E eu, e eu, ó pra mim de dedo no ar!
Eu não sou nada de pegar numa revista de um jornal da semana anterior (quer dizer, sim, essa parte sou, até do mês passado se for caso disso, que não faz diferença ler algumas coisas agora ou daqui a bocado) e tentar equilibrá-la entre o monitor e o teclado, sempre a cair para cima das mãos, para copiar um pedaço de um artigo.
Mas este até o copiava todo.
Na Pública de 22.04.07, capa com o Sandokan dos filmes, o do olho azul cujo nome agora me escapa e o título “Salgari ele já era politicamente correcto”. Lá se era, se não era, na altura não tinha idade para saber o que era isso, de ser politicamente correcto, mas o artigo explica com alguma lógica.
Já que não posso meter aqui as páginas todas, aquilo que me apetece copiar do artigo do Paulo Varela Gomes (pessoa que não faço a mais pequena ideia de quem seja mas de quem fiquei logo a gostar) é esta parte:
(…) “Salgari foi muito provavelmente o escritor mais lido pelos rapazes europeus e latino-americanos (os rapazes, não as raparigas) entre o início do século XX e a década de 70. Deve ser muito difícil encontrar um italiano, um espanhol, um francês, um português, um mexicano ou um argentino, com mais de 45 anos de idade, que não tenha lido os livros de Salgari no início da adolescência. “(…)
Pois tá certo, O Paulo Varela Gomes não poderia saber que, pelo menos uma rapariga portuguesa e com menos de 45 anos, também tinha lido os livros de Salgari. Capas amarelas, lembram-se, rapaziada? Eram do meu pai e dos meus tios e eu uma espécie de peixe de prata, tudo o que fosse papel com letras, devorava. Li todos os que apanhei à frente e fiquei assim, uma criatura salgari-formatada, daquelas que não sai do seu tapete e pensa que se está a afogar assim que mergulha a ponta do pé numa onda, mas com o mar lá atrás dos olhos, cheio de barcos, piratas, espadas, países distantes e mistérios por resolver. E, também talvez por isso, tanta visão a preto e branco mas muito clara, de os bons de um lado e os maus do outro. Uma lírica, em resumo.
Não me fez mal nenhum, creio. Acabei de ler o artigo (que, entre outras coisas, refere o desaparecimento deste autor nos hábitos de leitura juvenis) e disse para o lado: quando fores mais crescido, vou contar-te umas histórias de piratas mesmo boas. O que é giro, nestas merdas, é que os miúdos, por mais nintendos e playstations que tenham, gostam mesmo é das espadas. Estou convencida que, aqui pelos meus lados, ainda se salgari-formata mais uma geração.
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