No semáforo vermelho
Não vejo nada, estou entretida com o Waze, sou quase ninja.
No passeio está uma rapariga parada a olhar para cima. Enquanto toda a gente se apressa, antes que volte a chover, antes que o semáforo feche para os peões, está ela, imóvel onde não é suposto estar parado, até a empatar um bocado, sem querer saber, a olhar para o céu.
Eu conheço esta rapariga, vive numa zona protegida e faz o que lhe apetece, desde que seja no seu próprio mundo. Nesse sítio pode olhar para o céu durante horas sem chatear, sem sequer se dar por ela, fica a ver aviões de papel; também ela conhece uma zona protegida onde voam aviões de papel e os aviões de papel sonham ser a jacto e fazer acrobacias tão perigosas que consigam quase assustar as pessoas que estão a assistir, tal como a rapariga no passeio a olhar para o céu
(mas sem se assustar, não é bem uma pessoa, é só um vago pensamento)
enquanto eu estou a contar os quilómetros que me faltam para ser ninja no Waze.
- Tropeçando nos limites estabelecidos
- Em pontas dos dedos
Eu escrevia na areia.
Escrevo na areia.
Coisas simples.
E coisas complicadas.
Preciso de escrever na areia.
Nesse abandono de escrever na areia.
Tal e qual, minha amiga.