100nada

Hoje, só hoje

(porque não convém abusar nestas coisas)
este blog é de mim.

As tuas bolas de sabão, Maré…e as minhas.

Estou dentro de uma bola de sabão.

À minha volta nevoeiros com formas humanas. Formas que eu não distingo. Mexem-se e eu só vejo o nevoeiro a mover-se. Sons abafados pelo nevoeiro. Não se distinguem as cores, é uma massa, uma nuvem sem cor fixa, que muda de forma como se o vento a empurrasse e moldasse. Estendo as mãos para a nuvem e sinto o frio na pele, uma queimadura de gelo na ponta dos dedos. Estou dentro de uma bola de sabão congelada. É tão leve que mesmo congelada não se fixa a nada. Mas as paredes da minha bola de sabão são de gelo. Só posso sair se o partir. Não há regresso.

E se sair sou engolida pelo nevoeiro, transformo-me em nevoeiro, será que depois ainda me distingo a mim mesma? Não sei. Talvez seja preciso uma pessoa tornar-se nevoeiro para conseguir sair de dentro de bolas de sabão congeladas.

pt.conversa, Nov. 2001

0 thoughts on “Hoje, só hoje

  1. Maré

    Interessa é que voem linda. Importa é que nos levem leves por muito pesadas que sejam.
    Caminhadas longas, via láctea sinuosa, mas sempre voando, sentindo e soprando quente para diluir o nevoeiro. O sol um dia desponta por trás das nuvens espessas e o gelo derrete devagarinho poisando-nos em câmara lenta na beira de um rio fresco onde nenhuma mão destrói o que podemos nós criar.

    Beijo fofinha

  2. Nelson Santos

    Põe a mão, na bola de sabão da Galileia…

    ‘Pera lá, isto não faz muito sentido…é o que dá textos profundos…depois perco-me!

  3. catarina

    Ontem ainda respondi à Maré, mas a net já tinha ido abaixo quando fiz o send do comentário…para dizer que três anos é muito tempo, aprende-se muita coisa: perdi o medo dos nevoeiros e das coisas vagas e até geladas: o que assusta é aquilo que se vê, o resto é imaginação. :)