100nada

Posto, não posto…?

Pois é, rapaziada. Sim, vós, caríssimos leitores. Acabada de aterrar outra vez na realidade depois do final da maratona Jóia da Coroa, últimos 4 dos 14 episódios que consegui ver em 3 dias (ou noites, se preferirem a precisão) [Emiéle, exacto, saiu em DVD e eu não descansei enquanto não vi tudo e aqui sustenho que é a mellhor série da minha vida e depois de rever o Brideshead logo direi se esta decisão se mantém], acabada de aterrar na realidade depois de tudo aquilo (o último episódio, meu Deus, e aquela parte – no 12º? – em que se discute a moral superior ou cobarde e a Sarah diz que prefere essa última: que a moral superior é uma desculpa para as pessoas que não conseguem ver os dois lados das questões) fico aqui, a escrever (era capaz de escrever toda a noite mas escrever sobre uma coisa que as pessoas se lembram vagamente dos anos oitenta, era uma grande seca para o leitor e este post é para os caríssimo leitores) a engonhar em indecisão.

Tenho ali um post em draft sobre o EJM (Efeito João Miranda) na blogoesfera. Ou parte da dita, a qual até prezo bastante. Mas isso levar-me-ia a lados que não me apetece: a minha primeira regra e quase me esqueço dela quando me irrito com coisas que leio e que sinto que não foram devidamente pensadas (e não estou a falar do João Miranda!), NÃO SE DISCUTEM COISAS SÉRIAS NA BLOGOSFERA. NÃO VALE A PENA. Já à mesa de um café, entre amigos, sabe Deus, como às vezes é difícil tentar que vejam os tais dois lados das questões. Por escrito, quase impossível, leva tempo demais, enervamo-nos quando não conseguimos que nos entendam.

Mas pronto, vou tentar explicar em termos muito simples.

Um amigo vosso tem uma empresa. Qual dos meus leitores é que tem empresas ou amigos com empresas? Qual dos meus leitores é que nunca ouviu o amigo empresário queixar-se que tem que pagar o IVA à cabeça e receber a, sabe-se lá quando, mas no mínimo a 90 dias? Qual dos meus leitores é que nunca ouviu um amigo empresário queixar-se que os clientes não pagam? E que o pagamento do IVA estrangula a tesouraria da empresa? Qual dos meus leitores é que nunca ouviu falar de empresas que vão à falência por dívidas ao fisco que não conseguem suportar?E qual dos meus leitores é que nunca ouviu falar de empresas que vão à falência por dívidas a todos, incluindo fisco e segurança social, porque não recebem dos clientes? E quando o Estado é o maior cliente e não paga atempadamente? Essas pessoas são caloteiros? Assim sem mais nem quê? Aponta-se-lhes o dedo? Afixa-se o nome na porta da igreja, quando podem ter processos a correr, reestruturações de dívidas a correr, quando a culpa pode não ser deles?

Estou a defender os caloteiros? Não. Não estou. Mas não é justo sujar o nome das pessoas assim, sem saber porque é que não pagaram. Não é justo, não é decente. E, se fôr o vosso amigo, o vosso familiar, o vosso conhecido, que vocês conhecem a história da empresa e que sabem que é um tipo honesto e que deve ao fisco e não consegue pagar por dezenas de razões, acham bem que o nome dele seja publicado?

Digam-me só assim: sim ou não.

Desculpem lá. Por muito que me custe por causa do EJM*, desta vez o João Miranda tem razão.

* sim, decidi que meto o post em draft enquanto escrevia este. E não prometo conseguir discutir isto nos comentários.

0 thoughts on “Posto, não posto…?

  1. Eufigénio

    1. No blasfémias o unico que me tem prendido a atenção é o CAA (Que até prezo bastante) que vai insistindo que co a políticia não se brinca. Então os cento e vinte e tal comentários que se seguem a cada interjeição dele são um mimo, e ai se aquilo “fede”renta

    2. Isso das listas, acho do mais básico fascismo. Disseste tudo ao principio, há leis e instituições que devem funcionar. Este levar a justiça para a rua e misturá-la com a moral dos bons costumes cheira-me a barbeiros delatores e a polícias de camisa negra

    3. Ainda assim talvez me custasse menos a concordar se á frente dessas listas estivesse o maior devedor e que tantas empresas acaba por enterrar pelo facto de ser mau pagador: o estado, e em particular as autarquias. E que nessas listas estivesse o nome e todos os elementos pessoais daqueles que respondem por tão ignobil caloteiro. Que pior que se dever algo a alguém, é o estado (esse mesmo que agora decide das listas, essa ‘pessoa’ de bem) dever algo a nós

    4. As joias da coroa era giro mas era um bocado série de gaja, eu acho

  2. catarina

    Eufigénio, o Blasfémias é um blog muito curioso. Eu farto-me de rir com aquilo, porque não tem muita lógica. É uma rapaziada esforçada, lá isso é. (essa do CAA foi de gritos!).

    Pontos 2 e 3 totalmente de acordo.

    4 Era A Jóia e não as jóias: a Jóia da Coroa era a Índia. Talvez de gaja, mas olha que não sei…devias dar-lhe outra oportunidade.

  3. Isabel

    Conheço tantos desses casos que tu falas: gente trabalhadora, séria, com a corda na garganta por todas as razões que referes.
    E eu gosto do João Miranda. Nem sempre concordo com ele, mas faz-me pensar nas coisas. O que é bom.
    Um beijinho e parabéns pelos posts
    PS- então não havia de me lembrar da Jóia da Coroa? Era uma série de culto. Absolutamente fantástica. Como é que se chamava a senhora de idade?

  4. ML

    Assim por pontos:
    Nunca vou aos Blasfémias. Sectarismo meu, assumo. As vezes que lá fui, irritei-me e achei que não ando aqui para me irritar. De qualquer modo quando há coisas interessantes alguém mas faz chegar, como tu neste caso.
    Esta história dos nomes, tem muito que se lhe diga. E também a minha opinião é que “bom julgador por si se julga” segundo o provérbio, portanto o tal devedor gigantesco (Estado e Autarquias) deveria começar por si. Contudo a verdade é que daquela lista gigantesca de 4.000 nomes o certo é que 90 % deles até conseguiram pagar. Alguma coisa estava a bloquear esse pagamento… e será agora interessante cruzar os nomes das pessoas a quem o Estado deve, com aquelas que ainda ficaram a dever. O que sairá daí?
    Por acaso conheço só “uma espécie de empresário”. É um autêntico banana que não nasceu para aquilo. mas é teimoso como um burro, porque a mulher está cansada de dizer que desista da “empresa” que lhe dá um prejuízo louco. A família vive do trabalho da mulher, porque ele SÓ trabalha para o Estado, que realmente demora mais de um ano a pagar, mas ele entretanto teve de passar recibos do que ainda não recebeu, e pagar imposto por isso… Aquilo é de doidos porque quando o dinheiro vem é par pagar o que já está atrasado. Pensava contudo que isto era um caso bizarro, mas se calhar não é.
    Quanto á série, então existe mesmo! (por acaso estranhei falares de maratona, se fosse na TV não davam tudo seguido) Já sei com que me vou entreter quando tiver as férias.

  5. Alves Fernandes (Pre para @s amig@s)

    Levado pela curiosidade que os teus posts despertaram fui lá ler. Não há muita diferença entre a opinião do tal João Miranda e do Alberto João Jardim. Não sei se por vergonha ou se por não pensar assim, o João Miranda não diz que quem não paga a bem paga a mal como disse AJJ. Mas no fundo ambos t~em o mesmo tipo de razões, umas expressas claramente e outras mais subrepticias: a culpa das listas é do comunismo e do socialismo. Não posso, claro, estar de acordo com estes pontos de vista, porque por detrás de uma visão moralizadora do sistema fiscal, outros “valores mais altos(?) se alevantam”.

  6. Mário

    Já há muito tempo que não escrevia nada aqui (leio no bloglines e só vejo excertos dos posts) mas como falaste do Brideshead tenho de deixar aqui a minha opinião. A Joia é quase tão boa como o Brideshead (está mesmo encostadinha) mas aqueles ambientes e a decadência de práticamente todos os intervenientes são insuperáveis.
    No meu top logo a seguir a estes está o Eu Cláudio!

  7. catarina

    Emiéle, é um facto, realmente parece que a lista foi bastante reduzida nos últimos dias antes de vir a público…mesmo assim sou contra. E até podem ser todos caloteiros do pior, continuo a ser contra: sou contra o princípio da coisa.
    Não me parece nada um caso bizarro, esse empresário. Acho que haverá dezenas ou centenas nas mesmas circunstâncias ou pior (eu conheço alguns).
    Quanto à série, vale mesmo a pena. :)

    Pre, como escrevi no post, concordo com a ideia geral, já os detalhes e as ideologias não me interessam. O essencial é isto: contra as listas (mesmo que sofra de EJM :))

    Mário, vou agora – nos dias próximos – rever o Bredeshead. Depois logo direi se concordo contigo ou não. :) Quanto ao Eu Cláudio, lembro-me de ser excelente, mas de pouco mais. Terei de fazer um refresh à memória, que também deve haver os dvd’s.

  8. catarina

    (desculpem, falhei ali duas pessoas! Que coisa!)

    Isabel, a senhora de idade, imagino que te estejas a referir à missionária (Peggy Ashcroft): Miss Bachelor, nome genial. Quanto ao resto, também gostei muito do teu post e também me angustia pensar nesses casos.

    Isa,´obrigada. :)

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