e eu não consigo escrever há uns dias com esta carrada de espinhas atravessadas na garganta. Bolas. Ando eu com paninhos quentes para não magoar pessoas de quem gosto, ora que coisa, vai mas é tudo em frente e sairem-me dela (da frente) que não estou para continuar aqui engasgada com estas merdas todas que me chateiam e incomodam e me impedem de andar aqui olaré laré hi-hu com as tranças a voar, enquanto desço os montes aos pulinhos atrás das cabras.
Esta porra toda pode olhar-se de duas maneiras (acrescidas de mais umas duzentas mil nuances):
– ou um gajo acha que andamos todos a descer montes atrás das cabras nos olarés e depois as letrinhas apagam-se com um desligar do botão e cada um vai à sua vida e já nem se lembra do que escreveu ou do que leu e é perfeitamente indiferente de qualquer forma porque nem é para levar muito a sério nem é para ligar muito nem sequer é assim muito sério, é um hobizeco e é giro ter um blog e é tudo virtual sem qualquer sentimento;
– ou um gajo acha que andamos todos a descer montes atrás das cabras nos olarés e depois as letrinhas apagam-se com um desligar do botão e cada um vai à sua vida e depois, a descascar as batatas para o jantar ou a fazer um zapping ou a ver umas montras, enquanto vai pensando vagamente que tem de comprar mais arroz ou que este canal Sic Comédia é genial ou que aquelas tarocas ficavam a matar se não fosssem daquela cor, salta-lhe um coelho da cartola dos neurónios (secção das coisas-chatas-que-um-gajo-nem-quer-saber) e diz o dito coelho: Não sei se reparaste mas aquilo não era para rir. Ou era, mas não era para te rires. Era para toda a gente se rir menos tu. É que é para rir mas é para rir de ti. Qual aquilo, pensa um gajo, ainda a pensar em cogumelos salteados com as batatas, mas o coelho já está a morder outra vez, estás a fazer um figurinha mesmo bacoca, não sei se reparaste. É que é bem provável que se estejam a rir de ti. E um gajo a cortar-se na lata dos cogumelos, irrita-se e diz, epá, coelho, não me maces, não vês que estou aqui com coisas entre mãos, entre as quais agora sangue meu e por tua culpa que me distraíste, deixa-me em paz ou vais fazer companhia às batatas que agora os cogumelos estão em cabidela, não vês que é tudo letrinhas e eu tenho mais que fazer?
E o coelho, muita chato, é letrinhas, ó cretino, mas alguém as escreve. Já pensaste nisso?
É esta porra toda. Mais as duzentas mil nuances e reacções: pequenos crimes entre amigos. Montes de letrinhas que se transformam em coelhos que chateiam. Claro que um gajo tem sempre a opção de escolher cogumelos frescos em vez de enlatados. E tem sempre a opção de pensar que são só cogumelos (algumas vezes, um bocado alucinogéneos) e não é para dar muita importância. São opções.
O engraçado é que, à medida que vou escrevendo mais tudo se transforma em letrinhas. Há uma justa medida que não sei qual é porque varia. Umas vezes é indignação total. Outras, como tenho em mim um pedaço de sacana-filho-da-mãe-tamanho-XXL, estou-me bem nas tintas. No fundo, um gajo quer ser decente. Mas aqui na blogsfera é muito fácil largar o sacana-filho-da-mãe que há em nós e ir morder uma perna, um braço, a cabeça de alguém. O mordido só tem de ter as vacinas em dia e nunca descurar a da raiva. E toda a gente sabe que as vacinas são as doenças lá para dentro, em estado mais suave, para que seja possível criar anti-corpos.
Dessa maneira, quando for mordido, não apanha a doença.
Mas enfim, eu gostaria mais que se mordessem apenas os bichos do nosso tamanho. É uma questão de equilíbrio. Não me parece que tenha piada morder criaturas inofensivas. Quando se morde uma criatura inofensiva, dá um certo ar de não se ser capaz de morder um bicho mais duro de roer.
Mas cada um sabe o que morde. (Ou morde o que sabe.)
E eu também. Sei muito bem.