100nada

Escrito com a ponta dos dedos

É sintomático. Poderia escrever ali em cima “à flor da pele” que é o que é mesmo, mas não me apeteceu. Apenas indico para melhor compreensão da ideia. E é sobre isso, ou talvez não seja bem, com a ponta dos dedos apenas quer dizer que vai o que for e encolho os ombros ao resto.

Hoje aconteceram (várias) coisas, como todos os dias, das quais não me apetece falar; mas há duas, duas que aqui registo, nada a ver uma com a outra, mas estão misturadas, não no conteúdo mas na minha atitude perante as mesmas (e talvez alguma mágoa de ser assim, nem sei, nem sei).

Uma (vamos à mais simples): faz 20 anos que morreu Zeca Afonso (ou fez, que já passa da meia noite). E se há uns anos, já aqui, escrevi também sobre, hoje fui acompanhando a Emiéle nos seus passos e textos sentidos, quieta no meu canto. Não é que não me toque, não é que me tenha desligado, é que deixo as palavras para quem as diz alto e fico-me no meu silêncio, parece-me mais acertado a mim mesma. Há qualquer coisa que quase me obriga a ser não uma pessoa mais silenciosa, mas uma pessoa mais reservada. A idade, talvez, a maturidade, o guardar cada vez mais ferozmente as minhas emoções para fora do papel. Para onde? Não sei, para dentro? E porque não? Já não sinto necessidade de as atirar ao ar e ver onde vão parar. Guardo-as agora (em vez de estoirar com elas) com cuidado, até; não posso dizer, organizadamente, não, isso nunca, mas aquele cuidado com que atiramos todos os papéis para dentro de uma caixa, ao monte, sabendo perfeitamente que lá estão. Digo, desligo-me e se calhar parece mesmo e se calhar até pode ser, mas para mim, em mim, não desligo nada. E daí a outra

segunda coisa; que é tão complicada e essa, não, não é atirada para dentro da caixa no monte de emoções, essa tem lugar certo, só dela e de mais ninguém, na linha das minhas queridas pessoas que amo (amo sim, é essa palavra mesmo que aqui quero usar) profundamente. Há pessoas que eu amo profundamente. Esta é uma delas. Não parece, eu sei, parece um sentimento desligado mas não é, não é para mim, provavelmente deveria ser menos desligado para essas pessoas. Mas é como eu sou, não sou capaz de mudar, não sou de grandes demonstrações a todo o momento, fico de longe…é mau, mas caneco! Não tira nada ao que eu sinto.
E hoje falei com ela. Falei com ela. Que força naquela mulher, meu Deus! Disse-lhe, quando for grande quero ser como tu e ela a rir e eu a pensar que um gajo tem uma sorte do caráças na vida em ter amigas assim que mereciam bem mais de mim do que este meu amor calado e (aparentemente) desligado.

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