100nada

Ai!

Quando se sente uma dor repentina no nariz, como se alguém nos tivesse enfiado uma valente cabeçada, apanhando-nos distraídos, quando isso acontece, não passa de um gesto muito rápido que aconteceu sem sequer se ter tido tempo para pensar: a própria mão que se enganou no caminho para a palmada na testa.



Já se podia fazer um balanço

O tempo na blogsfera passa tão depressa que eu, neste momento, já tirei as medidas ao facto de ter deixado de ter comentários aqui no blog. Já tenho as reacções todas, os tipos de reacções, desde apoios inesperados até às birras mais gritantes.
Mas vou deixar passar um tempo até escrever sobre o assunto. No entanto, não resisto a dizer que é bem certo que uma pessoa só vê mesmo quem está do lado dela nos dias complicados.


O post a começar

e os cigarros em riscos de acabar…(azar)

Estava a meter o doce de morango em cima de uma fatia de queijo, não gosto da parte dos morangos inteiros e ia pescando o doce à volta deles e ó que surpresa, estava a pensar no meu blog. Uma pessoa pensa nessas coisas quando calha, não pára propriamente a vida para matutar em blogs e quejandos. E lembro-me que peguei na colher que ali estava ao lado e só depois me lembrei que, se lá estava, era porque tinha sido usada para abrir a máquina da roupa (long story que envolve um fecho meio partido). Mas nessa altura já tinha enfiado a colher no doce, segui para bingo.
Não, não é uma parábola manhosa. É mesmo só para situar o post, ou melhor, o pensamento que me levou, mais tarde, isto é, agora, a escrever o post. Eu sei que era um pensamento muito bom. E estou a descrever a cena toda, a faca afiada (no afiador! agora não quero outra coisa!) a cortar uma fatia de queijo, o doce já no prato e um morango fugitivo da pesca do doce-sem-morangos já no prato, e eu a pensar (no blog também) se o deito fora ou se o deixo lá e não o como, e descrevo a cena toda pela simples razão de me lembrar do tal pensamento importante.

Mas não sou capaz de me lembrar. Só me lembro do morango.


De mão estendida, essa puta de vida

Cada vez que vou de carro e páro e olho para as pessoas ao lado, mesmo ali ao lado, à espera para atravessarem (ou qualquer coisa, não atravessarem, por exemplo) penso sempre, gosto de ver pessoas. Quando me cruzo com elas na rua, não posso gostar tanto de olhar para pessoas, porque vou a andar e porque fica um bocado estúpido parar só para ver pessoas a passarem por mim. Está a olhar para onde, arriscar-me-ia, se parasse para olhar…embora pare, sim, paro de repente, às vezes tem de ser mesmo. Não sou basbaque de desgraças mas sou muito curiosa (voyeur?) de ver a vida a passar por mim, distraída com ela mesma, a pensar para dentro, a olhar para o relógio, a marcar números em telemóveis, a olhar para as montras: sou vidrada em gente que passa.

Dentro de um carro parado num semáforo é a melhor forma de ver a vida a passar. Ninguém estranha que se olhe para fora naquele momento entre um vermelho e um verde. E a vida passa, encasacada, de sacos na mão, sozinha ou a conversar para o lado, apressada e elegante, pobre e miserável, lenta e velha, de todas as maneiras, de todas as cores, com todas as caras. Às vezes, a vida bate na janela do carro com uma criança ao colo. Ou entrega uns papéis que recolhe antes do semáforo cair para verde, com a mão estendida. A vida a estender-nos a mão enquanto a outra ampara o filho (?) e a gente a abanar a cabeça, a dizer que não, a pensar na cadeira de bebé do banco de trás e a continuar a acenar que não, que não, que há gente como tu, vida, que se faz a ela (vida), em vez de estender a mão e ficar à espera. Ou então os papéis não são de recolher e anunciam mais um condominio por construir que vai ter jardins e árvores e que bom que será para as crianças (mas quais, quais?) e, nesses casos, abrimos a janela à vida (só uma nesga que está frio) e recebemos o panfleto que vai para o chão do carro e depois para o lixo mas pensamos: coitada da rapariga, do rapaz, quanto mais cedo despachar esses panfletos mais cedo vai para casa contar o ordenado que ganhou na distribuição e estamos a ajudar quando estendemos a mão para receber a publicidade, não é?




A descampanha eleitoral

ou então é de mim.

Nunca na vida me desinteressei tão activamente por uma campanha eleitoral. Não tenho a mais pequena paciência, mesmo havendo alguma dúvida quanto ao resultado. Acho-os todos fracos, muito faladores e pouco convincentes e já desliguei. Como o voto é secreto, para mim o meu também será até chegar ao cubículo de caneta e boletim na mão. E depois, logo se verá.

Gosto de alimentar, de vez em quando, algumas alucinações políticas, que, se tivesse tempo e paciência (e algumas coroas a mais), acharia imensa piada levar para a frente. Uma delas era fundar um partido que se chamaria

Legalize!

até porque sou completamente isenta no assunto. Opções minhas que não interessam minimamente, mas que não retiram em nada a minha posição sobre o assunto. Legalize.

O Legalize! seria um partido de gente um tudo nada alucinada, um tudo nada ganzada (tinha de ser por uma questão de coerência) e um tudo nada um bocadinho off das grandes questões. Gente que beijaria na maior as peixeiras, as tias das peixeiras, as netas das peixeiras, os talhantes (sim, esses desgraçados ignorados, sempre postos de lado nas campanhas eleitorais, não se sabe porquê, mas talvez por não gostarem de ser beijados pelos políticos e as senhoras políticas serem uma cambada de coiros que ninguém, no seu juízo perfeito, gostaria de beijar, tirando, evidentemente, a família e amigos), os tios dos talhantes, os netos dos talhantes, enfim, a lista toda do pequeno comércio, das grandes empresas, clero, burguesia, nobreza e do povo em geral, o Legalize! faria da beijoca entusiasmada o seu braço levantado.

Nas grandes questões, desde as entrevistas cujas perguntas são enviadas previamente aos entrevistados para que um batalhão de criaturas as possam respoder em condições (?) até aos gaguejados debates televisivos, o Legalize! teria sempre uma série de respostas
prontas, decisivas e totalmente abrangentes.

– Ora, então o vosso partido em relação à política externa…
– Somos a favor.
– Mas a favor de…?
– A favor, pá.
– Mas expecificando…
– Pá, não compliques. Somos a favor e mai nada.

– Ora então o vosso partido em relação à questão dos lixos…
– Somos a favor.
– Mas a favor de…?
– A favor, pá.
– Mas expecif..
– Pá. Não compliques. Somos a favor que se resolva.
– Mas que se resolva o quê exactamente?
– Que se resolva a questão dos lixos, claro.

– A privatização dos hospitais públicos…
– Pá. Não compliques. Se são públicos não são privados, tazaver?

– E a vossa posição na legalização das…
– Legalize!
– ..ia a dizer das putas…
– Legalize também!

Mas, outras vezes, penso:
– será mesmo preciso (mais) um partido assim???



Um lugar mais que comum

Toda a gente já pensou, disse, escreveu. E todas as vezes que eu caio na asneira de comprar o jornal, penso, digo e, desta vez, escrevo.
Lá vai o Expresso para o lixo, porque eu não tenho paciência para ler aquelas folhas enormes, nem em cima de uma mesa. Sobra a revista que, tirando uma coisa aqui outra ali, está uma bela merda. Vá lá, sempre me consola saber que a faltinha de inspiração não bate só para os meus lados, também ataca os consagrados.