Dez dias
Dez é um número mais redondo. Ou oval, mais precisamente, por causa do zero. Parece-me uma boa contagem decrescente (para o princípio do fim). Ontem, onze, 11, dois números iguais, elegantes, altos e magros. Hoje um 10, um número elegante (alto e magro) acompanhado de um número mais arredondado, mais feminino talvez. É o último dia com dois dígitos na contagem decrescente. A partir de amanhã serão números solitários; tem uma certa lógica: no fundo, todos nós caminhamos solitariamente em momentos apenas entre o self e uma placa a marcar o tempo.
uma pessoa, se se esforçar um tudo nada, com alguma imaginação, consegue sempre adivinhar um significado qualquer nas folhas do chá, mesmo quando estão dentro de saquinhos…
- Dias diferidos
- Almoço
Deduz-se então que o dia zero é essencialmente feminino. 😉
Exactamente! Um número aparentemente vazio…;-)
Vai ser dia de festa, daqui a 10 dias!…
Eu nem ligo muito, Leonel, mas este ano vai mesmo ter de ser…:-)
Se bem consigo ler nas entrelinhas, explorar os espaços vazios, pairar no vácuo das preocupações, existe uma aflição subjacente que provoca uma ansiedade, um medo, mas ao mesmo tempo um desejo e um fascínio. Por isso vou reproduzir um pequeno texto que li, não sei bem de quem é, tinha nas minhas anotações e fui rebuscar:
tempo
tempo é ter o quase
das coisas imperfeitas
a solidão dos dias a morder
as palavras imprevistas
tempo é a medida
do sim ao não ou vice-versa
10 (dez) – muito pitagórico…
Na realidade, predatado, aqui que ninguém nos ouve, eu estou-me bem nas tintas: mas parece-me uma boa altura para analisar fechos de contas e debitar umas bujardas sobre o passar do tempo, que esse, sim, exerce um fascínio muito grande sobre mim: encanta-me a continuidade feita de milhões de polaroids todas quase iguais, um jogo do descubra as diferenças. E depois, para as mulheres, é uma data curiosa, esta em que supostamente se atinge a maturidade (em mim não se nota lá muito a tal maturidade, mas ‘prontos’) e eu faço tenções de ‘facturar’ esta contagem decrescente em divagações sobre as coisas que não me afligem mas pelo menos requerem alguma reflexão. Este parece-me um momento apropriado para isso.
O poema é lindo.
Júlio, essa do pitagórico foi boa, mas passou-me ao lado, que eu é mais pastilhas elásticas mastigadas de boca aberta e a fazer balões…:-)
O poema é de José Félix. Não, não conhecia mas como o adorei fui à pesquisa.
Obrigado Duende por me relembrar. De facto foi erro meu quando o anotei, por ter gostado, não ter tomado nota do nome. Eu nem sou nada de me esquecer, mas acontece.
Para os pitagóricos os números eram a essência das coisas. Consideravam que os números pares eram femininos e os ímpares, com excepção do 1, eram masculinos. O 1 era o gerador de todos os outros números. O 5, era o símbolo do casamento, pois era a soma do primeiro número feminino, o 2, com o primeiro número masculino, o 3.
Mas eu, também,”sou mais bolos”… 😉
Oh! Julio, muito obrigada pela explicação! :-)(sou memo bronca…) Mas e o zero, fica onde?
Numa leitura muito pessoal da teoria pitagórica dos números, e num esforço titânico para responder a essa questão do zero, arriscaria a seguinte solução/resposta: Partindo da distinção entre números masculinos e femininos, o zero… será “gay” ?