Mas a Hipatia disse-o melhor que eu:
Descendente de um anarquista que sempre pagou demasiado caro ter a coragem de pensar fora do pensamento instituído, seria talvez de bom tom falar contra a regulamentação seja do que for. E, no entanto, não faz sentido. Viver em sociedade implica viver segundo regras. São essas que nos garantem a continuidade do próprio corpo social. Estando este, quase sempre, organizado sob a forma de um Estado, será natural que esse mesmo Estado tenha como uma das funções regular a sociedade. E é por isso que temos leis e que somos obrigados a respeitá-las. Não porque uma qualquer entidade pidesca e oligárquica o exige, mas porque até agora ainda ninguém conseguiu provar que existe outro modelo melhor.
Ora, sendo que a lei, em última instância, garante a própria liberdade que todos abrimos a boca para exigir, porque não haveria a lei de estabelecer onde acaba a liberdade de um para que comece a liberdade de outros? E porque raios haveriam os blogues de escapar, incólumes, à regulamentação de uma actividade que tantos gostam de promover como “melhor do que”, “menos comprometida do que”, “mais séria do que”?
Não tendo nada a temer, não me assusto facilmente com polícias. Saber que haverá uma entidade que tentará resgatar direitos e deveres iguais não me assusta. Assusta-me muito mais o descontrolo, a ignorância com que se fazem apelos e acusações, se despenalizam os abusos, se vêem plágios e tretas que tais em catadupa, se fomenta a mesquinhice de quem acha que tudo pode só porque não há nada que o impeça, nem que aponha a culpa a quem fez.
Quem tem medo do lobo mau? Talvez quem tanto grita lobo que, quando o lobo realmente aparece, já nem se pode acreditar.
(O facto de eu, pessoalmente, achar que esta ERC não vai conseguir evitar seja o que for daquilo que todos sabemos que vai mal, nem tem nada a ver com aquela que me parece a verdadeira questão em debate: quem não deve não teme.)
Hipatia, em comentário abaixo