A minha vida de sofá, diário de uma dondoca (2)
Queridos,
Nem sei o que estou aqui a fazer, a meio do Terminal…uma pausa para asneirar na nicotina, de noite logo pago a conta, quando me der um ataque de tosse…cada vez mais arrependida de não ter pedido para me porem uns piercings, acho que iam ficar lindamente bem.
Na minha vida de sofá, tenho constatado inúmeros factos: descobri que o Panadol (500 mg de paracetamol) vem em comprimidos compridos, do feitio de cápsulas e custa quase 3 euros; como já marchou uma caixa, trouxeram-me o genérico: comprimidos iguais, noventa cêntimos. Também não me parece que seja um genérico a martelo, pelo menos faz o mesmo efeito; tirando que estou a escrever este post, o que pode ser um efeito secundário, ou não, ou não…nunca se sabe. Quiçá (muito gosto eu da palavra quiçá e nunca uso; gosto tanto dela como detesto a palavra fugaz, que me lembra sempre uma torneira mal fechada numa botija daquelas que são proibidas dentro de casa e toda a gente tem na cozinha, quando não é na casa de banho: e por falar em esquentadores, não sei se sabem, mas o melhor local para os ter, o mais seguro, é na varanda…as coisas que eu sei, palavra de honra! Sou um depósito de informação diversa quase toda inútil…é o que se arranja, e voltando ao assunto)
Quiçá deliro, pensando que estou normal. Ou é o meu normal, ser normal e pensar que os meus delírios são delirantes, quando na verdade não passam de banalidades normalíssimas…seja o que for, a culpa será sempre do genérico.
Quanto ao chá, está a acabar o de tília e o de cidreira. O que quer dizer que não me apetece camomila, ou verde ou azul às riscas: sou uma criatura tão normal, tão normal que até chateia. Oh que pena! Queria ser um passador cheio de piercings, a barriga toda cheia de diamantes, uma coisa assim étnica, com ar exótico, um look crash como diz a minha mana, mas não sou intelectual…é mesmo gazes e adesivos transparentes. E comichão, se é que me posso queixar um nadinha de nada, um ai aqui, um ai ali, que diabo, um gajo ainda agora foi todo escortanhado, tem o direito de se choramingar ou não…? Não? Bem, então não. Ok, ok. Siga para outros temas, a quinta. Tenho a dizer sobre a quinta que agora que já vi uma vez ou vinte, me parece que aquele Zé C.B. só difere do outro Zé (o das galinhas) porque o primeiro era saloio e este é parolo. Mas são os dois uns inocentes. Escrevam o que eu digo: a vítima é o Castelo Branco, o único verdadeiro inocente no meio daquela história toda, o tolinho da aldeia, o palhaço, o de quem todos se riem.
Mais coisas, queridos, que esta carta já vai longa: os dias encolhem e o frio aumenta. Creio que está a chegar o inverno. Creio que vou acender os aquecedores. Creio que vou fazer outro chá.
Creio, queridos, que já não sou a mesma pessoa que era. Não por ter um bordado a ponto cruz entre o peito e o umbigo (inclusive). Mas por, durante duas semanas, ter vivido à mercê da irracionalidade total que se concretizou na despedida mental que fiz, com uma data de máquinas por cima, quando entrou uma coisa no meu sangue. Sinto agora que o meu tempo é emprestado, ou me foi oferecido de novo: a meio da minha inconsciência, enquanto me furavam toda, algures foi virada a ampulheta que trazia inscrito o meu nome. Ainda sou eu, mas deixei para trás tudo o que era excedentário. E isso, queridos, dá a volta à cabeça de um gajo.
- Regressando ao dvd
- Cem metros de estrada
Não tarda tiras os pontos e isso passa-te. Passado uma semana já nem te lembras, mas o raio do durante tira uma gaja do sério. O raio da comichão é lixadinha. Toma lá o chá de camomila que até é um dos meus preferidos. Aguenta firme que o pior já passou.
Quanto à Quinta, tal e qual. Nem acrescento mainada. E tudo vê, tudo fala, tudo opina. A malta precisa mesmo de fugir desta roda de assuntos sérios e fedorentos que assaltaram o país. Vai daí antes o curral, o chiqueiro e um bobo de serviço que por acaso até é gente no meio da bicharada.
E prontes, vou jantar que se faz tarde.
Kiss
Também vou jantar e ver a segunda parte do Terminal.
Sabes, Maré, quando estava a escrever o post, ainda escrevi (depois apaguei) que o tal bobo me parecia o único ser realmente humano ali daquilo tudo, mas pareceu-me um pouco excessivo. Mas a ideia é assim, mais ou menos essa.
O resto deve mesmo ser do bordado, nunca gostei de lavores…;) Beijo muito grande.
Não tendo sido ainda submetida a qualquer intervenção cirúrgica senão à garganta quando ainda nem sabia que existia, não posso comentar o pós-operatório. Mas parece-me que não será coisa para derrubar um umbigo catarino. Dorme bem.
Bom, é mais ou menos a mesma coisa que a garganta, tirando os gelados. 😉 Bom dia!
(PS: Pá, quanto ao umbigo, lamento, esse foi mesmo literalmente deitado abaixo…)