Cauterização
Quando cortei as pontas dos dedos, começaram a sair palavras.
Rios de palavras, todas as palavras que tinha. Posso dizer que me ia esvaindo em palavras.
Para estancar as feridas, coloquei as pontas (ou as partes seguintes, pois as pontas tinham ido para o lixo) em cima de um ferro em brasa.
Desmaiei.
E quando acordei, as palavras tinham deixado de correr e as feridas estavam coladas.
(TrAmo-te, Out. 2003)
- Com que então…!
- Estreia absoluta
Promete-me que cortas de novo, pelo menos a cabeça do dedo mindinho, para eu continuar a ler as palavras que brotam.
É… a escrita pode ser vermelha de sangue.
Independentemente de haver feridas que é preciso cauterizar, isso não deve impedir que outros rios brotem de outros locais e corram em forma de palavras. As tuas palavras acompanham muita gente.