Com um bocado de medo de me mexer daqui para fora
Porque os anões electricos que vivem dentro dos fios podem resolver apagar as luzes todas outra vez. Tenho medo que, se desligar o computador e o modem, vá abaixo a luz nos arredores. Ou até em todo o distrito. Creio que os anões electricos estão só à espera que eu fume o meu último cigarro. Na verdade nem quero espreitar para debaixo da mesa, pois receio que, na tomada, consiga ainda vislumbrar um par de olhos muito brilhantes (sem olhar sei qual a cor: lilás. Lilás muito clarinho e reluzente, prata cor de lua em noites de nevoeiro). Creio que os anões electricos aparecem ao abrigo de nevoeiros muito baixos, quando a lua vai alta e o olhar é atraído pela luz, esquecendo-se de ver o que vai em baixo: os anões electricos que entram pelas fichas de rua, percorrem curvas de fios e se escondem na minha ficha, todos em fila. O da frente está a olhar para os meus pés e todas as orelhas estão muito atentas ao ruído do meu teclado. Cada vez que paro, há um brilho lilás que quase surge do lado de lá dos meus olhos. Aquele lado que pensa que vê qualquer coisa mas que, quando se vira de frente, a coisa (lilás) já desapareceu. Eu sei porque é. Quando me viro para o lado da ficha, desvio os olhos do monitor e os dedos param. E os anões encolhem-se todos para deixar lugar ao da frente, para que esse consiga dar o passo atrás, o passo necessário para não ser apanhado pelo meu olhar. O que eu receio é que o anão da frente se lembre de fechar os olhos da próxima vez. Porque dessa forma desaparece este brilho lilás que continua ali no limiar do que os meus olhos abarcam enquanto escrevo, e eu não sei se está ali, se foi embora e desistiu, ou se está só à espera de uma pausa maior.
Se amanhã não houver electricidade em Lisboa, telefonem para eu ligar isto outra vez.
- Arrumar a casa
- Quê?
Gostei muito. Beijo
Diria que devias ficar mais vezes sem electricidade. Excepção para a luzinha mágica do modem, é claro.
Beijo, Vanus.
Du, por ti, tudico. Beijo.