Noutro lado escreveu o meu amigo Xerxes (já marquei o post as read, agora não o encontro, não eram exactamente estas palavras, mas é o sentido)
beijas os sapos porque queres encontrar um príncipe, mas depois eles voltam a sapos; se um dia beijares um homem pode ser que encontres um Homem
e fico a pensar que é tal e qual assim.
Tenho muitas epifanias na subida de Linda a Velha, vá-se lá saber porquê. Talvez por ter ficado com o carro encravado antes do cimo, talvez porque passando um certo ponto, o sol bate nos olhos e um gajo, se não se acautela, bate no carro da frente, talvez porque abrande e o momento (o desmomento do andamento) seja propício a levar no cérebro com uma explosão de sinapses ou outra porra química ou física qualquer (eu sou muito pela química e física, pela coisa explicada em genomas e canecos parecidos, feromonas e genomas, poesia matemática celular: deve ser por não perceber nada do assunto), mas seja lá o que fôr, grande parte (diria quase todas) das minhas epifanias são à vista do placard da agência Abreu. Viagens metafísicas, por assim dizer.
(já na descida do lado de lá da A5 não me ocorre absolutamente nada senão mudar da faixa mais à esquerda para a que fica do lado direito sem me atravessar muito, o que é inexplicável – essa ausência de epifanias – , já que o placard até se vê melhor, mas vá, vamos supor que as epifanias se dão sempre nas subidas, mais lentas, morosas e mais esforçadas e que a descer o zuuuummmm mantém o cérebro mais ocupado com a…coiso porra isto de escrever posts com sono é uma merda…coiso da velocidade, o zuuuum pronto! E a pensar também agora que mudar para mais cavalos também seria uma ideia)
Ora então, nem de propósito, vou na A5, subida de Linda a Velha, a olhar para o relógio e tudo, salta-me outra assim que avisto o placard que despoleta a tal trip metafísica (haverá de outras?) que aparece à frente dos olhos, noutro placard, fundo branco, letras pretas e luzinhas à volta, uma espécie de anúncio de fachada do cinema Condes, hoje em estreia
uma pessoa para ser feliz basta
e o resto da frase já na parte que vira a esquina
querer
e ainda está o meu cérebro a levar a estalada e já estão uma data de neurónios a analisar a informação, a dar-lhe um rating, um scoring, uma pontuação, a debitar rácios felicidade barra vontade, e eu muito parva quase bato na betoneira que vai à frente (as betoneiras a vinte nas auto estradas, aquilo está previsto no novo código da estrada?) e enquanto travo e (um sistema de travões com mais abs ou coisa assim também me dava um certo jeito) não travo, as luzinhas do cartaz apagam-se e é noite e o cinema já fechou e só se vê agora a parte branca e algumas letras pouco iluminadas mas como foi uma epifania insisto que é isso que lá está escrito, a frase tão visível como quando a li, ali a flutuar por cima das três faixas de auto estrada.
E (sem qualquer razão química ou física e isso é que me lixa) acho que tenho razão.