"Todo-o-Mundo"
Ou “Everyman”, de Philip Roth, foi o segundo livro do autor (o anterior foi o “Património”) que me foi oferecido por alguém que gosta que eu goste de Philip Roth. Ou sabe que eu gosto, ou sabe que eu leio, ou quer que eu pense. Ou qualquer coisa, que com o tio Z. nunca se sabe bem.
Lê-se num salto, aquele, umas horas. E depois digerimos até à exaustão, em dias e dias, onde as frases vão aparecendo, aqui e ali, algumas delas aterradoras. Brutal o livro, brutal esta ideia, tão verídica
“A velhice não é uma guerra. A velhice é um massacre.”
esta coisa da doença que ataca uns e poupa outros, sem qualquer lógica, discriminadamente. A revolta do próprio contra isso, a fúria, a inveja de quem está saudável, a luta contra a doença, a frustração, o desgaste, a solidão. E tudo isto que se entende tão bem, até por nós que já vamos sentido que o tempo não é eterno e que o corpo já teve melhores dias.
Eu sei que não é a altura para escrever este post. Se calhar nunca é. Mas pensei muito quando o li e continuo a pensar. Ainda mais agora, talvez. Esta injustiça tremenda.
- Isto hoje num tá fácil
- Desafio Sonhos
Não li (claro) mas penso tanto nisso. Há coisas que são uma crueladade. Devia-se ficar mais velho mas não ter de se ficar debilitado, definhar e pior, aperceber-se disso. Por outro lado, ver pessoas perderem a lucidez também não é melhor. Nada mesmo. Horrível.
Yep. Mesmo assim, quando penso nisso, antes completamente xéxé do que a babar-me toda e a dar conta. Mas antes disso, que alguém me dê um tiro nos cornos, que se chega a um ponto em que não vale a pena mesmo (não é o caso do livro).
Sem dúvida, o dar conta aí custa é aos outros que nos conheceram lúcidas, frescas e vivaças e… credo, deprimente.
Também vou muito por aí. Claro que dar trabalho é sempre péssimo, mas se a a pessoa tá tontareca, parece-me menos mau para quem está próximo. A perda de dignidade física consciente é um pavor. Já a outra…ainda um dia destes ouvi uma história porreira de uma tia velha de uma prima que vive num delírio total a achar que está na cidade onde viveu durante imensos anos quando era mais nova, todos os dias abre a janela e diz “ah que linda que está hoje tal e tal” e vive feliz e satisfeita, porque (pensa que) voltou pra lá.
Phillip Roth é bestial, estás muito bem a ler um livro dele e de repente levas uma estalada brutal com uma frase que te faz pensar em tudo de uma forma completamente diferente. Que é o que se quer num bom autor e mainada!
É exactamente isso, Leilah, e ele está acima de quase todos nessa parte de nos obrigar a mastigar tanta coisa em que nunca pensámos ou não dessa forma. Para além de escrever como ninguém.
Vi outro dia “Elegy” onde essa frase é destacada.
É baseado num livro dele “The Dying Animal”.
Nota: Vim até aqui via Cristina