100nada

Fui indo

Fui indo e, curiosamente, só reparei mais tarde que o mundo é redondo. Acaba-se sempre por voltar ao local de onde se saiu. Não bem ao mesmo, não bem da mesma forma, mas não tão longe quanto isso.
Um gajo navega durante muito tempo, muitas vezes contra a maré; depois cansa-se e tem vontade de desistir de tudo. Acaba a flutuar, deixa-se ir com a corrente. Olha para o céu, de barriga para cima e pensa, se calhar isto de boiar na calma, também tem a sua graça.

Se calhar preciso é de uma mudança de mares.
De mudança de compassos de tempo.
De
sim, no fundo disso:

De Vagares.

(e mais uma vez, obrigada a todos)


Este blog está fechado

(embora neste preciso momento não pareça)

mas não deixa de ser o meu blog, onde registo o que é para ficar.

Registe-se então que acabei de levar um valente puxão de orelhas de um dos meus melhores amigos: provavelmente o único que não tem peninha nenhuma de mim e, por isso mesmo, me diz sem quaisquer paninhos quentes e de forma muito rápida e concisa, aquilo que algumas outras pessoas talvez também me queiram e tentem dizer, mas não têm coragem ou lata.

Obrigada, pá. Dou-te toda a razão.
Mas o blog fica fechado.


Vou indo

O meu texto favorito:

mas que raio é que estou eu aqui a fazer?

Por aqui, leia-se Nova Zelândia, claro. Já cheguei.
Tá imenso calor e há imensos cangurus e também uns ursos brancos polares sentados em cima de uns glaciares. Os cangurus vêm comer à mão, vendem-se uns saquinhos de pipocas especiais para cangurus, com molho de atum e natas. Os ursos têm uns chapéus, são panamás, e na fita está escrito dont feed the bear, mate, oh-i!. Há umas barraquinhas giras onde se vendem bebidas geladas com palhinhas, creio que têm vodka dentro, mas não tenho a certeza. O homem que me atendeu era albanês e não falava inglês, mas tinha tatuada no braço a seguinte frase: ou me pagas ou levas nos cornos. Em português, donde concluí que é bem capaz de ter percebido quando lhe perguntei ó meu cabrão onde é que se pode mijar aqui? (era a frase que vinha no livro O Tuga em Férias, cortesia do suplemento de um jornal que li no avião, pensei que seria uma boa primeira abordagem às nuances da cultura maori, se o português faz parte do plano de estudos e essas coisas), porque iria jurar que me respondeu minha ganda cabra vai mijar para a puta que te pariu, mas foi entredentes e nessa altura, quando vi brilhar aquela boca dourada (ai Corto, a faltinha que me fazes, desde que partiste no teu veleiro branco pelo mar pintaste a minha vida de transparente…) percebi que era albanês. Estendeu-me um copo de plástico transparente e apontou para um placard pendurado na barraquinha, ao lado dos crocodilos de borracha e eu paguei o dólar que me pedia. A palhinha era azul escura (como o mar que nos separa, ai Corto, a faltinha que me fazes…) e a bebida transparente (como a vida), donde seria vodka, pois de gin não se tratava por não cheirar a perfume barato de galdérias suburbanas. Afastei-me, porque estavam a chegar dois dos ursos e, pelo ar sedento e transpirado, creio que a barraquinha terá fechado cedo.
Dei umas voltas pelas outras barraquinhas, mas tirando os dentes dos atendedores, era tudo mais ou menos o mesmo e aproveitei para comprar uns recuerdos. Mas não me recordo do que eram e perdi o saco quando virei a esquina e tropecei no coral reef. Não sabia que começava logo ali, à saída da rua das barraquinhas depois do aeroporto. Mas quando me voltei, a esquina tinha desaparecido e, no lugar dela, estava um hangar com uma porta aberta. Lá dentro, pilhas e pilhas de folhas brancas (ai Corto, tão pálidas como as velas do teu veleiro, esse que vi partir, embrulhada no xaile roxo das viúvas das marés…), perguntei a um canguru para que serviam, mas ele não me disse nada, ninguém me liga nenhuma desde que fiquei transparente…mas depois percebi quando vi os tucanos a dobrarem as folhas com os bicos. Em duas, depois em quatro, depois um chapéu e depois é só puxar as pontas…
Havia barquinhos com um toldo de um lado, ou com dois, um de cada lado. Escolhi um só com um toldo, pois não quero apanhar sol na cabeça. Visto que sou transparente no resto não faz mal. Agora vou navegar até ao fim do coral, depois lá diante mando outro postal.
(17.05.04)

Obrigada.


A crise é internacional

Antigamente o esquema da Nigéria

“I am Prince Nasfat of Nigeria and i represent a group of people that have over invoiced a number of public works in our country, total is 10 million USD, 3 for you and 7 for us”, blá blá

sendo aldrabice pura, ao menos era em milhões. Sempre havia um papalvo ou dois que iam caindo na esparrela e vá de abrir contas conjuntas com os Príncipes, depositar o montante inicial que era requerido para levantar depois os milhões e ver a conta vazia no dia seguinte.

Agora a ‘Costa do Marfim’ dá uma comissãozeca de 300 euros, que miséria.



Até me engasguei a rir com isto! :D

“Esses senhores cientistas que andam sempre para aí a inventar coisas inúteis bem que podiam arranjar um veneno que se entranhasse nos homens assim que espetam a aliança no dedo para que não conseguissem levantá-lo a não ser com a legítima! Um veneno tão possante que lhes desse uma dor tão lancinante nas partes intimas de cada vez que têm pensamentos impróprios com outra mulher que não a deles de tal forma que jurassem a si mesmos que nunca mais tornariam a olhar para nenhum lado senão em frente! Ai tomara que o meu Dioguinho não saia ao pai que este menino sempre foi um anjinho em pessoa. Se eu descubro que ele anda para aí a enganar alguma rapariga ai leva nas fuças leva! E paga o filho pelo mal que o pai fez!”

Um blog novo e à procura dum Marido.


A inflação É a subida de preços

Engano-me sempre nas contas das percentagens das subidas/descidas mas iria jurar que a portagem cobrada pela Brisa na saída da A5 para Oeiras, que aumentou de 25 para 30 cêntimos, cresceu 20%.

Corrijam-me se estiver errada mas, seja lá qual fôr a percentagem certa, parece-me um tudo nada acima daqueles dois-qualquer-coisa-e-quem-diz-dois-diz-três, não?



QED

Arrumando e apagando e reorganizando e mais andos e esta mania de usar os drafts do email como rascunhos de posts, depósito de textos de outros, nos arquivos do Drafts é um mundo de emails que não se mandam a ninguém, só porque detesto escrever em ‘word’. Vá-se lá saber porquê.

E nessas limpezas encontro um email (rascunho) de 21 de Março de 2003 (é preciso ver nas ‘propriedades’). Só diz

Quod Erat Demonstratum

Vá-se lá saber porquê.

Guardo aqui agora e apago lá.


Quando em dúvida: escrever-zi-a e partilhar-zi-a

Que não sei que faça a esta porra.

Ora então, temos aqui um cadáver adiado, um blog quase enterrado. Ainda vivinho da silva, a espernear, a berrar, tás maluca ó monga? Tira-me já essa pázada de terra de cima! E com minhocas! Outra vez, grande chata?

E chega um gajo de férias e descobre (não se esquece, claro. mas lembra-se melhor agora que tem acesso) que tem um blog. Até tem mais mas os outros não interessam para isto: têm os seus temas, as suas finalidades. Desses não reza esta história. Ó que bom, tenho um blog. Está aqui, já o conheço tão bem, quase tão bem como me conheço a mim mesma. Serve para isso também. Para
quando em dúvida escrever-zi-a e partilhar-zi-a. A parte do escrever-zi-a está muito bem. A parte do partilhar-zi-a, essa

um gajo às vezes precisa de ser egoísta nestas merdas internas pá!

E chega um gajo de férias a estoirar de palavras e de textos que não escreveu. Com vontade de entornar tudo, de esvaziar aquelas coisadas todas, para que apareça espaço para outras, mais outras, que isto do escrever-zi-as, às coisas, às histórias, às considerações vagas, às dúvidas e às certezas, às angústias e às alegrias, às banalidades e aos pensamentos fortuitos, ocupa muito espaço enquanto não é escrito. E eu, porra, caneco, que sina esta, cada vez mais penso em modo texto que ou se escreve ou fica lá dentro, remói-se, destrói-se; e regressa outra vez na frustração de não se ter transformado em letras.

E esse gajo de volta de férias, same old story, pensa, não dá. Não posso. Um gajo não pode escrever estas coisas num blog. A Mauser? A Mauser não era uma rica história? Daqui a uns anos esquecemo-nos e depois essa história morre? Mas não é tua, não podes contar. Não podes contar a dos sudokus na psp, pois claro que não. Nem podes contar a do Natal do cesto e do pano, para abrir ao mesmo tempo. Nem podes sequer escrever sobre outras coisas que te complicam os nervos. Não podes. Porque, se escreveres, seja lá o que fôr, haverá sempre uma margem pequena de dúvida, o que era aquilo? O que é que aquilo queria dizer?

E eu quero escrever. Quero mesmo.
Não posso, mas hei-de escrever. Em pedacinhos de toalhas de mesa, em guardanapos de papel, nas costas das posologias dos remédios, no verso dos rótulos arrancados a garrafas de água, onde fôr. Logo se encontrará o sítio certo. O que é preciso é não desistir.

E não se enterra nada, fica tudo aqui e há sempre espaço para se escrever o que pode ser lido, todos os dias, a toda a hora, por toda a gente.

(este post foi escrito aos safanões e às prestações, daí a mudança de tom)