100nada

Fitas a voar

(fui procurar à Soca a base, mas não encontro, depois hei-de colocar o post onde escrevi isso *, mas não interessa, nem é continuação, é só a ideia sobre)

a inocência e estava uma rapariga muito nova a rodar fitinhas nas mãos, no relvado ao pé do lago, imensa gente sentada ou deitada, devia ser Junho mas era outro Junho, era Junho com sol, talvez fosse Julho mas Agosto não era. Ela, em pé, a rodar fitas ao som de nada, das vozes de toda a gente a falar baixo, do sol e dos patos, descalça, toda a gente descalça, nada é tanto Hyde Park como aquele relvado, mas agora se calhar já não é, foi há muito tempo, ainda havia sol em Junho. Conto o tempo, não, não foi assim há tanto tempo, curioso como passa num instante, o tempo, mas depois parece que passou imenso. Não é o tempo, são as coisas e até poderia ter sido ontem, mas se tivesse sido ontem, eu lembrava-me, lógico. São as coisas que acontecem e passam depois que causam que o tempo seja, simultaneamente, curto e muito.

De regresso às fitinhas, depois deste desvio propositado, que me coloca na linha direita. Oh eu sei, sei tão bem

– só se ama realmente quando ainda não se sabe o que é isso, quando a inocência iadaiada

mas ali aquele “iadaiada” a estragar tudo, lamento, mas já foi mesmo há muito tempo e agora, tenho tendência a concordar; era uma vez um cínico e agora sou eu. Giro, isto, dos pigmaliões: quando nos querem transformar naquilo que já somos, o que acontece é que nos transformamos neles próprios.

[* encontrei: “Um estado de alma, a velhice“]

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