100nada

As revistas de gajedo e eu

É uma daquelas coisas a que uma criatura do sexo feminino (assim como eu) não consegue resistir, a culpa deve ser dos estrogénios ou outra porra qualquer, que explica estas obsessões compulsivas: não posso ver uma estúpida de uma revista para gajas (das boas, claro, que ainda não cheguei às das receitas ou Marias e quejandos) que não me apeteça logo comprá-la. Lá me vou controlando a custo, mas nem vale muito a pena; sou capaz de me controlar três semanas, mas quando está quase a sair a próxima, trau, não aguento mais e lá venho eu com mais uma Elle, Vogue, Máxima ou o supra-sumo das revistas de gajas, a Marie Claire UK.

Para começar, isto não tem lógica nenhuma. Antigamente era doentinha por revistas, comprava tudo, desde as semanais de fédivéres, até às de informática e jogos e ciência e times e cinema e photo e mais tudo o que havia. Comprava revistas de carros. De viagens (que detesto). Até de economia e gestão! Mas depois deixei de comprar e não foi (na altura) por uma questão de gestão orçamental: é que apareceu a net e tudo o que vinha nas revistas, já uma pessoa tinha lido antes, mais e melhor. Deixou de valer a pena comprar revistas por uma questão de informação e sendo por uma questão de esplanada, o Expresso servia para tudo.

Mas a parte revista de gaja, não. Lá está, a questão hormonal. Existem duzentos mil sites, revistas, blogs, sobre moda e afins, onde as revistas vão beber aquela porra toda que lá vem requentadamente publicada, mas não me aguento enquanto não trago para casa mais uma, em papel brilhante e a cheirar a tinta de impressão, com mais um par de chinelas ou uma saqueta de plástico colada à capa. Depois, toda contente, olho para a coisa, penso, já vou ler isto e, um mês depois, ofereço a revista (sem as chinelas e a saqueta, que essa tralha dou logo) à minha empregada. Por ler.

Sim. POR LER.

Que não se levantem agora as vozes de mal empregado dinheiro, desaproveitadora, consumista parva, que eu sei. Cada revista que compro, sei que não vou ler. Mas compro à mesma. Compro empurrada pelas hormonas e não leio não só por ter já visto/lido tudo o que me interessava daqueles temas na net. Não leio porque, cada vez que pego numa, olho para mim de pijama mal parido, cabelos desgrenhados e cara desmaquilhada e tudo aquilo me parece tão ridiculamente patético, uma criatura amanhada em tshirts de homem e ganchos na cabeça para não cairem cabelos nas cascas das batatas e das cenouras da sopa, a ler uma revista sobre “como se tornar mais bela”, tão telenovela mexicana, que me recuso (até para mim mesma e na privacidade do lar) a ser a estrela dessa triste cena.

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7 thoughts on “As revistas de gajedo e eu

  1. Por mim podes ler o que quiseres mas pára lá essa coisa de esticar e encolher as colunas que com tanto práqui-práli um gajo dá por ele e já tem os olhos fora da estrada, isto é, do post.

    Se continuas com essa agitação toda qualquer dia ficas pior que o JPT que já deve andar com um molho de chaves à cintura!

  2. SOD, o Pérfido

    Maria Rita, 32 anos, casada, não resiste a comprar revistas femininas apesar de nada aprender, sequer reter. “Não consigo controlar-me. As cores são tão atractivas”.
    Joaquina Susana, 40 anos, viúva, diverte-se ao ler tantas babuseiras. “Desde que matei o meu marido à míngua, preciso de me entreter com qualquer coisa”. Madalena Albertina, 27 anos, solteira, gosta de fazer os questionários e comparar com a realidade. “Entre amantes ocasionais, gosto de me interrogar porque não aturo apenas um gajo de forma mais permanente”… Vanessa Sónia, 17 anos, gosta dos brindes. “Trazem umas cenas fixes”.

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