“Péra lá que não trouxe os óculos!” (o natal dos amigos)
Por várias razões, já não ia há uns anos mas este ano recomecei. Recomecei muita coisa -todas boas – e uma das importantes era esta, regressar ao natal dos amigos. Continuo a dizer “os amigos de há 20 anos” mas feitas bem as contas, já são “os amigos de há 30 anos”, alguns deles. Outros menos tempo, outros nem tinha conhecido ainda, outros não estavam, outros, tal como eu noutros anos, faltaram.
Comemos e rimos e bebemos e demos abraços e conversámos e está tudo na mesma e é como se tivéssemos jantado na véspera, já nos conhecemos tão bem, mesmo aos que conhecemos menos bem. Trinta anos é uma vida, vinte também são muitos, é muita memória, muita história. Quando estamos, contamos as que os outros nunca ouviram, ou ouviram cinquenta vezes e rimo-nos sempre imenso. E as pessoas das histórias, nas memórias de todos, naquela memória colectiva daqueles amigos, mesmo quando não estão, existem algures, só não vieram. Foi assim que me senti ontem, entre os que conhecia menos bem, sabendo deles e eles, provavelmente, de mim. Foi uma noite feliz, de Natal, de gente tão chegada, que nos conhece tão bem, é isso: amizade para sempre.
E está tudo na mesma, repito. O tempo passa por nós muito depressa, entre os 30 e os 40 anos, depois passa devagarinho e deixa algumas marcas, mas muito menos. Temo que a queda seja depois, mas muito mais tarde; aguardemos serenamente pela algália e fralda. Agora uma coisa que o tempo não perdoa, é esta: entre os presentes e as coisas que se mostram e o deixa cá ver isso e o mostra a fotografia, o gesto do afasta, estica a cabeça, franze a testa: a frase mais ouvida da noite foi
– “Péra lá que não trouxe os óculos!”
- Hábitos antigos
- Uma questão de semântica
Olá
Hoje passei por aqui e li este texto de gostei como sempre. Só não posso deixar de fazer um comentário sobre o passar do tempo. “O tempo passa por nós muito depressa, entre os 30 e os 40 anos, depois passa devagarinho” – Não, não, vais ver que depois ainda passa mais depressa! O passar do tempo é uma função exponencial (i.é. a variável independente é a nosso tempo(idade)e a dependente é o tempo que se sente a passar. Quanto mais se anda na idade mais depressa passa o tempo na nossa perceção.
Quanto às marcas acho que são as da última decada antes da nossa idade atual. Se eu ainda cá andar daqui a 10 anos vais contar-me! Bjis
Eu explico porquê: O 2º ano de vida leva montes de tempo a passar pois ele representa 50% da toda a nossa vida (quando termina), o 20º ano de vida já só é 1/20 da nossa existência.
É por isso que quase não damos pela passagem do 60º ano de vida…
O Manoel de Oliveira que diga…
M, eu tb acho que o tempo passa cada vez mais depressa. O devagarinho era a passar por nós e a deixar marcas. E sim, são essas, pois tá claro! Beijos (e até daqui a uns dias :))