100nada

Trovoadas

Não sei porque é que gosto tanto mas lembro-me dos primeiros quandos.
Nós tínhamos uma casa na ilha. Era nossa, de todos, quando somos pequenos as nossas casas são nossas mesmo e
(não vou escrever sobre a casa agora, mas hei-de, porque era uma casa e uma rotunda e areia ali mesmo e mesas dentro de água e a baía, quase na ponta da ilha e é uma memória – nossa – importante)
é nesse quando e nesse onde que me lembro das (primeiras?) trovoadas, as mais bonitas da minha vida, no meio de um calor tremendo, da humidade que escorria por nós (não me lembro de me incomodar com isso, não devia ter idade para esses detalhes interferirem com o meu mundo), as trovoadas sobre a baía. Tudo coberto de relâmpagos, uma visão brutal e uma sensação incrível de – na altura eu não sabia o que era – natureza cruamente pura. Passavam muito depressa, depressa demais, mas se calhar (penso eu agora) é assim que deve ser uma trovoada perfeita, uma explosão de raios, trovões que se ouvem até aos ossos e depois passar de repente e deixar-nos exaustos, ainda com tudo a rodar na memória imediata.
Uma trovoada perfeita é essa: a que continua dentro. Às vezes o resto da vida, como as minhas.

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