Acabo de ver no Ponto Media o pdf da carta de demissão de Martim Avillez Figueiredo e estou absolutamente estupefacta com a dita.
Não sendo jurista, não sei até que ponto a publicação de cartas deste teor que incluem documentos internos de uma empresa / grupo não constituirá quebra de dever de sigilo profissional ou parecido, mas admito que na comunicação social a coisa se processe de outra forma. Que é um escândalo, é, sem qualquer dúvida mas penso que é exactamente essa a finalidade desse acto pouco elegante. Não nos deixa nada confortável, espreitar desta maneira para debaixo do tapete da situação, mas adiante, cada um sabe de si e está ali um homem desesperado, que foi “desassossegado” e apresentou um ultimato ao C.A. do jornal que dirige.
De acordo com o Jornal de Negócios, na sequência desta carta, a Administração decidiu demiti-lo. Alguém estranha?! É um péssimo passo, esse de colocar um C.A. contra a parede, daquela forma. Não sei se ainda haverá alguém no mundo e mais ainda em Portugal, em que o meio empresarial, de alguma forma, padece de alguma sensibilidade exagerada, que não saiba que ultimatos ao accionista nunca resultam muito bem. Há sempre uma tendência, seja no Presidente da Administração de um grande grupo, seja no dono da mercearia da esquina, de dizer “ó meu caro amigo, está a berrar que quer sair? a porta é já ali.” mesmo que a pessoa possa ser a mais certa do universo para aquela tarefa. É que ninguém é insubstituível e os grandes gestos, desesperados e amargos confundem-se muitas vezes com arrogância.
Depois temos o email. E o email é, no mínimo, assustador. Aquela lista de cortes de despesas, depois de conseguirmos parar de rir, significa que o Jornal I só pode estar numa situação verdadeiramente insustentável. Não é nas percentagens brutais de reduções que isso se nota, mas sim na preocupação com a despesa já dos detalhes mínimos, com a fruta e a lavagem dos carros. Quando se começa a aconselhar a cortar no papel higiénico, das duas uma: ou existe ali uma falta de visão estratégica de longo prazo (reduzir esse tipo de despesas só traz ganhos no muito curto prazo) ou, pura e simplesmente, a derrapagem orçamental é total: já nem para o papel higiénico há dinheiro.
(também publicado no blog 31 da Sarrafada)