100nada

Dez dias

Dez é um número mais redondo. Ou oval, mais precisamente, por causa do zero. Parece-me uma boa contagem decrescente (para o princípio do fim). Ontem, onze, 11, dois números iguais, elegantes, altos e magros. Hoje um 10, um número elegante (alto e magro) acompanhado de um número mais arredondado, mais feminino talvez. É o último dia com dois dígitos na contagem decrescente. A partir de amanhã serão números solitários; tem uma certa lógica: no fundo, todos nós caminhamos solitariamente em momentos apenas entre o self e uma placa a marcar o tempo.

uma pessoa, se se esforçar um tudo nada, com alguma imaginação, consegue sempre adivinhar um significado qualquer nas folhas do chá, mesmo quando estão dentro de saquinhos…

0 thoughts on “Dez dias

  1. predatado

    Se bem consigo ler nas entrelinhas, explorar os espaços vazios, pairar no vácuo das preocupações, existe uma aflição subjacente que provoca uma ansiedade, um medo, mas ao mesmo tempo um desejo e um fascínio. Por isso vou reproduzir um pequeno texto que li, não sei bem de quem é, tinha nas minhas anotações e fui rebuscar:

    tempo

    tempo é ter o quase
    das coisas imperfeitas

    a solidão dos dias a morder
    as palavras imprevistas

    tempo é a medida
    do sim ao não ou vice-versa

  2. catarina

    Na realidade, predatado, aqui que ninguém nos ouve, eu estou-me bem nas tintas: mas parece-me uma boa altura para analisar fechos de contas e debitar umas bujardas sobre o passar do tempo, que esse, sim, exerce um fascínio muito grande sobre mim: encanta-me a continuidade feita de milhões de polaroids todas quase iguais, um jogo do descubra as diferenças. E depois, para as mulheres, é uma data curiosa, esta em que supostamente se atinge a maturidade (em mim não se nota lá muito a tal maturidade, mas ‘prontos’) e eu faço tenções de ‘facturar’ esta contagem decrescente em divagações sobre as coisas que não me afligem mas pelo menos requerem alguma reflexão. Este parece-me um momento apropriado para isso.
    O poema é lindo.

    Júlio, essa do pitagórico foi boa, mas passou-me ao lado, que eu é mais pastilhas elásticas mastigadas de boca aberta e a fazer balões…:-)

  3. predatado

    Obrigado Duende por me relembrar. De facto foi erro meu quando o anotei, por ter gostado, não ter tomado nota do nome. Eu nem sou nada de me esquecer, mas acontece.

  4. Júlio

    Para os pitagóricos os números eram a essência das coisas. Consideravam que os números pares eram femininos e os ímpares, com excepção do 1, eram masculinos. O 1 era o gerador de todos os outros números. O 5, era o símbolo do casamento, pois era a soma do primeiro número feminino, o 2, com o primeiro número masculino, o 3.
    Mas eu, também,”sou mais bolos”… 😉

  5. Júlio

    Numa leitura muito pessoal da teoria pitagórica dos números, e num esforço titânico para responder a essa questão do zero, arriscaria a seguinte solução/resposta: Partindo da distinção entre números masculinos e femininos, o zero… será “gay” ?