Tropeçando nos limites estabelecidos
Não gosto da escrita em velocidades de cruzeiro e médias sensatas. Não gosto, mas tenho que gramar com isso, faz parte, é daquelas merdas que se tem que passar por elas até passarem por nós, não há forma de se lhes escapar.
Só há qualidade (relativa, evidente, mas estou-me nas tintas para a dos outros agora) se não (como agora mesmo) existirem hesitações, se for (não só hesitando mas voltando atrás, largando teclas, agarrando uma mão na outra, uma merda tudo isto) se for como não está a ser agora, se for corrida, seguida, fluida. Não tem nada a ver com todos os acertos depois, isso é a parte da pintura metalizada, esta é a parte de bater a chapa. E eu ainda estou na fase de tentar reconhecer qual é a forma que quero a chapa e
(não estou a acertar muito bem, mas insisto)
O que mais irrita é que nunca passei por isto, ou não me lembro, era saírem-me da frente e que se lixe o resto. Agora medindo, pesando, escrita em bimby com os gramas, os segundos e as temperaturas todos contadinhos, no fim sabe tudo a cozido em água com pouco sal. E uma pessoa fodida e mais uma fúria que não leva a nada senão a outro draft esquecido
(mas fúria é bom, é o caminho certo, é só canalizá-la)
Só há qualidade (mínima) com entrega, abandono, só dá realmente gozo quando se escreve apaixonadamente. Até lá é tropeçar nas letras e fazer a merda da estrada até conseguir desligar o cruise control e esquecer a existência de radares. Andei tanto tempo a tecer considerações sobre o caminho das pedras e o caralho, sempre em textos supersónicos, agora vou de trotineta e chinelas a bater com os pés nos calhaus. É bem feita.
- 11 anos de blog
- No semáforo vermelho
Pois.
Se até tu, a mais congénita e espontânea escrevinhadora deste éter te revolves com os mesmos dilemas, que dizer dos mariquinhas como eu que até para pôr uma vírgula hesitam 3 vezes.
(gostei especialmente da parte: “Andei tanto tempo a tecer considerações sobre o caminho das pedras e o caralho”, mas confessa, isso foi já muito retocado, não? )