100nada

Pás

Gosto de ventoinhas, de hélices, de pás compridas e ergonómicas a cortarem o ar. Gosto da ideia de cortar o ar às tiras, gosto da forma como, em velocidade, não se distinguem e se transformam numa névoa palpável (e fatal para os dedos e os braços e os corpos inteiros e para os pombos e os peixes – nunca pensei nas hélices dos barcos a cortarem peixes, mas deve acontecer).

E, no entanto, ao escrever o título do post, a imagem desapareceu, substituída pela de uma simples pá. Um cabo de madeira, aquela parte de metal em colher. Como se a ideia fosse um vento feito de ar às riscas de velocidades e umas postas de eventuais danos causados; mas na realidade, aquilo que nos faz são uns torrões de terra escavada e um pedaço de rega. O resto, mais alado, corre o risco de ser (igualmente) um dano causado.



Comentários no Afixe

Antes de ter lido os posts ontem de madrugada, já sabia (eu cá sei de tudico, tudico, sou uma rapariga sempre muito bem informada) que o Afixe tinha estado debaixo de um brutal ataque de spam ontem. Agora os comentários não funcionam. A minha total solidariedade e está aberto aqui o meu tasco para comentarem, queixarem-se, refilarem e maldizerem a net, o spam, os blogs, a falta de comentários e outras coisas assim, que nos tiram a qualidade de vida de blogger.



Hidden things

O melhor esconderijo é sempre aquele que fica à vista de toda a gente. É sempre a mesma imagem que me ocorre, sempre a mesma (verdadeira, tirei-a eu) fotografia: uma coisa simples, duas pessoas à procura de uns envelopes num jardim, as duas dobradas a levantarem pedras e folhas; ao lado, uma grade, os envelopes encaixados nos quadrados de metal. Completamente à vista, absolutamente escondidos (eu sei, escondi-os eu). É assim que melhor se escondem as coisas, completamente expostas, absolutamente silenciosas.
Não é enquanto se fala, é quando se cala (ou qualquer coisa assim, nunca me esqueço de nada, nem quando o tempo cobre de betão as memórias, a frase não seria essa, mas troco-a aqui pela versão curta); é esse silêncio. Não é o silêncio manso do que não tem palavras, mas o silêncio das palavras cortadas, censuradas. O silêncio de decibéis surdos que cresce até se tornar quase insuportável.
E nessa altura, quando só existe uma imensa vontade de fugir com as mãos a tapar os ouvidos, faz-se uma coisa muito simples: agarra-se nesse silêncio e

faz-se qualquer coisa, que não sei o que é.


Post removed by author

Este post não o escrevo. Uma pena, ia (quase que apostaria) sair excelente. Mas não posso, isto é um blog: coisa séria portanto. Coisa lida.
O simples facto de o escrever, mesmo removido, é também coisa lida. Mas mais importante que isso para mim: é coisa escrita.