uma coisa vermelha. Os neurónios explodem e eu também. Num milésimo de segundo estou sentada de boca aberta vagamente a pensar que se calhar me roubaram a mochila. No milésimo de segundo seguinte, ao som de um grito mental ‘as chaves de casa!’, estou a correr pela praia, eu e os meus 47 quilos em metro e sessenta de gente branquela, aos gritos reais de ‘filhos da puta de merda, devolvam-me já o meu saco, seus cabrões!’. Eu não sou muito grande, mas a minha voz ouve-se muito bem e deve ter sido ouvida pela praia fora até São Conrado. Os matulões (pretos e não me venham com a merda do politicamente correcto, mas lembrei-me desta história por causa dos 50 ou 500 da praia de Carcavelos) pararam. Ficaram à minha espera. Eu chego ao pé deles, sem fôlego da corrida e dos berros e o que tem a mochila, estende-ma e diz ‘a dona não a devia ter deixado cair ali no meio da areia’. Eu agradeço a amabilididade e arranco-lha da mão.
Volto para a minha toalha.
Nunca olhei para trás, sempre à espera da facada merecida que nunca senti, a praia inteira sentada a olhar para mim.
Sentei-me na toalha e finalmente olhei, eles estavam já muito afastados, muito longe. O namorado apareceu e disse ‘tudo bem?’ e eu respondi ‘sim, só fui a correr atrás duns ladrões para reaver o saco que tinham roubado e tu, incompetente, nem deste por nada!’ Entre os ‘repete lá isso, tás a gozar’ e as explicações, a única coisa que até agora (e já lá vão muitos anos) me faz sentido no meio desta história toda é que o elemento-surpresa foi aquilo que me salvou.
Isso e o meu feitio.