Os perigos da net – Facebook
Há uns anos, escrevi um post muito polémico sobre os perigos da net, que me granjeou, entre outras coisas, mais alguns anti-corpos bloguísticos, coisa que me incomodou um bocado, mas não me causou qualquer arrependimento no que escrevi. Era em geral sobre os perigos da net e, em particular, sobre as fotografias das crianças que se vão postando.
A única coisa que mudou desde essa altura foi o facto de ter “privatizado” o meu babyblog há um ano e tal ou coisa assim. Na altura algumas das pessoas que assistiram à “cena” perceberam a razão. Já me debatia se tinha o direito de expor a minha vida de mãe assim em público e, naquela altura em que o fechei, de repente, percebi que o perigo (ou, pelo menos, o horror do potencial perigo) era imenso.
Tenho vindo a explicar uma e duas e vinte e cinquenta vezes a razão do “fecho” a quem me tem perguntado, mas fica aqui, preto no branco, para se perceber de uma vez por todas e porque me parece ser isto importante:
– na altura, arranjei uns anticorpos bastante agressivos, nos comentários da Soca. Um tipo que não gostou da minha atitude perante a total falta de educação dele e que lhe tivesse feito frente, forte e feio. Veio para o 100nada ameaçar-me. Que eu estava fodida com ele. Que me fazia uma espera. Que descobria onde eu vivia e um dia eu iria ter uma surpresa à porta de casa. Foi à minha procura por toda a net e ia debitando nos meus comentários todas as pessoas com o mesmo nome, moradas incluídas, a dizer, “já te apanhei, agora estás fodida”. E passou um dia a ler-me o babyblog de trás para a frente (na altura tinha contador de visitas). Quando vi aquilo, acho que vomitei de horror. Um doido daqueles a ler a minha vida de mãe, as minhas coisas, as histórias sobre o meu filho. Um asco, um pavor. Fechei o babyblog naquele preciso momento.
Depois, aconselhei-me judicialmente, disseram-me que havia ali mais que matéria para processo-crime. Mas que, quando lhe fossem bater à porta, ele também iria saber quem eu era e onde vivia mesmo. Acabei por desistir da queixa, com MEDO. E na esperança que fosse apenas mais um maluco, que entretanto já fazia grande marcha-atrás nos comentários, desculpando-se que não me ia fazer nada, só me tinha querido “pregar um susto e dar-me uma lição”.
Passei um mês ou dois a olhar para trás de todas as esquinas, de todas as sombras. A entrar e a sair de casa a correr, convencendo o meu filho que estávamos a brincar aos espiões e tínhamos que ir depressa e espreitar primeiro a ver se os maus estavam lá. Nunca deu por nada, foi só uma brincadeira divertida para ele. Durante aquele tempo não dormi, vivi num desespero. Depois o tempo foi passando, o maluco nunca apareceu e as coisas foram acalmando.
Mas não me esqueço. A verdade é que “aprendi uma lição”. Não aquela que me queriam ensinar, mas outra. Queremos sempre proteger os nossos filhos de tudo, do mundo, dos males, dos maus. E depois escarrapachamos as vidas deles nos babyblogs, nas fotos do Facebook? Para quê? Para termos notoriedade, para que vejam como somos boas mães e temos rebentos bonitos? Para mostrar que temos vidas felizes, com sorrisos de crianças fotografados e expostos a toda a gente? Vale a pena?
Hoje tive uma “conversa” no Facebook com o JPG. Ele pediu autorização para a postar e escreveu um post excelente sobre “a segurança e privacidade nas redes sociais – FaceBook”. Aconselho vivamente a ler. E, quando pensarem que os vossos updates estão protegidos e só deixam ver os amigos e etc e tal, reparem bem na mensagem que aparece em todos os testezinhos, todos os presentinhos, todas as mariquices que acedem aos vossos perfis, conteúdos, fotos e demais informações. E a gente a clicar que sim, que autoriza, sem sequer ler o aviso. Poizé.
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Sabes, é por estas e por outras que me agarro ao anonimato. É certo que há muita gente que me conhece mas, no meio dos tantos que andam pela net, é um grupo perfeitamente limitado. Eu entro no grupo daqueles primeiros bloggers de que falavas no outro post: já tive a minha quota de chatices porque também já houve um dia em que era um dos participantes inocentes. Acabei a ver o meu nome a o local onde dava aulas escarrapachados num fórum, à guisa de vingança pequenina de quem não tinha mais nada que fazer. Na altura, o meu nick eram as três primeiras letras dos meus três nomes, muito como depois nos blogues passou a ser uso assinar. Pois eu passei a nick total e mantenho-me assim, apesar de achar que, comparativamente, até tenho poucos rabos-de-palha por onde me tentem apanhar: o blogue (toda a net, aliás) é um vício que mantenho em horário pós-laboral e não comento assuntos profissionais; tive sempre muito cuidado com as minhas imagens que coloquei on-line; não tenho filhos que possam ser atingidos pelas minhas acções e pélo-me de medo com a ideia de que me tentem usar para atingir os meus amigos. Tento sempre preservar-me, mesmo que seja impossível seja quem for estar completamente protegido: não o estamos fora da net; não o estamos na net. E, no entanto, se olhares para a forma como isto vai evoluindo, vês quase uma discriminação contra quem se mantém anónimo: a blogosfera evolui para os fulanos de tal, o facebook apela à total abertura para a vida pessoal, os grupos profissionais precisam mesmo saber os nossos dados. E talvez por isso eu – que até tenho sempre uma dessas coisas, porque quero sempre experimentar – quase nunca uso completamente essas novas ferramentas. Sei quantas pessoas me conhecem pessoalmente, quantas já me viram a cara, quantas sabem o meu nome. Aqueles que não sei como sabem, sei facilmente como chegaram a saber. E o grupo continua limitado e eu vou iludindo-me com uma certa ideia de que ainda não perdi o controlo da minha vida porque estou on-line. E ainda assim estou sujeita e sei que estou sujeita. Por mais que me tente proteger, vou estar sempre sujeita. A qualquer momento posso voltar a dar de caras com um maluco que me ponha a cara, o nome, o contacto, o sítio onde trabalho, tudo on-line. Mas há quem esteja bem mais do que eu. E fazem-no alegremente, sem ler a tal mensagem de aviso em cada presentinho do facebook. Pois eu li e é por isso que ainda não aceitei nenhum. É nossa responsabilidade expormo-nos com cuidado. Se não o fizermos, as consequências podem ser demasiado más, especialmente para aqueles que andam aqui por carolice, sem tentarem obter demasiada exposição. De qualquer forma, é sempre nossa escolha e a exposição também é legítima e até pode ser um meio para um fim. Mas, depois, as consequências terão de ficar com quem optou por se expor – e aos seus – em demasia.
foi exactamente por causa dessa pergunta que hesitei muito até aceitar alguma vez – acabei por fazer um testezinho apenas… e entretanto já desactivei a minha conta.
ao primeiro impacto, o twitter pareceu-me mais exposto, mas agora não acho nada. até porque como sou muito desconfiada, consigo ser bastante antipática nestas coisas – mantenho-me bloqueada e só deixo que me leia quem me apetece (na volta é um controlo fictício, mas prontos…)
1. crianças: um dia, há anos, meti uma foto da minha filha, ainda bebé, a “ler” um livro escrito por um amigo. Foi irresistível, um piscar de olhos para o amigo-escritor. Passados um ou dois anos sentei-me na mesa de uns amigos que ali nos apresentaram um casal de amigos deles, recém-chegados de férias. Um pouco depois chegou a minha mulher com a nossa filha. A senhora, a quem acabáramos de ser apresentados disse “eu conheço esta menina?! V. não tem um blog?” – a senhora, também bloguista, é uma simpatia, entenda-se, e tudo foi uma agradável coincidência. Mas marcou-me bem as fronteiras do que se deve mostrar … em particular com os miudos: que, aliás, têm um direito À privacidade smiliar ao nosso e não devem ser devassados dada a nossa vaidade paternal/maternal (isto para além dos perigos)
2. isto de mostrar ou não, ser anónimo ou não: quem não quer mostrar não abre blog, ponto final parágrafo.
3. o anonimato (para além da cobardia de andar a opinar, quando é esse o tipo de bloguismo, anónimo): abre-se um blog (já nem falo do palanque FB ou quejandos) sob o anonimato, só se diz a alguns amigos (ou até a algum dos bons nicks que se vão conhecendo). Mas depois zangamo-nos com os bons amigos … também, não é?
4. quanto ao maluquinho. Foste mal aconselhada – era apanhá-lo, fazer queixa e divulgar a queixa onde ele andava (vizinhos, casa, trabalho). Piaria baixinho, podes crer
Pois é, querida, é por isso mesmo que me nego a publicar qualquer foto do meu fiho na net. E acho que quem é o faz está mal da tola.
Beijinhos
Nada de pessoal na net, nada mesmo, só o que faço como interesse, o que me interessa pubicar, nada sobre quem publica, que na realidade é irrelevante para o resultado.
muito avestruzes, mesmo, moi meme um pouco
Até posso parecer atrasadinha, mas por estas e por outras é que tenho um medo que me pélo (é assim que se escreve?) por tudo o que seja exposição na net. Não sei quem me lê, e se na vida real há sempre a probabilidade de haver um maluco à esquina, a topar a nossa vida sabe-se lá com que propósitos, aqui nem se fala. Por isso não tenho fotos minhas nem da minha família em lado nenhum. Não tenho filhos, mas dos meus sobrinhos falo só o mínimo: nem nomes, nem datas de nascimento, e muito menos fotos.
Aquilo que te aconteceu não devia acontecer a ninguém. Cheguei a ler o teu baby blog, achava-o uma pérola, e nunca me passaria pela cabeça que alguém o usaria para te assustar como o fez. Gente doente, só pode. E aqui, é muito difícil fazer justiça.
Outro exemplo, que ouvi há tempos no programa do Alvim (A Prova Oral): ligou uma moça que tinha fotos suas e de amigos, perfeitamente normais, no perfil do Hi5. Um dia teve a infeliz sorte de alguém se ter apropriado das suas imagens e as postar, completamente fora de contexto, num blog chamado Porcas do Hi5 (nunca lá fui, nem sei se o nome é mesmo este). A moça escreveu mails aos autores do blog, informando que não autorizava o uso da sua imagem e solicitando que retirassem as suas fotos, e nada. Apresentou queixa na PJ, mas até hoje é atormentada por essa situação, muitos amigos e conhecidos viram as fotos. Pelo que disseram, o blog foi encerrado, mas ela vai ter este estigma em cima para sempre. Um horror.
já tive conta no Hi5 e desisti por causa disso. prefiro ter um blogue onde fale de mim sem que as pessoas saibam quem sou…. por acaso já tinha pensado que quando fosse mãe gostava de fazer um blogue, mas se calhar vai estar aberto apenas às pessoas que eu escolher….
foi exactamente por isto que fiquei muitíssimo admirada quando te ‘vi’ aderir ao facebook. isto é, eu sei como és entusiasta da net e tens prazer em aderir a novidades muito antes da maior parte das pessoas saber sequer o que é! :- ) (tipo second life). mas, catarina… facebook? and what’s the interest?…
(a propósito, sabes que a) a dita plataforma facebook já disponibilizou os dados dos seus 150 milhões de assinantes a empresa/s publicitária/s? b) recuou, mas só por grande pressão, quanto à sua intenção de manter os ficheiros de assinantes que desactivaram as suas contas?)
sabes, criei o meu nick num repente: precisava de um nome que iria associar a um blog secreto, no sentido em que, por de amor ser, e dedicado a um amor, pretendia acentuar isso mesmo: que tal blog não se veria sem ser pela minha pessoa amada (e assim foi); mas, reconheço, o nick corresponde também a uma atitude que insisto em manter na net; é verdade que, mesmo através do meu blog sem-se-ver, ou através dos comentários que posto com ele, já conheci gente (donde, secreta mas não totalmente invisível :- ) ; e, barraqueira como sempre, fui alertada por uma dessas mesmas pessoas que, como tinha colocado no meu blog um link para um ficheiro de que havia feito o upload a partir do meu word, quando se fazia o download de tal ficheiro o word abria com o meu nome escarrapachado!! :- D contudo, salvo tontices infortuitas dessas, tendo a ter cuidado com esta coisa da net. (e por isso mesmo eliminei tal link…)
fotos minhas ou alheias nunca pus – salvo recortadas, no tal blog secreto dedicado ao meu amor (calmaaaaaa… olhos e sorrisos e tal, hein????) – e nunca mas nunca me passaria pela cabeça colocar fotos de filho/s meu/s, se os tivesse.
sem querer entrar em paranóia, acho que é uma atitude sensata, nada mais. previnem-se grandes aborrecimentos e, como alguém aqui já disse, respeita-se a privacidade de outros.
beijos, miúda.
É um tema sobre o qual eu tenho poucos comentários a fazer. Na realidade toda a gente sabe, porque é por demais avisado e está cientificamente provado, que o excesso de sal é um dos principais factores de risco de problemas cardio-vasculares. Mas, referindo-me ao mundo ocidental, geograficamente falando que é o que conheço melhor, a maioria continua a colocar sal na comida. Tal como a bebida, o tabaco, o sedentarismo, etc. Ou seja todos conhecemos os riscos e não acho que seja demais chamar a atenção para os mesmos. É o que me parece querer fazer JPG no texto que referenciaste, como aliás já o teu próprio texto o faz. No entanto, entre as precauções e o radicalismo há um espaço onde podemos estar. Esse espaço chama-se internet e conhecendo-lhe o risco podemos sempre ou quase sempre prevenirmo-nos. Acho por isso que não devemos tratar as coisas com alarmismo para não chegarmos à conclusão que o melhor é “sairmos”. Tal como eu já o fiz com o sal e o tabaco.
Só uma adenda, porque só depois de postar li os outros comentários, para referir o comentário da I.
Ao contrário dessa moça que ligou para o Alvim (nem sei se ao contrário, pois desconheço a intenção, é só uma forma de dizer) todos ou quase todos se lembram da publicidade em causa própria que a Carla Matadinho, até aí uma ilustre desconhecida, fez nos telejornais a propagandear as fotos suas que apareceram na net, não só nuas mas também em sexo explicito. A partir daí foi um subir em flecha. Coincidência?
Cati, lá vou ter que voltar ao FB, para tirar a minha foto…. só está com os Marias, pq era a unica onde eu aparecia!!
Mas acho que estas coberta de razão.
xxx
Obrigada por todos os excelentes comentos (não me tá a apetecer discutir o assunto, mais do que já falei em cima).
O “é por estas e por outras”, o “nunca fiando”, o mito nético, fazem para mim parte de um mundo que não é o meu e que não quero que seja o meu. Não me revejo também no juízo rápido e no adjectivar fácil de quem sentencia: “não está bem da tola” por ter colocado numa rede (insergura sim, como todas as redes o são por definição) as fotografias dos filhos, questionando as intenções e dando por alternativas de explicação o exibicionismo ou o exibicionismo (que é, mas é de amor, que por definição também é ingénuo e, por isso, perigoso). Apesar disso, hoje tirei todas as fotografias que tinha dos meus filhos no Facebook e fiquei mais triste e lembrei-me das dúvidas que senti a cada vez que se anunciou o seu nascimento, estarei a fazer bem ao pôr mais uma criança neste mundo? Claro que sim. Porque acredito nos outros na vida e na excepção que é o mal, o que não quer dizer que pense que só acontece aos outros. Porém hoje cedi, afinal, por mais que todos eles venham a colocar as suas fotos na net, cabe-lhes a eles essa decisão. Essa e muitas outras, como a de se converterem a uma religião, seita ou mopvimento de segurança “anti-retrato”, e não queiram ver as suas fotografias por aí espalhadas. Nessa parte, obrigado Catarina por me ter feito pensar, cair em mim.
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