100nada

Hidden things

O melhor esconderijo é sempre aquele que fica à vista de toda a gente. É sempre a mesma imagem que me ocorre, sempre a mesma (verdadeira, tirei-a eu) fotografia: uma coisa simples, duas pessoas à procura de uns envelopes num jardim, as duas dobradas a levantarem pedras e folhas; ao lado, uma grade, os envelopes encaixados nos quadrados de metal. Completamente à vista, absolutamente escondidos (eu sei, escondi-os eu). É assim que melhor se escondem as coisas, completamente expostas, absolutamente silenciosas.
Não é enquanto se fala, é quando se cala (ou qualquer coisa assim, nunca me esqueço de nada, nem quando o tempo cobre de betão as memórias, a frase não seria essa, mas troco-a aqui pela versão curta); é esse silêncio. Não é o silêncio manso do que não tem palavras, mas o silêncio das palavras cortadas, censuradas. O silêncio de decibéis surdos que cresce até se tornar quase insuportável.
E nessa altura, quando só existe uma imensa vontade de fugir com as mãos a tapar os ouvidos, faz-se uma coisa muito simples: agarra-se nesse silêncio e

faz-se qualquer coisa, que não sei o que é.

0 thoughts on “Hidden things

  1. Vicktor

    Querida Catarina. Pouco comentarista mas atento leitor. Contnuo a encantar-me com os teus escritos e com o teu humor.m beijo.