Agora é que é (O romantismo causa gripes)

Fim da tarde, casaco fininho, sem guarda chuva, chuva torrencial. Um monte de gente à espera que passe. E eu cheia de inveja dos guarda chuvas e gabardines a olhar para o relógio. Quando o tempo é contado e corrido, não se pode ligar a detalhes como dilúvios. Lá me atirei para o meio do dito.

Nos primeiros cinco passos ainda penso que estou a fazer boa figura. No meio de gente que foge da chuva, dobrados e abrigados sob guarda chuvas virados, sou um filme, uma rapariga que caminha sem ligar à chuva que lhe escorre no rosto…talvez ao som de Summer78 de Yan Tiersen…camara lenta, pingos na lente, cabelos molhados…mas o verão de 78, quente que foi, já passou e os cinco primeiros passos também. Nos segundos cinco descobre-se que a chuva, contrariamente ao duche, é fria. Faz poças no chão que não se compadecem de saltos agulha. Um quarteirão depois, estou gelada. Dois quarteirões adiante, não escorre chuva pela cara, escorre por toda eu, por mim abaixo, por mim adentro, sou uma poça ambulante a amaldiçoar a minha vida, o imaginário filme piroso, os horários, o Yan Tiersen, a porra do post que ia a escrever nos primeiros cinco passos e a hora que ainda vou passar naquele estado até conseguir trocar de roupa.

Uma coisa tenho de admitir. Nunca corri.
(não fosse escorregar e a desgraça ser mesmo completa…)

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