100nada

Post(ais) de uma aldeia

Na festa de Nossa Senhora de …os enfeites são poucos e as tendas apenas duas. A dos bebes e a das rifas. As rifas são uma coisa incompreensível – e irresistível. Uns papelinhos enrolados e dobrados ao meio numa bacia de plástico, cinquenta cêntimos e todos têm prémios. Anos a fio trazemos coisas para casa, em literais baldes de plástico e de loiça, bolas e canecas e quadrinhos e bases douradas para candeeiros e jarras de flores pintadas e cadernos escolares e brinquedos com peças a menos e cadeiras e bancos de plástico e etiquetas para malas e roupas e tralha e colheres de pau e jogos de toalhas e coisas e mais coisas e as rifas é o que nos leva à festa a nós e a todos, a bancada de madeira forrada a plástico e aquela traquitanada toda que não serve para nada. E que fica em sentido no jardim (essas porcarias não entram cá em casa!) encostada a uma parede, uma fila de coisas que não queremos mas cujas rifas ajudaram a pagar a festa.

No largo da capela, o conjunto toca umas coisas berradas que ninguém dança. Pouca gente. Quando eu era pequena era tanta gente, tanta. Agora já não. Mas o conjunto muda o reportório e um casal avança. Ela de sandálias de tiras e calças curtas e um xaile vermelho e ele, gordinho e mais baixo, com uma camisa de quadrados. Os netos ficam a ver e aquele casal dança, com os passinhos certos, para a frente e para trás e eu pergunto-me como é que, quando era pequena, me parecia o cúmulo da elegância do dançar à parolo aquele passo que eles davam com a ponta do pé a tocar atrás quando as viravam.
O casal arranca outro da assistência. E eu fico tranquila; afinal há coisas que permanecem sempre iguais: o novo casal de dançarinos são duas mulheres.

0 thoughts on “Post(ais) de uma aldeia

  1. duende

    Enrolei tantas, mas tantas. Tantas que tinha que fechar os olhos quando as ia buscar. Afinal ainda se reconhece o próprio trabalho.

    Os bailes já não são o que eram, mas é verdade: Um baile da aldeia sem duas mulheres a puxar pela malta não é baile. 😉

  2. catarina

    As duas mulheres a dançar uma com a outra são realmente o ex-libris das festas das aldeias. :)

    (Ena, mais de um ano de blog e finalmente uso a odiosa expressão ‘ex-libris’! :DD)

    Santa Cita, são todos iguais, não há dúvida. :)

  3. Mafalda

    Hm, qual foi a coisa mais estranha que te saiu numas rifas? (ou se quiseres outra palavra odiosa…numa quermesse)

  4. catarina

    É difícil escolher, Mafalda, são todas bastante estranhas: talvez a saca de cinco quilos de ração para as galinhas…:D

  5. catarina

    Bom, a mim nem por isso, mas há sempre numa aldeia galinhas a quem faça…em compensação há outras coisas…olha, em vez da caneca, não estarás por acaso precisada de uma base de candeeiro dourada, de loiça, assim de uns 90 cm de altura, gorda no meio e com uns altos relevos em branco na borda? 😀

  6. Mafalda

    Uh…não…eu vivo melhor sem luz. Sou uma vampira, é isso! *limpa o suor da testa*

    just kidding… 😉