100nada

O tempo do silêncio

Há uns anos
tudo isto começou com um post sobre o silêncio de uma noite em que faltou a luz. Não foi aqui e pode dizer-se que foi noutra encarnação ou galáxia, tal é a distância que me separa dessa criatura que se atreveu a escrever, escrever de repente e de seguida, aquilo que até aí ficava em pedaços de papel espalhados até se perderem.

Não foi um post sem consequências. Foi o calhau no lago. O calhau no lago…para não dizer a experiência atómica no atol. Estou carregada de consequências, marcadas na pele pelo malfadado post e a puta daquela ideia. Paciência. A criatura transformou-se em eu-agora, quer eu queira quer não. E eu, criaturinha medonhamente narcisista e egocêntrica, quero. Quero sempre ser aquilo que sou.

Na altura, aquele post foi arrancando outros. No fim daquela série, por várias razões, zanguei-me. E meti um post, que supostamente representava o fim da minha participação ali naqueles moldes, que se chamava

o tempo do silêncio

e não tinha nada escrito.

O título deste não é uma escolha despropositada.
Que seja um tempo de silêncio para mim, que quero ser aquilo que sou. Eu. Eu. Eu. Sei (eu eu eu) que o silêncio é só uma ilusão. Mas com o som desligado, talvez seja possível ouvir o que (eu eu eu) quero realmente escrever.


O sistema de comentários

A Vieira do Mar tirou o sistema de comentários. Tenho pena, mas percebo perfeitamente as razões porque o faz.

Eu não tenho “cromos repetidos”. Tenho uma sorte imensa em ter uns comentadores bestiais. Gosto imenso dos comentários do meu blog, gosto imenso que escrevam coisas muito boas, sei que cá vêm também por isso, para ler os outros. Este meu tasco, como diz um amigo meu, é uma espécie de café da moda, onde as pessoas vão parando e trocando dois dedos de conversa amena, simpática, e eu gosto disso, gosto muito disso. Que não existam dúvidas.

Mas

estou a pensar tirá-los.

Acho que preciso de ficar uns tempos sózinha, dentro de uma redoma de silêncio. Custa-me horrores, mas não vejo alternativa.


Digital

Digital.
Tudo letras.

Disseste-me não são pessoas, não percebes? Basta desligares o botão. E eu, são, são, são, são, são sim, são pessoas, são pessoas atrás das letras, estás enganado, tu é que és só letras, tu é que não tens substância nem quando estás de carne e osso, tu é que não és pessoa, não passas de uma invenção tua para disfarçares o vazio que tens dentro…

…mas tens razão quanto ao desligar o botão.
Hoje sou só letras.



Chateada

Estou chateada. Chateada, enfadada, entediada. Com uma depressão do tamanho das casas e enjoada de net ainda por cima. Deve ter sido de ter dormido demais…há dias fodidos. Este não é desses, é só um não-dia.
(estarei a chocar uma puta de uma gripe?)



Um fadinho

Deixem-me estar sossegada, quieta, calada. Dói-me a cabeça, estou cansada. Numa livraria enervo-me que trocaram as mesas da entrada (mas encontro aquilo que procurava). E a farmácia da esquina, inexplicavelmente fechada.
Não perguntem por mim, que estou sem nada.


Hum.

– Iada iada iada iada iada iada iada…
– Hum.
– Iada iada iada iada iada iada iada…
– Hum.
– Iada iada iada iada iada iada iada…
– Hum.
– …(silêncio)…
– Hum.
– …(silêncio)…
– Hum.
– …(silêncio)…
– Hum.
– Sabes o que é que me irrita?
– Hum?
– Não é que respondas hum quando eu falo. É que continues a responder hum quando eu estou calada!