100nada

Olha, era isto mesmo.

Mas a Hipatia disse-o melhor que eu:

Descendente de um anarquista que sempre pagou demasiado caro ter a coragem de pensar fora do pensamento instituído, seria talvez de bom tom falar contra a regulamentação seja do que for. E, no entanto, não faz sentido. Viver em sociedade implica viver segundo regras. São essas que nos garantem a continuidade do próprio corpo social. Estando este, quase sempre, organizado sob a forma de um Estado, será natural que esse mesmo Estado tenha como uma das funções regular a sociedade. E é por isso que temos leis e que somos obrigados a respeitá-las. Não porque uma qualquer entidade pidesca e oligárquica o exige, mas porque até agora ainda ninguém conseguiu provar que existe outro modelo melhor.

Ora, sendo que a lei, em última instância, garante a própria liberdade que todos abrimos a boca para exigir, porque não haveria a lei de estabelecer onde acaba a liberdade de um para que comece a liberdade de outros? E porque raios haveriam os blogues de escapar, incólumes, à regulamentação de uma actividade que tantos gostam de promover como “melhor do que”, “menos comprometida do que”, “mais séria do que”?

Não tendo nada a temer, não me assusto facilmente com polícias. Saber que haverá uma entidade que tentará resgatar direitos e deveres iguais não me assusta. Assusta-me muito mais o descontrolo, a ignorância com que se fazem apelos e acusações, se despenalizam os abusos, se vêem plágios e tretas que tais em catadupa, se fomenta a mesquinhice de quem acha que tudo pode só porque não há nada que o impeça, nem que aponha a culpa a quem fez.

Quem tem medo do lobo mau? Talvez quem tanto grita lobo que, quando o lobo realmente aparece, já nem se pode acreditar.

(O facto de eu, pessoalmente, achar que esta ERC não vai conseguir evitar seja o que for daquilo que todos sabemos que vai mal, nem tem nada a ver com aquela que me parece a verdadeira questão em debate: quem não deve não teme.)

Hipatia, em comentário abaixo

0 thoughts on “Olha, era isto mesmo.

  1. Rui MCB

    Pois… BOm, mas como disse no blogue do PQ resolvi levei a coisa à séria:
    Alinhei na dialéctica lá pelo adufe, num texto que contém palavras como imiscuir, pleonasmo e também parva e cú. Ao bom jeito de um blogue dos sete costados. Ou por outras: um legislador que não sabe distinguir um sistema operativo de código livre de um vírus informático e que aparece com tanta ligeireza prever acção do Estado de forma de generalizável junto de tudo o que seja caganita de opinião tira-me do sério.

  2. Vieira do Mar

    olha, olha, um assunto tão bom para meter o bedelho e mandar uns bitaites jurídicos…pena ser fim-de-semana (é que linha editorial é outra, aos fins-de-semana…LOL!)

    beijinhos, cat!

  3. catarina

    Rui, já te respondi lá no teu post (que me parece que uma coisa é a opinião e outra algumas ilegalidades ou coisas feias que se cometem nos blogs), mas de qualquer forma, até pensei que ontem tinhas levado a coisa um bocado para a brincadeira e só depois do comentário do JPT, tinhas então ficado mais sério.
    Se é para censurar opiniões, então claro que partilho aquilo que tu pensas, como me parece que qualquer outra pessoa partilhará.

    Vieira, aguardo com ansiedade os teus bitaites! Beijinhos! :)

  4. Hipatia

    Xii, Cat. Não sei se disse assim tão bem :S Mas obrigada por achares :)))

    Quando escrevi o comentário não tinha lido a tua adenda. E nem parei bem para pensar. Estava, por exemplo, a lembrar-me de todos os casos de plágio que já vimos, ou dos anónimos nas caixas de comentários, a perseguirem alguém só porque apetece e lhes é permitido. Estava a pensar nos que usam blogues para fins muito, mas mesmo muito duvidosos, só porque podem. Estava a pensar na sensação de impotência que se reflecte na tua adenda. E generalizei. Nunca é boa ideia generalizar, especialmente em casa alheia. E claro que tens razão no que dizes acima: se nos quiserem cercear o direito a uma opinião, então estamos contra, obviamente. Mas até os censores têm de prestar contas, se forem contra o direito à livre opinião que Abril nos concedeu, certo?

    (Ando a tentar meter férias do meu blogue e, depois, venho escrever testamentos para os blogues dos outros. Desculpa qualquer coisinha:))

  5. ML

    Pois é isso mesmo.
    Por acaso nem tinha dado por esta história até há bocadinho, e depois do 1º susto ( porque caí num dos blogs alarmistas ) vim aqui ter e comecei a entender um bocado.
    Completamente de acordo!!! Tão de acordo que te copiei lá para o Pópulo, porque no que está bem não se deve mexer…
    E por mim, acho que a conversa pode mesmo ficar já por aqui!

  6. amok

    …pois é, mas…nem todos os filhos de peixe sabem nadar…e ser descendente, nem q fosse directa!, de anarca ñ garante nada!, e hoje em dia, a garantir, parece q o faz para o lado oposto…assim tipo: ‘ai o meu pai é do dragão?, então eu sou águia!’…faz parte…:->

    …além de q certas utopias são(eram!) assumidas por vivências directas, ñ por influências filiais…é q implicam muita aprendizagem…prática!:->

  7. hipatia

    Pois, Amok, mas se há coisa que aprendi – e deve ter sido por vivências directas e muita aprendizagem… como é que era mesmo?… prática (hmm) – é não me assustar só porque alguém grita lobo. Mas isso às tantas é por influência directa da filiação, coisa que nem todos entendem ou querem entender. Capicci?

    E suponho que o comentário fosse para mim, porque se o estavas a dirigir à Cat (ou à forma como a família da Cat a ensinou a nadar), então é que falhaste mesmo o alvo.

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