100nada

Sobre a miúda russa

Só uma coisa ou duas, completamente viscerais, nada racionais e nem quero saber de leis de merda, também tenho o direito de pensar a quente, mesmo que já seja a frio:

isso dos laços de sangue está altamente sobrevalorizado, essa coisa da genética e de se parir uma criança: pode ser lindo e o milagre da vida e isso tudo, mas na realidade é a produção de uma pessoa. Depois, a parte da manutenção toda, desde as febres e os vómitos e as noites mal dormidas e os dias de mãos dadas e meter gelo no galo enquanto se abraça e se diz que já passou e come mais um bocadinho, vá lá, olha a mãe/o pai vai cantar uma música/contar uma história/dar um castigo/olha ali um carro com umas cores tão giras/um coelho/uma árvore/não podes ver mais televisão hoje/vamos para a escola/ao médico/ao hospital/de férias/à praia, enfim, tudo isso, o tempo, o amor, o carinho, a educação, essa coisa toda, a manutenção daquela pessoa, isso é que conta para essa pessoa. Que para começar não se lembra de quem a pariu se nunca mais a vê. E que se está cagando nos laços de sangue se foram cortados. Quem lhe interessa é de quem gosta, são os pais que sempre conheceu.

E essa pessoa, mesmo que só tenha meia dúzia de anos, tem direitos, caralho. Essa pessoa tem direitos. Tem direitos. Não digo mais nada. MUDEM A PUTA DA LEI.

13 thoughts on “Sobre a miúda russa

  1. Artur Anjos

    Oh Catarina, nem precisas de ir tão longe: basta dizeres exactamente as mesmas coisas às mães que andam por este país fora, alegando em tribunal a tal treta da ligação umbilical, para lixar os cornos aos gajos que querem ser pais. E há tanta mentalidade neste sentido…

    O tempo. A disponibilidade. Só isso, tudo isso.

    A escravatura é pensar em propriedade humana.
    Principalmente em quem tem meia duzia de anos, caralho.

  2. Susana

    Obrigada por escrever este post. Desde ontem quando vi a fotografia daquela Mãe agarrada á filha naquele abraço desesperado que nao penso noutra coisa. A “justiça” neste país é podre e puta. As crianças têm direitos sim senhor, só não entendo como os merdas de juizes que temos não vêm isso! Obrigada e continue.

  3. Vítor I

    O que me dói mais é que daqui a uns meses, quando a história for esquecida, a miúda vai ficar muito provavelmente ao Deus dará.

    Espero que nenhuma das redes privadas que abundam na Rússia e que tanto se interessam por crianças se lembre de “ajudar” a desgraçada…

  4. ana

    uma família de acolhimento é sempre a curto prazo. Não se devia ter cuidado de escolher as pessoas que conseguem manter laços afectivos que sabem à partida que vão ser quebrados? Não é preciso ter uma estrutura emocional forte para isso? Alguém neste mundo terá?

  5. Moura

    Subscrevo o “mudem a puta da lei”, acrescentando-lhe um “JÁ!” … e um “Já agora, por favor, ponham o sistema de adopção a funcionar em condições e em prazos compatíveis com o tempo das crianças (para quem um dia equivale a um mês de um adulto)

  6. fabulosa

    hum… a lei precisa de ser mudada, mas deve ter todos os pontos dos is e explorar todas as situações possíveis que estas coisas são sempre muito complicadas….

  7. conde

    Eu sei…eu sei, tambem nunca escrevi um texto sobre actualidades, mas ontem, com raiva, muita raiva, escrevi acerca desta menina. Não posso deixar de pensar, como é que é possivel que a lei previligie “alguem” em detrimento da criança que devia de ser a preocupação central. Assim neste caso, como noutros, são os direitos de outras pessoas que prevalecem, mesmo quando essas próprias pessoas abandonaram a criança em tempos, é absolutamento estupido e criminoso esta decição.

  8. PB

    Ora nem mais. O meu filho tem 7 acabados de fazer, ele saberia escolher e com toda a legitimidade, com quem queria ficar.

  9. catarina

    E aí está a “continuação” desta triste história: o video da mãe e da miúda, as palmadas, os empurrões e agora, o juiz perturbado e arrependido. Que vergonha, que tristeza, que miséria.

  10. partizan

    Sobre a situação desta menina, o maior erro da decisão do juiz foi ter-se preocupado com o presente e descurado qual seria o futuro da criança.
    Eu conheço a Rússia ainda do tempo da URSS. Sei como viviam nesse tempo e sei como vivem actualmente. Se nessa época havia uma parte da população que não tinha acesso a determinados bens, que de grosso modo podemos considerar artigos de luxo. Hoje a maioria da população vive abaixo do limiar da pobreza, sem quaisquer direitos sociais É indescritível!
    Não conheço a região onde a menina está a viver. Mas mais a sul, na região de Arzamaz, Riazan, cerca de 500 km a sudeste de Moscovo, a ultima vez que lá estive há três anos, vi Médicos e Professores que para sobreviverem criam galinhas, ovelhas e porcos, praticamente todos têm uma parcela de terreno ( O Yeltsinismo na ânsia de destruir as cooperativas distribuiu as terras, “ conseguiu baixar a produção agrícola do país dez vezes”) onde produzem, batatas, couves, cenouras, pepino.
    Fazem um buraco debaixo das casas de madeira (barracas) onde armazenam esses produtos durante o inverno, para sobreviver.
    São terrenos muito férteis, mas que serve isso? Se não dispõem de maquinaria para trabalhar na terra! As grandes empresas essas têm tudo mecanizado, a maior parte das máquinas são importadas dos países Ocidentais. Quanto ao resto, os terrenos estão abandonados ou praticam uma agricultura de subsistência com os mesmos métodos utilizados em Portugal há quarenta ou cinquenta anos (tracção animal).
    Aquilo é uma miséria generalizada nas zonas rurais, muitas das casas (barracas) nas aldeias não dispõem das mínimas de condições (água canalizada, esgotos, gás, electricidade ou arruamentos) O Putin no ano 2003 traçou uma meta para que em 2015 os Russos tivessem um nível de vida idêntico aos Portugueses, já alterou para 2025.
    Não consigo perceber como é que o povo aceita pacificamente viver naquelas condições? Não existem direitos laborais como nós aqui os percebemos! O patrão baixa o salário como muito bem entende, despede quando lhe convém.
    Quanto à protecção das crianças isso é aterrador. Há actualmente mais de 4 milhões de crianças abandonadas. Existem agências especializadas na adopção (venda) de crianças para o estrangeiro, muitas delas perde-se-lhe o rasto para sempre. A situação dos idosos é igualmente dramática. Uma tia da minha mulher que era professora deu-lhe um AVC, vive como um bicho abandonada, sem qualquer tipo de assistência.
    Todo o país que não respeita as suas crianças e os seus idosos, é um país sem futuro. A Rússia hoje é um país de bandidos dirigido por criminosos.
    Por isso é de temer por o futuro desta criança.
    Por favor vejam este Sitio para verem as condições da barraca em que a criança está a viver.
    http://www.kp.ru do lado esquerdo está a fotografia da menina, cliquem!

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