100nada

Semáforo de uma cor qualquer

Começam a cair gotas e concluo que alguém resolveu lavar o pó do vidro, mas depois caem no lado aberto da janela. Meia dúzia de gotas, uma chuva entre dois semáforos e desconfio que foi só para mim, porque não vejo mais ninguém estender o braço, a mão, para confirmar que se trata realmente de um aguaceiro momentâneo, quase secreto. Pára antes que confirme, evapora-se e penso será que sonhei? A palma da mão seca, esticada do lado de fora da janela, ainda fico sem braço, esta mania de fazer o filme de horror, agora passa uma moto a abrir e arranca-me um pedaço até ao cotovelo, fico aqui a olhar para o resto sem acreditar, como se fossem gotas de chuva, lascas de osso e outras sobras, uma mão de unhas azuis a menos e nem as pintei de fresco nem nada.

Não vejo o semáforo, tenho uma betoneira à frente, chateia-me ter coisas altas à frente e não ver nada, estou a lançar granadas mentais a ver se explode, isso do poder do cérebro que lá está em potencial, dezenas de pontos percentuais não usados, nada, nem uma merda de uma betoneira consegue arrancar da frente, nem uma mísera onda septimus, qualquer coisa que me permita ver a porra do semáforo e nisto esqueço-me e passo sem saber de que cor é

e daí que não há cor no semáforo de hoje.

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