100nada

Ao virar de uma esquina há sempre uma surpresa

E hoje era uma camioneta dequelas que carregam contentores de entulho.

Passo a explicar que a rua se divide numa que apenas sobe, numa que é um beco e numa entrada para um parque de estacionamento. Tudo isto muito cheio de carros mal estacionados.

Antes da bifurcação estava a dita camioneta. Virada para mim, ou seja, em sentido contrário ao obrigatório. Fez marcha atrás e eu pensei, vai deixar-me passar.
Não.
Fez marcha atrás, marcha à frente, marcha atrás, marcha à frente. Até ficar atravessada no meio da rua, com a parte de trás encostada ao contentor de entulho estacionado num lugar pago.

A camioneta tinha outro contentor em cima.

Depois de encostar a parte de trás da camioneta ao contentor, o condutor saiu da camioneta e foi ver. Voltou para a camioneta.

Tentou (pareceu-me) rebocar o contentor.
Mas essa manobra não resultou (talvez porque a camioneta não era um reboque).

Saiu da camioneta, foi ao contentor que estava no passeio e arrumou o lixo lá dentro, umas tábuas, uns tarecos.

Voltou para o volante da camioneta e espreitou pelo espelho retrovisor.

Saiu da camioneta e accionou um coiso de lado. O contentor que estava lá dentro começou a subir. Depois andou para trás. Depois desceu em cima do contentor que estava estacionado no passeio.

O condutor largou o manipulo e foi trocar as correntes do contentor de cima e prendeu-as ao contentor de baixo.

Entrou na camioneta, olhou pelo espelho retrovisor e voltou a sair.

Regressou ao manípulo e começou a içar os dois contentores (nesta altura dei graças a Deus por não ser o meu um dos carros estacionados dos lados dos contentores mas apenas o espectador da primeira fila).

Finalmente, com os dois contentores em cima da camioneta, um por cima do outro, o condutor largou o manípulo, entrou na camioneta, olhou para a fila de carros que se tinha formado, fez marcha atrás, estacionou a camioneta no lugar onde tinha estado o contentor, saiu da camioneta

e foi tomar café ao café ao lado.

E eu liguei o motor e olhei para o relógio. Tinham passado vinte minutos.

É uma alegria, esta merda, ou não é?

0 thoughts on “Ao virar de uma esquina há sempre uma surpresa

  1. catarina

    Espera pelo início de Janeiro e pelo regresso de férias deste tasco e vais ver a choradeira que é sobre ‘eu quero ir viver para o meu ‘mato’!’
    Não é por ser longe, são coisas mais práticas tal como empregos e não separar famílias…

  2. Alberto

    Mas eu estou no Porto. E estive a trabalhar lá… Só não cheguei a mudar. Por “razões práticas”.

  3. Miguel S.

    É mesmo uma grande alegria. Consequências do desenvolvimento 😀 Sendo eu alfacinha de gema, imaginas o que senti quando em Moçambique demorava 5 minutos, a pé, de casa para o escritório lol Ou aqui uns meros 2 minutos…também a pé! Não desperdiçar tempo com anormais e no trânsito, sabe mesmo bem.

  4. catarina

    Eu nem me importo muito com o trânsito, Miguel; como não me enervo vou a pensar na vidinha, a ouvir música, a descomprimir (parece estranho mas é verdade). Agora esta parte do ‘desenvolvimento’ de falta de civismo é que me tira do sério!
    (mas dois minutos para o trabalho deve ser bem simpático…:))

  5. Angela

    Falta de respeito pelos outros é BLÉÉÉCCHHH!
    Porque é que esses senhores acham que são os
    únicos que estão a ‘trabalhar’ e que os outros
    não trabalham nada, por isso que esperem?
    É muito irritante. Muito. E muito.

  6. catarina

    É a atitude típica do tipo estacionado no meio da rua em hora de ponta, a fazer cargas e descargas, Angela. Em países mais civilizados há horas (normalmente de noite) para isso. Cá é, como se costuma dizer, o que temos…

  7. Rita

    Desdramatizano e respondendo ao ultimo parágrafo:
    É uma alegria sim senhora, que este post pôs-me a rir enquanto almoço (estupidamente sózinha em frente a um monitor).
    Adendando – vivo numa cidade pequena e merdas destas também acontecem; o efeito é bastante pior porque aqui ninguém está à espera de demorar mais do que cinco minutos a chegar do ponto A ao ponto B logo, se há um destes desires, está a cidade encrencada.

  8. mana

    Noutro dia houve um que vociferou comigo por tê-lo ultrapassado com uma sonora apitadela quando se dispunha a atravessar-se nas duas faixas. Disse-me que eu não tinha respeito por quem trabalhava (para onde achava ele que eu ia, às 8.15 da manhã?). O que vale é que eu tenho os dedos bem treinados (é do piano!) para o adeus mais adequado e assim poupei a voz.

  9. catarina

    Poder podemos, Angela, não vontade parece não haver muita…

    Rita, eu almocei com a Focus (para variar da Visão das 5ªs feiras, mas não estou nada contente, esta ainda é pior).
    Pois é, não tinha pensado no potencial de encravanço que uma camioneta atravessada pode causar numa cidade pequena. 😉

    Ah ganda mana! :DDD (é a minha mana, vêem, vêem? ;))

  10. Vitor

    Caracas pá, estas gajas. Vêem tudo pelo lado negativo. Uma lição de como manobrar camionetas porta-contentores, de como colocar contentores de lixo uns em cima dos outros, de como estacionar um carro pesado, de como tomar uma bica descontraídamente, tudo isto de borla e ainda se queixam. Gajas, bahhhhhh.

  11. Vitor

    Caracas, esqueci-me de deixar o meu URL. Assim ninguém estaciona no meu blog, nem toma uma bica por lá. Caracas mesmo!

  12. Terapia?

    Pois, a falta de civismo da metrópole, é uma epidemia. Juntamente com a apatia, um mal da sociedade “evoluída”.
    Que saudades quando ia para a escola a pé e não tinha de aturar os atrasados mentais e condutores de rally falhados que populão nas nossas estradas como cogumelos em caves húmidas.

  13. mana

    Hoje vinguei-me a fazer de gaja tonta ao volante, ziguezagueando com “desculpa, sim?” para um lado e para o outro, no meio do trânsito, para fazer chegar o teu afilhado a horas ao teatro. Consegui chegar milagrosamente a tempo, mas acho que nunca guiei tão à filme. E o menino seráfico, no banco de trás (acho que ele estava um pouco em estado de choque, de ver a mãe transformada em taxista de um momento para o outro). A propósito (de natal) o baltazar ficou um mimo! Agora o H já tem um “rei magro” na varanda do seu castelo.

  14. catarina

    (tou aqui a vegetar e a acarinhar uma dela de uma puta de uma dor de cabeça…)

    Vitor, se ao menos fosse alguma coisa que se visse! :DD
    (deixa o url, mas podias era pingar o blo.gs que os teus botões não se conseguem adicionar à minha listinha de actualizados)

    Eu também podia ir a pé, Terapia, mas tinha de sair de véspera…;)

    Ah ganda mana!! (bis).
    O castelo tá muito giro! O rei magro de olhos vermelhos fica lá a matar! Aquele lado do presépio é uma espécie de sucursal da transilvânia…;)))

    Sharquinho. Aí está uma coisa que me escapou completamente; mas se calhar tinha medo que o contentor saisse do sítio ou qualquer coisa dessas, prováveis…

  15. João Pedro da Costa

    Pois é. As mulheres têm sempre um sorriso cinco estrelas (eu imagino o da mana…) para desarmar um gajo. Eu se sorrir, o mínimo que me acontece é levar nas trombas… :)

  16. Eufigénio

    Catarina, olha esta que se passou com a minha sogra em lagos …
    A meio da rua pimba, uma carroça com um burro parada em plena rua, daquelas mais sinuosas e estreitinhas da parte velha de lagos. A estimada senhora, depois de perdida a paciência, põe-se a buzinar. Por fim, lá sai de dentro da taberna ao lado um autóctone. Passo calmo, quase parado, ficando-se mesmo pela porta. Olhava para ela, metitabumdo, e depois para o copo que tinha na mão, e novamente para ela, e depois para a carroça. Ficou-se finalmente olhando para o copo na mão, e lá decidiu partilhar com ela o dilema: “Oh minha senhora, ‘tão e agora como é que a gente faz isto?”
    (E olha que ela não é de inventar muito)

  17. re21

    Eu,passava-me,agarrava num dos contentores e dava uma marretada com o mesmo e com toda a força no condutor da camioneta…