Hoje, para variar, resolvi ver as notícias na televisão. Mas atrasei-me, não apanhei nada e fui fazer um zapping, meio aborrecida. Estou a mudar os canais sem grande convicção e, eis senão quando, para meu grande espanto, me aparece uma criatura vagamente familiar a mugir uma vaca num cenário que também já tinha visto em qualquer lado.
Parei.
A criatura estava a mugir a vaca com imensas pulseiras e quando o homem ao lado disse ‘a menina que é de Cascais’ eu caiu-me a moedinha e percebi que a segunda quinta já tinha começado. Claro, o meu lado sopeira desatou logo a enfernizar-me o juízo e fiquei a ver um bocado, porque nem sabia muito bem quem participava (e continuo sem saber: ou é de mim que ando a ler pouca imprensa cor de rosa, ou aquilo são celebridades lá para os amigos deles; adiante.)
O programa é igual ao outro, com a diferença que o burro parece estar com uma doença de pele e a Júlia Pinheiro tem um penteado solidário com esse facto. Eu gostava dela na Má Língua, acho que é uma rapariga desempenada e tem filhos para criar, o desemprego é grande, pois com certeza, acho muito bem que apresente aquilo. Eu é que não tenho de ver e já ia a prosseguir com o zapping que ainda nem tinha chegado à Sic Mulher, quando a oiço referir que agora ia falar uma pessoa ao telefone.
A curiosidade foi maior e tirei o dedo do botão do comando. Ela disse qualquer coisa como ‘está lá?’ e do lado de lá aparece a voz do José Eduardo Moniz. Conversa de início e ele teria umas televisões ao lado e estava a ver a quinta? Que não, que estava a ver os pés, ou coisa parecida. Os pés? (pensei eu) e ele continuou a explicar que estava num bloco operatório e lhe estavam a meter parafusos e um placa nos ossos. Dos pés, acho eu. E estava ao telefone. Com a quinta. A conversa a partir daí passou ao surrealismo puro. E não tem dores? Que não, estava com uma epidural que até o deixava muito bem disposto. Ah isso é mais nas mulheres, respondeu a outra muito esperta…e ele estava a ver? Que não, só pelas televisões é que via o que lhe estavam a fazer porque tinha um pano à frente. E que estava a correr tudo muito bem e que os nossos médicos eram bestiais e que o estavam a tratar muito bem e que ele até conseguia assim desta forma mostrar bem o espírito de uma televisão diferente…
Uma televisão diferente?
Uma televisão onde o director geral telefona a meio da operação para lhe desejarem as melhoras na hora do pico de audiência? Mas e o que é que se quer com isto? Motivação dos colaboradores? Demonstrar as qualidades de anestesia das epidurais? Da telefonia móvel e da capacidade das redes dentro dos blocos operatórios? Distrair os médicos?
E a pergunta principal:
Porque é que nós, telespectadores, não tivemos o direito de ver também o que ele estava a ver nas televisões dele? Porque é que só ficamos com o som da voz e um cheirinho a éter e não podemos ver os parafusos a serem enfiados nos ossos dos pés do José Eduardo Moniz? Hein?
E digam-me por favor…isto é de mim???