Tornados e sismos e outras merdas que não são de cá
Hoje houve direito a um mini-tornado * no Tejo. Tá bem que foi mini, como também foi mini o sismo maior que tivemos, mas não interessa se são minis ou maxis, hoje são pequenos, amanhã sabe-se lá o tamanho dos gajos. O que aqui interessa é que estou a desenvolver uma xenofobia das grandes em relação a estas merdas da natureza que não são de cá. Eu acho tudo bem, a globalização, o mundo cada vez mais pequeno, as telecomunicações, a livre circulação de pessoas e bens, o fim das alfândegas e impostos sobre importações de Ipads dos EUA, eu concordo com tudo e o que me parece é que todos nós ficamos mais ricos culturalmente até quando um cabrão de um eslavo qualquer nos pedincha uma esmola num semáforo e nos roga pragas numa língua de trapos quando não damos. Mas o risco tem que ser traçado em algum lado: eu aceito tudo, mas recuso-me a admitir esta proliferação de fenómenos naturais estrangeiros.
Isto cá é a Califórnia?! Temos praias com coqueiros e passeios largos à beira das mesmas? Temos estúdios gigantes de cinema e prémios com carpetes vermelhas onde estão pessoas realmente giras muito mal vestidas? Temos armazéns enormes em todas as esquinas? Temos um sistema jurídico e de justiça que funciona? Temos direitos de autor protegidos? Ganhamos em dólares, que é uma moeda mais fraca que o euro mas dá para comprar muito mais coisas? Temos universidades muito boas? Temos uma terra de oportunidades? Nós temos o Obama, caralho? Não pois não?! Então também não queremos nem sismos, nem tornados, nem sequer dos minis. Queremos uma porra de uma primavera com uns chuviscos à tarde, umas florinhas, um ventinho, queremos usar sandalecas e casaquinhos leves, foda-se, queremos as nossas estações do ano, não queremos as dos outros. Caneco mais a globalização do estado do tempo, nem o google chega à China, mas o mini tornado? Esse chega ao Tejo e a malta que se aguente. Só importamos o que não interessa, é o que é, e a culpa toda disto é do Al Gore que inventou essa porcaria do aquecimento global e do João Miranda que a trouxe para cá.
*tromba de água
- Uma semana
- Quero uma operação às mamas
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Claro que bastou mencionares isto no FB para eu vir logo cuscar. Catarina, és grande! Tou contigo! Tracemos o risco, que isto não se admite! 😉
Uma palavra: brilhante.
Duas: subscrevo!
Obrigada
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Excelente!!! Muito bem escrito…
Um Humor acutilante, ácido. certeiro e umas verdades bem – ditas. Bom trabalho.
Está o caldo enTornado e estamos todos californicados. A propósito, qué qué isso do FB?
Hélio, obrigada.
Vítor, sabes muito bem o que é o Facebukas.
FB queria eu escrever, acho que estou a ficar disléxico.
Ena tens uma página Já sou fã.
…Bem observado. Olha, se concorreres a presidente estou contigo amigo.
O trovão que eu ouvi hoje + tornado (não quero saber se é mini) = não, não estou para isto. Trace-se.
Ólha! O 100Nada ComTudo ComoDantes. Ganda malha ….
Gostei tanto que até vim reler (ontem li naquela modernice dos readers que não dá para comentar). A tromba de água já teve um mérito (há sempre um lado positivo em todas as coisas!) trouxe de volta este 100nada deliciosamente vernáculo e onde segue tudo a à biqueirada à tua frente. Muito bom!
Grande texto, alguém tinha de o dizer porque isto está a ficar um abuso, acho q fizeste bem em meter a boca no trombone 😉
PS: A ‘proliferação de fenómenos naturais estrangeiros’ é muito pouco natural
…e não há quem os queira privatizar ?
Concordo e tem que ser assim, sem papas na língua. E já estamos a assistir ao efeito da “propagação trendy” – hoje já foi anunciado outro “mini tornado” em Tavira :). O próprio comandante dos bombeiros se referiu ao fenómeno como um “mini tornado”! E concordo com a classificação, para mim, admitiria no máximo uma “tromba de água”. Má nada.
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=1545407
Abraços
António
Gosto mesmo, à brava! Continua…