O som do desencontro
Nos dias de tempestade há um som para além daquele que as árvores fazem quando estão fartas de estar no mesmo sítio e estendem ramos e folhas até ao limite da quebra ou para além dele. É um som com vários tons, aquele surdo que se sente como os cães sentem quando o inimigo está ao virar da esquina, como o que se sente nos ossos quando a terra treme, como o que se sente no estômago antes ainda de levar um murro, o som da antecipação inevitável.
Depois há outro tom misturado e é esse que me intriga. É um tom metálico, como se alguma coisa muito pesada e lenta estivesse de alguma forma a mover-se e isso lhe custasse. E eu, que sei perfeitamente que som é este, tento distinguir essa parte e nunca consigo porque o vento nas árvores o esmorece e imagino que é de propósito para eu não saber.
Porque quem vive perto do mar, sabe perfeitamente que som é este, não tem nada de magia ou mistério, são só ondas, nada de estranho, nada de extraordinário. Só ondas e, no entanto, cada vez que oiço aquela nota, sonho que lá no fundo os barcos afundados estendem pedaços partidos aos ramos das árvores em terra.
- Um barco afundado em terra
- Todas eu nós
Nem acredito! Esta moça deu-me vontade de fazer um novo blogue!
[EDITE: dito e (quase) feito]
Olá Vitor! Espero por esse blog!
(Fiz aqui umas asneiras e perdi o post onde comentaste. falta de prática…mas logo o recupero. )
No fundo do mar há paz, independentemente das tempestades superficiais…
Great post.
O som do desencontro possui um tom metálico que te intriga…
Sabes que som é esse. Mas, ao tentares, em vão, distinguir o tom que te intriga, atribuis as culpas ao vento que, de propósito, abanando as árvores, o esmorece…
Sabes que som é esse, um som liberto de magia ou mistério, de estranheza ou algo de extraordinário. No entanto, ao ouvires o tom metálico, sonhas, atribuindo às ondas o lançamento de pedaços dos barcos afundados para os ramos das árvores.
No teu sonhar, sentindo esse tom metálico, provocado pelo vento que abana as árvores com pedaços dos barcos ou pelas ondas que lançam esses pedaços, deverias desfazer essa intriga…
O tempo não descansa, continua voando, cada vez mais veloz.
À medida que o tempo passa, a miragem interior, lentamente, vai-se transformando em realidade.
O teu interior não necessita de muros à sua volta. Deixa que a beleza extravase. Abandona a irritação, desbloqueia esse tom metálico, habitua-te a senti-lo. Transforma esse som em encontro.