Um (rascunho de) chá nocturno
Não sei (já não sei e nem sei se é boa ideia) escrever um chá nocturno, quando a chávena é copo e o chá gelado, mas é verão e passou muito tempo sobre os chás nocturnos e já não trago em mim senão uma memória de melancolia e não é coisa simples agarrar na memória e espremê-la para dentro de um texto, é tão mais fácil escrever bem quando a tristeza escorre dos dedos, mesmo quando os cortamos para não escrever mais. E depois, quando se espreme uma memória bem espremida, encontram-se caroços (estão sempre lá, não os conseguimos nunca cuspir todos) e quase engasgam até nos lembrarmos que é apenas uma memória para efeitos literários. Não, não sei se é boa ideia regressar aos locais que deixámos de vez na sua imperfeição eterna, mas de que outra forma se pode redimir essa memória?
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Não, amiga. «Quando a tristeza escorre dos dedos» é muito mais difícil, senão impossível, escrever.
Escrever, porque é sempre um acto de criação, é e será sempre uma erupção de alegria.
(E, por outro lado ou pelo mesmo, se alguém que está triste não escrevesse, mais triste ficaria.)
Abraço.
As memórias terão que se redimir (ou não) por si próprias, porque o nosso tempo é diferente daquele em que se encontram.
😉
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Discordo, António. É muito fácil escrever com a tristeza a escorrer dos dedos, é só passá-la para imagens escritas. E um acto de criação pode ser alegria ou terrível angústia. (mas sim, com a última frase concordo em absoluto).
És capaz de ter razão, mas se servirem para posts melhor, OldMan.
. para ti também, Alfredo, e beijinhos.